


A quantidade de pessoas que internalizaram o ódio ao PT após o segundo governo Dilma, pela crise econômica que o país atravessou, e pelos casos de corrupção envolvendo os governos do Partido dos Trabalhadores, não pode ser desprezada. É uma enormidade de gente que perdeu o patamar social e econômico que haviam conseguido, que deixou de ter voz ativa na sociedade, ou que não encontrou resposta dos governos petistas em segurança pública.
Por outro lado, o evento bolsonarista deste domingo não representou nem de perto a pluralidade do país. Foi um número considerável de pessoas na avenida paulista, mas com baixíssima representatividade. Embora não tenham números oficiais, visivelmente o público era composto, em sua maioria, por pessoas brancas, de meia-idade, ligados aos setores religiosos, do agro e do militarismo.

Bolsonaro pediu que os manifestantes que fossem às ruas não levassem faixas e cartazes que tivessem ataques ao STF e aos poderes constituídos. E foi obedecido. E mesmo falando em tom combativo no trio elétrico, conseguiu manter o evento com o propósito de apoio à sua figura política.
Uma emocionada Michelle Bolsonaro (veja aqui), em tom pastoral evangélico, discursou e se mostrou mais uma vez alguém com talento, oratória e retórica suficientes para encantar as massas bolsonaristas. E reforçar o caráter messiânico do marido e a perseguição que ele supostamente sofre, assim como os cristãos eventualmente sofrem e sofreram na história.

Na Paulista, muitas bandeiras de Israel disputavam espaço com as do Brasil. Seja para conseguir visibilidade internacional, ou para aproveitar as críticas às falas recente de Lula em relação ao conflito no Oriente Médio, a causa sionista estava presente — mesmo que muitos talvez desconheçam seus reais significados e as relações com o cristianismo.
O domingo representou uma vitória do bolsonarismo, e reforçou a centralidade da liderança de Bolsonaro no movimento. E como disse Safatle, as esquerdas no Brasil precisam repensar estratégias e posicionamentos, inclusive pela vitória de Lula na última eleição, que se deu com uma margem extremamente apertada.
Se considerado o potencial de reprodução em redes sociais dos milhares de vídeos feitos no evento de hoje, e em como é exitoso o bolsonarismo em manejar e potencializar esse alcance, o domingo significa um grande problema para o progressismo brasileiro. A política é feita essencialmente de símbolos, discursos e imagens. E feita na capacidade de oferecer aos liderados e eleitores um propósito de vida, ou pelo menos algumas respostas. O bolsonarismo continua oferecendo isso a milhões de brasileiros.
E a democracia? Esse é um valor, embora essencial, abstrato. E a gravíssima ameaça que esse valor sofreu nas mãos de Bolsonaro parece não incomodar. O buraco parece ser mais embaixo.

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Edmundo Siqueira
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