O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, participou, na tarde desta segunda-feira (14), da cerimônia de entrega do novo prédio da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Campos. O evento, que acontece no pátio da unidade, contou com a participação do ministro da Educação, Camilo Santana, do prefeito de Campos, Wladimir Garotinho, entre outras autoridades, como deputados federais. Assim que começou o seu discurso, o presidente Lula disse que a vida é um sonho, onde a educação é fundamental: "Eu digo sempre que toda a minha obsessão pela educação é porque eu não tive a sorte de estudar".

Lula destacou que as salas de aula são locais de sonhos, onde jovens buscam melhorar suas vidas e alcançar melhores empregos. Lula também falou da sua história, da falta de  estudo, defendendo que todos, independentemente de sua origem, possam ter o direito de competir por oportunidades educacionais iguais.

Ao falar dos investimentos em educação, Lula afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro governou para "provocar a boa fé do nosso povo". "Procurem a história de Campos e a história do Rio de Janeiro e veja quais foram os últimos presidentes que investiram em educação. Não precisa eu ficar falando quem, analise quantas escolas foram feitas no mandato que terminou outro dia atrás. Quantos Institutos Federais, quantas universidades foram feitas. Vocês vão perceber que tem gente que passou por esse país governando só pra contar mentira e só pra provocar a boa fé do nosso povo", disse.

O presidente destacou que as obras para conclusão do novo campus da UFF fizeram as divergências políticas ficarem de lado e se referiu ao prefeito de Campos, Wladimir Garotinho, que apoiou o ex-presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2022 e liderou o movimento pela liberação de emendas parlamentares para as obras do novo prédio. "Quando a gente está numa atividade institucional, não fica colocando divergência política do lado. Estou aqui porque sou o presidente e ele (Wladimir Garotinho) está aqui porque é prefeito. Quando chegar a época das eleições, a gente vai colocar o que pensa dos outros na rua, mas aqui não. Aqui a gente tem que se dar perfeitamente bem", falou.

"Vou pedir para vocês um pouco de paciência porque eu não vou falar tanto, mas vou contar umas histórias para vocês. Na verdade, a vida da gente é um sonho. A gente nasce e só para de sonhar quando a gente morre. A gente sonha com tudo que a gente deseja na vida. E quando eu venho visitar um prédio desse, que vai servir de sala de aula para milhares de jovens estudarem aqui para frente, eu não poderia dizer outra coisa, senão que a sala de aula, do ensino fundamental, do ensino médio, do instituto e da universidade, não deixa de ser uma sala de sonhos. É ali que a gente sonha em aprender. Ali que a gente sonha em melhorar a vida da nossa família. É ali que a gente sonha em arrumar um emprego melhor", disse o presidente. 

Lula falou sobre o seu empenho enquanto presidente em criar oportunidades, destacando o desejo de ver "o filho de uma pessoa que cata lixo na rua estudando com o filho da pessoa mais rica da cidade".

"E nós precisamos criar condições para que as pessoas possam ter um emprego, pelo estudo que eles fizerem, ganhar um pouco melhor e cuidar da sua família. É esse o meu sonho. E eu digo sempre que toda a minha obsessão pela educação é porque eu não tive a sorte de estudar. Não tive condições. Então eu acho que todo filho de trabalhador, acho que todo filho da pessoa mais humilde, daquele que cata papel na rua, daquele que dorme na trajeto, o filho dele tem direito de disputar uma vaga na universidade com o filho da pessoa mais rico da cidade".

Saudando as autoridades que fizeram parte da mesa na inauguração desta segunda-feira (14), a diretora da UFF, Ana Costa, agradeceu sobre a conquista, que ressaltou ser coletiva e histórica.

“Hoje é dia de celebrar, agradecer e afirmar esta conquista que é coletiva, que é histórica. Em Campos dos Goytacazes, a UFF teve início em 1962 com o curso de serviço social pela iniciativa de duas importantes assistentes sociais, a assistente social Heloísa Paixão, cuja memória referenciamos, e Conceição Muniz, que muito nos honra com a presença nessa solenidade. Você é uma inspiração (…) Hoje saímos dos contêineres. Renovamos nossos sonhos ao receber esses dois importantes prédios, presidente”, disse Ana, que fez o agradecimento tanto ao Governo Federal quanto a Prefeitura de Campos, aos parlamentares, professores, estudantes e trabalhadores das obras da universidade.

 

Em seu discurso, o prefeito Wladimir Garotinho destacou a importância da UFF para Campos e o esforço coletivo para a conclusão da obra. O prefeito chegou a ser vaiado pelo público e respondeu as vaias com beijos e gesto de coração com as mãos.

“Lá em 2005, um conterrâneo nosso, Chico D’Ângelo, que não está aqui, mas que eu queria fazer questão de citar o nome, conseguiu a cessão do terreno da rede ferroviária para a UFF. A obra iniciou e paralisou. Em 2018, me elegi deputado federal e em 2019, junto do Chico D’Ângelo, da Talíria (Petrone), que está aqui presente e de tantos outros deputados, lideramos o movimento de uma emenda de bancada que pudesse transformar esse sonho em realidade. E hoje eu fico muito feliz de ter conseguido como deputado, porque eu fui o proponente da emenda de bancada”, disse.

“Eu quero dizer, presidente, que é a primeira vez que um presidente da República visita a Universidade Federal Fluminense, o que é triste por um lado, para nós, é motivo de muito orgulho. Faz 65 anos esse ano e é a primeira vez que um presidente está aqui. Isso não é apenas simbólico, isso é concreto, porque se transfigura em espaço de aprendizado”, explica o reitor da UFF, Antonio Claudio da Nóbrega, que também reconheceu o papel dos parlamentares da época para a articulação do projeto, como Wladimir Garotinho, Chico D’Ângelo e Paulo Bernardo, que atuava como ministro.

Ainda durante o seu discurso, Wladimir aproveitou o momento para fazer dois pedidos ao presidente Lula, um relacionado ao projeto de lei que torna o clima da região Norte e Noroeste Fluminense em semiárido e outro ao PAC para renovação da frota do transporte público.

“O município de Campos teve aprovado no PAC o maior projeto de renovação de frota do Brasil, R$ 540 milhões. Não foi retirado e nem acrescentado nenhuma vírgula do nosso projeto. Porém, as condições que a Caixa nos oferece são impossíveis para a Prefeitura pagar o financiamento. Então, fica o pedido que se possível a Caixa flexibilize para que a Prefeitura possa fazer esse investimento para melhorar nossa cidade. O segundo pedido, em nome dos 22 municípios aqui da nossa região, nós temos um projeto de lei tramitando no Senado federal. Já está pronto para ir. A pauta de votação foi aprovada por unanimidade em todas as comissões do Senado. Eu já conversei com o deputado Lindbergh, já conversei com meu amigo, o secretário nacional André Ceciliano, e queria pedir o seu apoio, o apoio de vossa excelência, para que esse projeto seja aprovado”, disse.

Uma reivindicação antiga dos estudantes da UFF, o Restaurante Universitário deve se tornar realidade. Foi o que prometeu o ministro da Educação, Camilo Santana. "Antes de cumprimentar as autoridades, quero dar uma notícia boa aos estudantes. Recebi a informação que a maior reivindicação é o Restaurante Universitário aqui do campus. Pois bem, o presidente aqui autorizou e nós vamos autorizar o restaurante universitário aqui nesse campus", revelou.

Segundo Camilo Santana, também foram assinados documentos para autorizar a construção de uma quadra poliesportiva com palco cultural multiuso no novo campus da UFF.

Depois da cerimônia, Wladimir falou com a imprensa sobre a situação do PAC, dizendo que o presidente explicou que é uma regra da Secretaria do Tesouro Nacional e que ele tentaria flexibilizar o modelo de financiamento. Além disso, o prefeito de Campos ressaltou que "nunca deixaria de ir" na inauguração e que é uma questão institucional, afirmando ainda que o presidente pediu o telefone pessoal dele para contato sobre algo em relação ao Rio de Janeiro. Porém, segundo Wladimir, ainda não há informação sobre o que de fato seria a conversa.

"Eu nunca deixaria de vir. Isso é uma questão institucional. Ele é o presidente da República, eu sou o prefeito da cidade. Eu sempre me posicionei desta forma com qualquer autoridade que veio a cidade, seja de governo, de direita ou de esquerda. Eu sou o prefeito. As pessoas precisam do meu bom relacionamento com o presidente da República, com com o governador do estado e fui surpreendido no final ali porque Lula pediu para eu anotar o meu telefone pessoal, eu apoio nas costas dele e escrevi meu número. Ele falou: “eu vou te ligar, preciso conversar um assunto sobre o Rio de Janeiro com você”, não sei o que é, fui surpreendido, meu telefone tá no bolso dele, vamos ver o que que é (...) Eu estou aqui para fazer o bem do povo de Campos e o que vier de benefício eu vou aplaudir de pé”, explica Wladimir.

Sobre as manifestações e vaias dos militantes do PT e apoiadores do presidente presentes no local na entrada do prefeito de Campos durante a cerimônia, Wladimir Garotinho afirmou que já estava preparado para a situação e que quem é da política já está acostumado com esse tipo de recepção, além de falar sobre as manifestações serem legítimas e válidas. 

"Isso é normal, a gente que é da política está acostumado. O presidente Lula fez 100.000 votos para presidente em Campos, o candidato do PT fez 12. Os eleitores de Lula também votaram em mim para prefeito. Então, aqui a gente tem um grupo de militantes muito ativo, a gente entende isso, faz parte, mas eu já vim programado esperando que isso acontecesse. Então também estou com o coração em paz, não tem problema nenhum, não tem mágoa nenhuma, a gente que é da política entende como funciona. Aconteceu também quando o Bolsonaro veio, teve manifestação a favor e contra. É da democracia. A gente a gente só fica chateado quando foge do respeito, parte pra agressão, que não é o caso aqui, as manifestações são legítimas e são válidas, a gente tá acostumado com isso", disse. 

Lula desembarcou em Campos na tarde desta segunda no Aeroporto Bartolomeu Lisandro, em Guarus. O chamado Aerolula, o avião presidencial Airbus A319CJ pousou por volta das 15h38. A comitiva presidencial seguiu para o Centro, onde Lula inaugurou oficialmente o novo prédio da Universidade Federal Fluminense (UFF) em Campos, na Rua Santiago Carvalhido, n°80. 

Além de inaugurar as obras da UFF, o presidente Lula anunciou novos investimentos para a educação no estado. Entre eles, a publicação de edital de chamada pública para oferta da Rede Nacional de Cursinhos Populares (CPOP), em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O programa vai apoiar cursinhos de todo o Brasil, além de promover o pagamento de R$ 200 mensais para alunos que desejam ingressar no ensino superior pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e vestibulares.

Segundo o governo federal, os recursos do governo federal nas novas instalações da UFF somam R$ 72,4 milhões. O novo campus é composto pelos blocos A e B, com sete andares cada um. O bloco A chegou a ser inaugurado em dezembro de 2023. São 36 salas de aula, 28 gabinetes de professores, 11 laboratórios, uma biblioteca, um auditório, diretórios acadêmicos e administração. Os prédios têm, ainda, elevadores e escadas de incêndio.

A construção, nas imediações da XV de Novembro, foi iniciada em 2012. A retomada e conclusão da obra contou com apoio suprapartidário no Congresso Nacional. Atual prefeito de Campos, Wladmir Garotinho (PP) era deputado federal e capitaneou o movimento. Para que a obra avançasse, a universidade chegou a ser contemplada por emendas de bancada de deputados federais. Uma no valor de R$ 20 milhões para a conclusão do primeiro bloco e mais R$ 18 milhões para o segundo prédio. Para conseguir a verba necessária, a emenda foi articulada por um esforço suprapartidário de coleta de assinaturas de 15 deputados federais do estado do Rio de Janeiro.