POR ROSINHA BALDAN, NO BLOG DIJAOJINHA EM 2014:
Há quase 20 anos, assisti num programa de TV Pedro Bial entrevistando o escritor João Ubaldo Ribeiro.
Impressionada fiquei com seu depoimento. Falava ele do sofrimento relacionado à dependência ao álcool e ao cigarro, e de sua compulsividade.
João Ubaldo quase chorava e me emocionou. Chorei!
Inesquecível seu relato dizendo que certa noite, não conseguindo dormir, por estar alcoolizado, cheio de culpa, e, se sentindo pior, pois tentava parar com tudo, sem êxito, dirigiu-se então a uma lixeira à cata de algum resto de cigarro.
Em 1998 me mudei para os Estados Unidos, influenciada pelo meu filho.
Já havia parado de beber há 2 anos, mas o cigarro era minha muleta.
Meu filho me intimou a também parar de fumar. Então, ainda no aeroporto, me desfiz da carteira de cigarro e do isqueiro.
De lá saindo, pedi que me levasse a uma farmácia para comprar adesivos. Ele achou desnecessário.
DEPOIMENTO
Aí sim, começou meu sofrimento. Suava frio na compulsão e não suportando aquele horror, ia até à rua pra catar "guimbas" no chão.
Imediatamente me veio à lembrança o depoimento do escritor baiano e falei ao meu filho sobre a identificação da nossa dor.
Estimulada por ele escrevi para João Ubaldo através do endereço do jornal O Globo, em que publicava suas crônicas. Não havia e-mail ainda, claro.
Dizia na carta o quanto sua dor me tocou. Quis contar pra ele que parar de beber pra mim foi fácil, foi moleza. Já o cigarro...
Quase 20 anos depois voltei a morar no Leblon. Certo dia, quem eu vejo distraidamente andando em minha direção, na mesma calçada... quem?... — o João Ubaldo em pessoa!!!!!
O Leblon era seu bairro preferido, no qual andava livremente pelas ruas, vestido de bermudas e havaiana nos pés, trajes que o impediam de ir à Academia Brasileira de Letras pelo desconforto que o Fardão lhe impunha.
LIBERDADE
Ali João Ubaldo desfrutava da mesma liberdade vivida em sua querida Ilha de Itaparica.
Claro que o abordei me identificando como a "dona" daquela carta, dizendo que havia visto uma foto dele num botequim exibindo uma latinha de coca cola.
Nesse momento percebi que, enfim, ele havia conseguido parar de beber.
Até onde sei, Ubaldo morreu sóbrio, bem longe de suas compulsões etílicas.
MORAL DA HISTÓRIA: fácil não é, mas impossível também não!