No Brasil não tem direita
- Atualizado em 22/12/2021 21:41
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O Brasil não produziu uma direita, de fato. Alguns podem torcer o nariz para a existência desse “lado político”, e dizer que a direita sempre é danosa. Mas a política real — e a saudável democraticamente — exige que se tenham as duas correntes de pensamento coexistindo, produzindo líderes e partidos que tenham a competência de produzir a alternância de poder.
Desde a redemocratização, a polarização real estava entre PSDB e PT. O PSDB era de direita? Não. Salvo algumas divergências na área econômica, os dois partidos que polarizavam eram essencialmente iguais. O máximo que podemos dizer é que os petistas eram sociais-democratas e os psdebistas liberais-sociais. Inclusive os dois partidos sugiram da mesma base.
Para as próximas eleições, a possível chapa Lula-Alckmin parece unir os eternos “gêmeos” concorrentes. Mas é apenas uma aparência. O ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, deixou o PSDB depois de 33 anos de militância. E o partido ruiu, com prévias internas desastrosas, quadros históricos saindo e irrelevância eleitoral nas pesquisas.
Essa deterioração já é um processo em curso desde 2014. Aécio Neves perde as eleições para Dilma e se rebaixa em um pedido de auditoria nos votos de forma despropositada. Depois, se desmoraliza por completo com envolvimento em casos de corrupção e gravações vazadas em linguagem de criminoso. Aécio podia ser considerado um político de direita; Doria é claramente um político de direita. O PSDB foi se transformando em um partido direitista e conservador, mas de forma tardia.
Sem direita, caímos no fascismo
Como nossa democracia não constituiu uma “direita democrática” e o Partido dos Trabalhadores ocupou todo campo da esquerda em uma hegemonia proposital, os conservadores e liberais ficaram sem representação. Soma-se a isso a criminalização da política trazida pela Lava Jato e temos o autoritarismo e neofascismo como consequência. Bolsonaro foi a consequência.
O Chile, que elegeu Gabriel Boric neste domingo , formou sua Frente Ampla nos anos 1990, com partidos de centro-esquerda, social-democratas e democratas-cristãos. A ‘Concertación’ foi criada para combater a ditadura de Augusto Pinochet e venceram, governando o Chile por 20 anos, até a volta da direita, com Sebastián Piñera, em 2010. E a Concertación apoiou Boric para levar a esquerda novamente ao poder neste ano. Por lá, alternância aliada com renovação, já que o novo presidente chileno tem 35 anos e vem dos movimentos estudantis.
Se Lula de fato caminhar com Alckmin, não construirão uma Concertación. O PT sai de uma posição de “esquerda autorizada” para um partido de Centro. Claro, existirão ainda as alas radicais e a esquerda trabalhista, mas o movimento leva Lula para uma composição ainda mais ampla. Sendo o político extremamente habilidoso que é, mantém a militância com a "faca nos dentes" no discurso. Fala em regular a imprensa, reforça o “nós contra eles” e sua retórica sindicalista. Mas nos bastidores faz acordo. Com o centro, com a esquerda e com a direita.
Goste-se ou não, sem o PSDB direitista nos sobra o bolsonarismo negacionista.
 
 

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Sobre o autor

Edmundo Siqueira

edmundosiqueira@hotmail.com

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