
Segundo relatos dos jornais do período, e de outras fontes históricas, o tiroteio teria tido origem após um confronto entre a polícia e os integralistas, onde os oradores do movimento se recusaram em parar as ofensas públicas.


A Ação Integralista Brasileira (AIB) tinha encontrado um terreno fértil em Campos para divulgar sua ideologia. Para formar o núcleo, quatro anos antes do comício, vieram à cidade o próprio Plínio Salgado e Raymundo Padilha, líder integralista no Estado do Rio de Janeiro. Plínio e Padilha conseguiram levar ao Liceu uma grande quantidade de campistas que ouviram atentamente os ensinamentos fascistas da AIB.

A mesma frase dita no Liceu em 1933, possivelmente encontraria eco na sociedade campista de 2024. Mais de 90 anos depois, o lema integralista “Deus, Pátria e Família” — repetido ipsis litteris pelo movimento bolsonarista iniciado em 2018 — pode ser encontrado facilmente em adesivos fixados em automóveis estacionados ao redor da mesma praça da chacina promovida pelo comício integralista de 1937.
Na mesma matéria de capa do “Diário Carioca” de 17 de agosto de 1937, o editorialista chama os integralistas de “grupo de agentes provocadores sem autoridade moral e intelectual para aspirar ao governo da nação”, e que desconhecendo a realidade brasileira limitavam-se a “copiar os métodos de usurpação dos nazistas e fascistas”.


Esse cenário de disputas e radicalidades propiciou o trágico comício na praça São Salvador. A agressividade dos integralistas se intensificou após um evento promovido por forças democráticas de Campos, onde foi exposto a truculência e ideias extremistas propostas pelo Integralismo. Em praça pública, os democratas denunciavam o perigo do extremismo e as acusações que sofriam, sendo chamados de “ladrões” e “usurpadores do povo”. A corrupção era usada como elemento para produzir ódio, especialmente na classe média, sendo típico dos movimentos fascistas.
Uma parte significativa de Campos não fez as pazes com seu passado, e outra grande parte o desconhece. A escravidão foi um elemento central da construção da realidade urbana e rural de Campos enquanto ela se constituía, mesmo depois dos tempos de Império.
Essa relação de dependência e acomodamento, perpetuada pelo petróleo alguns anos depois da queda das usinas, criou uma cidade pouco criativa e intelectualmente preguiçosa. A baixa valorização do patrimônio histórico que foi deixado desses ciclos econômicos demonstra que não houve esforços de autoconhecimento da sociedade campista, aliados a processos de exclusão da população periférica.
O integralismo tinha vários símbolos, e seus integrantes além de usarem camisas verdes (como os “camisas pretas” do fascismo italiano), com faixas nos braços com o Sigma () estampado (como a suástica nazista), se cumprimentavam com a saudação “Anauê!”, com o braço levantado em riste, supostamente repetindo um ritual indígena que traduziria “anauê” por “sou teu amigo”.

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