Lindbergh Farias projeta PT na região e dá nota 9 a Lula
Aluysio Abreu Barbosa, Rodrigo Gonçalves, Cláudio Nogueira e Matheus Berriel - Atualizado em 19/04/2023 09:38
Deputado Lindbergh Farias
Deputado Lindbergh Farias / Divulgação
“A gente está vivendo uma virada no quadro político nacional. Depois da vitória do partido, do Lula, é natural que o PT cresça”. É com essa projeção e dando uma nota 9 ao governo do presidente da República, até o momento, que o deputado federal Lindbergh Farias quer fazer do cenário petista favorável um campo a ser explorado por nomes de Campos. Entusiasta de uma possível candidatura do reitor do IFF, Jefferson Manhães de Azevedo, à Prefeitura, Lindbergh espera ver na Câmara a eleição de três vereadores do PT. Liderança do partido com papel relevante no governo Lula 3, o deputado participou do Folha no Ar, da Folha FM 98,3, dessa terça-feira (18), quando avaliou o trâmite no Congresso do projeto do novo arcabouço fiscal do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, bem como a proposta de reforma tributária, iniciativas comuns e apontadas como fundamentais à retomada da economia no país. “Eu acho que tem uma armadilha que deixaram para o Lula, tem uma nova herança maldita. O Bolsonaro fez toda essa farra fiscal, gastou o que quis no ano da eleição”, disse, analisando os emblemáticos 100 primeiros dias do terceiro governo de Lula e ainda declarações polêmicas do presidente após viagem à China.
Recursos para a região — Já fui senador e tive contato com a região. Só em Campos, a gente colocou recursos para expansão do IFF, recurso para o Restaurante Universitário da Uenf; também colocamos para a UFF, e mandamos R$ 1 milhão para equipamentos de estruturação das unidades básicas de saúde. Mandamos também para o IFF de Bom Jesus. Em Carapebu,s a gente colocou emenda; em Cardoso Moreira, colocamos R$ 350 mil para a saúde pública da cidade... Em Macaé há outras coisas, Quissamã... Então, agora como deputado federal, eu quero continuar. Você sabe que o deputado federal, do ponto de vista da atuação parlamentar, pode ajudar ainda mais, porque aumentou muito o peso de distribuição de emendas por parte dos parlamentares. Foi feito aquele orçamento secreto, e ainda bem que o Supremo acabou com o orçamento secreto (...) Hoje um deputado tem algo de em torno de R$ 50 milhões para investir no estado do Rio de Janeiro. Eu posso garantir a vocês de Campos, do Norte e Noroeste Fluminense como um todo, que nós vamos usar essas emendas para investimentos em educação e saúde.

Reforma tributária — A reforma tributária é indispensável para o país. O Haddad (Fernando Haddad, ministro da Fazenda) decidiu fazer uma fase um e uma fase dois. A fase um é sobre a tributação no consumo, e a fase dois, que eu considero mais importante, é a tributação sobre renda e patrimônio. Porque o Brasil tem um dos sistemas tributários mais desiguais do mundo. Aqui, classe média-baixa e trabalhador, o povo, pagam muito imposto, e os muito ricos, infelizmente, pagam menos impostos (...) A primeira etapa da reforma é muito positiva, porque vai simplificar muito o sistema tributário. Vai facilitar. Hoje, é uma luta para qualquer empresário aqui no Brasil investir. É um emaranhado de tributos municipais, estaduais, federais. E eu acho que vai trazer alguma justiça também federativa, vai beneficiar principalmente os municípios com o maior número de habitantes, municípios mais pobres. Então, eu acho que é fundamental ter as duas etapas. Eu sei que vai ter reação maior do Congresso na segunda etapa, porque, infelizmente, nesse Congresso Nacional existem forças, lobbies muito grandes quando a gente vai falar em uma tributação mais justa, tributar mais um muito rico, tributar mais propriedade, renda (...) Quanto ao arcabouço, nós estamos numa expectativa. Vai ser muito importante. Vocês têm visto a nossa luta contra a taxa de juros. Eu não consigo entender por que o Brasil tem a maior taxa de juros do mundo: 8.5% de juros reais, 13.75. Essa inflação que está aí não é demanda. Esse Roberto Campos Neto foi indicado pelo Bolsonaro. Eu, sinceramente, acho que ele age para sabotar o governo do presidente Lula, porque a economia está parando.

Herança — Eu acho que tem uma armadilha que deixaram para o Lula, tem uma nova herança maldita que deixaram para o Lula. O Bolsonaro fez toda essa farra fiscal, gastou o que quis no ano da eleição; a economia cresceu 2.9%; mas, se você for ver, esses 2.7% foram da seguinte forma: cresceu 1.3% no primeiro trimestre do ano passado, 0.9% no segundo trimestre do ano passado; 0.3% no terceiro trimestre do ano passado; e, no último trimestre, antes de Lula assumir, foi -0.2%. Então, deixaram a economia caindo. E o Lula assume nessas circunstâncias. Aí, tem um Banco Central autônomo, presidido por esse Roberto Campos Neto, que deixa a taxa de juros lá em cima. Como é que a gente pode querer investimento privado numa situação como essa? Tem muitas empresas quebrando, em recuperação judicial, porque pegou juros quando a taxa Selic era 2% e agora está em 13,75%. Estão quebrando! Qual é o empresário que vai investir, se ele pode ganhar em títulos da dívida pública, 8% ao ano? Então, eu diria que a armadilha que montaram para o governo Lula é uma armadilha muito séria. Além da vontade do Lula, nós vamos ter que ter muita sabedoria para sair disso (...) É um momento delicado, porque o que esse Roberto Campos está fazendo é puxar o freio de mão da economia. Eu diria que a grande tarefa nossa é, com sabedoria, desamarrar esses nós, fugir dessas armadilhas, colocar o país na rota do crescimento, da geração de empregos e da distribuição de renda. Foi isso que o Lula fez nos seus governos. As pessoas lembram do Lula por isso. A vida melhorou, tinha mais emprego. Só que dessa vez nós temos desafios maiores, porque, volto a dizer, deixaram uma armadilha para o Lula.

Expectativa pelo arcabouço — Eu acho que vai ser aprovado o arcabouço. A nossa preocupação aqui é outra também. Nós somos PT, somos base do governo. Mas, nós queremos também fazer sugestões, porque, volto a dizer, o fundamental para esse período, para o governo Lula dar certo, é a economia crescer, gerar empregos, distribuição de renda. Se a gente tiver a economia estagnada, sem crescimento, sem geração de empregos, aí a situação fica mais complicada para a gente. Eu volto a dizer: eles deixaram uma armadilha pronta. O que se faz em momentos de desaceleração econômica como esse? Às vezes é necessário ampliar investimentos: investir em obras públicas, em educação, em saúde (...) Quem é de esquerda, quem é de direita, todo mundo concorda de dizer que o investimento em infraestrutura é algo que estrutura, que é importante. Eu sou da tese de que o investimento tinha que estar fora do teto, porque, se a gente desacelera muito a economia muito, a gente vai precisar justamente desse investimento para jogar a economia para frente. Então, nós estamos na expectativa do arcabouço (...) A gente quer dialogar, contribuir. Vamos conversar com o Haddad. O que o Lula quer também, o que a gente quer também, é crescimento econômico. Então a gente tem que ter cuidado para não ser um arcabouço que aperte demais e dificulte a nossa capacidade de investimento nesse próximo período.

PT em Campos para 2024 — A gente está vivendo uma virada no quadro político nacional. Eu mesmo fui eleito prefeito em Nova Iguaçu, lá atrás, quando o Lula assumiu a presidência. Lula ganhou a eleição em 2002, virou presidente em 2003, e eu ganhei a eleição em 2004. Geralmente isso acontece. Depois da vitória do partido, do Lula, é natural que o PT cresça. A gente enfrentou um período muito difícil. Foi um período de ascensão do bolsonarismo, todos aqueles episódios contra Dilma, contra o Lula. E agora é o momento de a gente crescer. Eu quero, inclusive, anunciar para vocês que o Gilberto Gomes é a pessoa que vai tocar o meu mandato de deputado federal em Campos. Como falei, quero colocar emendas, quero ajudar o município, a região, e é fundamental a gente ter uma pessoa no lugar nos representando. Nós vamos ter o nosso gabinete aí, e quem vai estar à frente é o Gilberto. Nós queremos eleger no mínimo três vereadores em Campos, porque a gente acha que há possibilidades a partir desse novo quadro. O Gilberto, inclusive, é um candidato nosso. A Odisseia é outra candidata. Nós temos uma liderança muito importante, que é o Zé Maria, que foi o candidato nosso que teve a maior votação para vereador, mas a gente não fez legenda na eleição anterior. Mas, Zé Maria disse que não é candidato, vai trabalhar na Petrobras, todo mundo sabe que ele é da FUP, mas é um excelente quadro.

Possível nome a prefeito — Eu conheço o Jefferson Manhães desde que fui eleito senador, porque ele já era reitor no instituto federal. Eu sempre fiquei impressionado com a capacidade dele de sonhar, de fazer as coisas, de entregar resultado, de olhar para essa juventude com esperança, O que ele fez no trabalho no IFF tem capacidade de gestão. É claro que a decisão política é do Lula. Mas, se tem esses institutos federais espalhados aí na região, é muito pela liderança do Jefferson, por todo mundo saber a qualidade do seu trabalho. Eu sou admirador do Jefferson também pela sua capacidade política. Sinceramente, eu acho que seria muito bom, não só para o PT, mas para Campos, ter uma candidatura como a do Jefferson. Ia puxar o debate para um nível muito alto e apresentar projetos, propostas. Então, eu sou um entusiasta da candidatura do Jefferson. Eu acho que uma candidatura dele, pode ganhar. E não ganhando, porque campanha tem isso, você tem o atual prefeito, e aí ele deixa um caminho formado para o futuro. Não ganhando, ele pode ser deputado e volta para ser prefeito. Eu acho que o destino dele é ser prefeito de Campos. E eu tenho uma certeza: se Jefferson fosse prefeito de Campos, pelo que eu conheço dele, ia fazer uma revolução nessa cidade. Ia fazer políticas estruturantes, ia pensar em organizar o futuro dessa nossa juventude. Sou entusiasta, eu sou uma das pessoas que falam disso há muito tempo. Quando ninguém falava, eu falava dessa possibilidade de Jefferson ser candidato a prefeito. Isso potencializa a nossa chapa de vereadores, potencializa a construção de uma alternativa real, porque eu sei que em Campos tem muita gente cansada daquela mesma política que está aí. Eu acho que Jefferson poderia ser uma alternativa para essas pessoas.

Mais nomes na disputa — Falando do PT e da nominata, eu acho que agora nós vamos ter um novo momento. O Lula é o presidente da República, o PT é o partido do presidente da República. Se a gente consegue com que Jefferson seja candidato (a prefeito de Campos), se ele toma essa decisão, porque não tomou ainda, isso ajuda muito. Aí é um trabalho um pouco de costurar, de chamar pessoas para a chapa (...) para que a gente tenha uma chapa com os nomes mais fortes, nomes médios e nomes que tenham pouca chance, mas podem querer ser candidatas para começar uma trajetória e ajudar a legenda. Essa construção é muito importante para que a gente tenha êxito.

Nota para os 100 dias — Eu acho que o Lula começou muito bem. Primeiro que ele começa enfrentando uma crise. No dia 8 de janeiro, aqueles malucos, essa turma bolsonarista que defende golpe... Não adianta eles inventarem história, a gente sabe que foram eles. Tentaram um golpe de Estado, depredaram o Supremo Tribunal Federal, o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional. Lula já entra com isso. Chamou todos os governadores. É uma cena incrível aquela dele com os governadores, com os ministros do Supremo, atravessando a Praça dos Três Poderes, saindo do Palácio do Planalto, indo para o Supremo Tribunal Federal. A primeira luta foi essa, e não é uma luta qualquer. A segunda é a reconstrução das políticas públicas. Tudo está destruído. Eu tenho visto aqui ministérios inteiros em que o ministro entra e diz: “Gente, nós vamos ter que reconstruir o ministério”. Foi um governo Bolsonaro de destruição nacional. A primeira fase do governo do Lula é voltar com políticas estruturantes nossas. E a gente voltou! Eu acho que as pessoas começam a sentir um pouco isso no seu dia a dia. Agora, estamos partindo para programas muito importantes: o Desenrola. Nós temos hoje uma quantidade enorme de brasileiros endividados (...) O Lula está querendo retomar a indústria naval, que gerou muitos empregos aqui no RJ. Fazer com que a Petrobras volte a investir. Então, você vê o espírito dele (...) Eu acho que o Lula está muito bem pessoalmente, com muita vontade de fazer coisas. Eu acho que isso é muito importante. E a gente quando vê o passado do presidente Lula, o Lula acabou com o segundo mandato com 87% de avaliação positiva. Isso foi feito principalmente com resultados concretos em cima da vida do povo (..). Eu diria que o grande desafio do governo é retomar o crescimento, a geração de empregos. Esse é o desafio, porque, como eu falei, aqui tem uma armadilha (...) É uma reconstrução, depois de tudo o que aconteceu. E eu acho que o Lula começa muito bem. Nota nove! Para alguém não dizer que dei nota 10, dou nota nove.

Declarações polêmicas — Com um presidente do tamanho do Lula, hoje, a gente quer ter relação com tudo mundo. Não é uma política de alinhamento total aos Estados Unidos. Em relação ao dólar, o Lula está mais do que certo. É claro que tem reação dos Estados Unidos, mas o Lula está mais do que certo. Nós podemos ter trocas comerciais em outras moedas. Por que tudo no dólar? Eu acho que isso é bom para o mundo. É claro que a gente sabe que ter reação dos Estados Unidos aqui perto sempre causa preocupações. Inclusive, não teve um golpe na América Latina sem participação dos Estados Unidos. Então, esse é o primeiro ponto (...) A outra coisa é o seguinte: a gente que conhece história sabe que os Estados Unidos, ao longo desse último período, fomentaram guerra no Afeganistão, a gente viu a Guerra do Iraque... Eu acho que o Lula tenta trilhar um caminho que é o caminho correto: de tentar costurar uma paz, que é difícil, nesse processo todo, e tentar achar uma brecha pra colocar um discurso de paz, juntar alguns países para isso. E é claro que os Estados Unidos têm uma indústria bélica que tem um peso muito grande na sua economia. Os Estados Unidos alimentam, de certa forma, essa guerra com a Ucrânia. Se você perguntar para mim, talvez o Lula não precisasse ter falado. Eu acho isso. Mas, talvez o Lula lá pudesse ter ido pela positiva. Talvez não precisasse ter falado dos Estados Unidos, da União Europeia... Fosse um pouco mais diplomático. Mas, a verdade é que os Estados Unidos têm uma indústria bélica que é decisiva ali, que precisa de guerras, querem vender armamentos. Eu não vejo os EUA lutando pela paz na Ucrânia com a Rússia. Eles gostam daquele tensionamento ali. Então, creio que o sentido da fala do Lula é correto. Talvez, diplomaticamente, ele não devesse ter dito aquilo, porque gera onda de reação. Claro, quando a gente olha a história do Brasil com os Estados Unidos, a gente fica preocupado (...)Eu falo isso porque eu tenho muita preocupação com ruídos aqui com os Estados Unidos. Então, talvez o Lula tivesse sido mais cauteloso ali. Mas, o sentido da afirmação dele, eu não discordo. Pelo contrário, eu concordo.

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