Dois fatos me trouxeram a reflexão neste domingo: a morte precoce do prefeito de São Paulo, Bruno Covas, e as manifestações (de novo e cada vez mais esvaziadas) de apoio ao presidente. Talvez os domingos sirvam para refletir mesmo, ele fecha um ciclo para iniciar outro, por isso mesmo são sempre momentos de ponderação. Embora pela tradição anglo-saxônica — para o cristianismo e o judaísmo também — o domingo seja o primeiro dia da semana, na prática, é o último, para muita gente.
A morte, ao contrário da semana, não inicia outra fase. E se inicia ninguém nunca conseguiu provar muito bem provado. O jovem prefeito paulista atravessou a doença, que terminou seu ciclo, de maneira muito corajosa e sem cair na cretinice de usá-la politicamente. E mesmo assim foi criticado nas redes sociais de maneira muito dura quando foi ao Maracanã, na final da Libertadores, entre Santos e Palmeiras. Já era tempo da necessidade de isolamento social e ele estava lá, aglomerado, mesmo que cumprindo todas as determinações sanitárias. Bruno foi com seu filho, Tomás. Bruno já tinha consciência da gravidade de sua doença e de sua difícil reversão. Disse em respostas às críticas, que “tinha ciência” que elas viriam, mas que “se esse é o preço a pagar para passar algumas horas inesquecíveis com meu filho, pago com a consciência tranquila”.
Acredito que Bruno Covas tenha ensinado uma lição, não apenas a quem o criticou, mas a todos que o julgaram de maneira velada. Incluo-me nesse segundo grupo, e me arrependo desse julgamento. Achei que por sua saúde frágil não deveria estar ali, além da necessidade de dar exemplo, como pessoa pública. Realmente foi a última chance de ele levar o filho ao estádio, de olhar a angústia sadia e a felicidade explosiva, típica dali, no rosto dele. Fez bem, Bruno. Fez muito bem.
O julgamento sempre foi uma característica humana. Não podemos fugir disso. Condenamos ações e atitudes alheias com tom inquisitório, talvez julgando a nós mesmos. Queremos que o outro seja pior e que nossas crenças, mesmo as imaturas, sejam confirmadas. Porém nem sempre conhecemos a dor do outro. Seus traumas, seus medos e sua condição prévia. Não estou propondo que o mundo seja um açucarado mar de empatia, mas é preciso diminuir os julgamentos precipitados. A proposta é por mais diálogo — deve ser, ao menos.
E daí surge a necessidade premente de dialogarmos com quem pensa diferente. Diferente ao ponto de ir para a rua vestido de verde e amarelo e declarar apoio a um presidente truculento e declaradamente golpista. Por que alguns resistem? Por que alguns pedem a volta da ditadura gritando “eu autorizo”? Por que muitos acreditam que há uma ameaça comunista em curso no Brasil? A princípio estariam completamente descolados da realidade, mas são as mesmas pessoas que sentavam com a gente em bares, ou em eventos sociais, e a gente ria de posicionamentos meio esdrúxulos. Mas, convivíamos. Ouvíamos. E por vezes dialogávamos.
Nosso senso de civilidade se esvaiu ou alguns grupos se radicalizaram? Para entender essas questões vamos precisar de esforço, tempo e reflexão. E não apenas em domingos. Admitir que nossas ideias estavam erradas e nossas decisões (eleitorais, aqui) não foram as melhores, afeta diretamente nosso senso de identidade e a posição nos grupos a que pertencemos. Talvez muitos percebam as barbáries, mas ao criticarem — e mudarem, enfim — como frequentariam as mesmas igrejas, conversariam com os mesmos tios e tias, como mandariam mensagem quando seu time ganhou aos mesmos amigos?
Que possamos refletir — qualquer dia da semana. Para que tenhamos novos ciclos. E a morte precoce de nossas democracia não seja definitiva. Como Bruno Covas ensinou: é preciso agir quando se tem tempo.
Cerimônia contou com a participação do ministro da Educação, Camilo Santana, a deputada federal Benedita da Silva, o prefeito de Campos, Wladimir Garotinho, entre outras autoridades
No final do evento, manifestantes esperavam com cartazes e gritos contra o presidente Lula e pedindo anistia aos condenados pela invasão aos prédios dos três poderes, em 8 de janeiro de 2023
Colisão foi registrada na noite dessa quinta-feira (10); outro acidente foi registrado, desta vez na Baixada Campista, e deixou um idoso de 72 anos gravemente ferido