Boric vence no Chile: por que é importante para o Brasil?
19/12/2021 21:09 - Atualizado em 19/12/2021 21:11
Gabriel Boric eleito neste domingo no Chile, em seu comício de encerramento de campanha. Bandeira mapuche, povo originário chileno, ao fundo.
Gabriel Boric eleito neste domingo no Chile, em seu comício de encerramento de campanha. Bandeira mapuche, povo originário chileno, ao fundo. / RODRIGO GARRIDO / REUTERS
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A eleição no Chile já está consolidada. O candidato de esquerda, Gabriel Boric, líder dos protestos estudantis de 2011, foi eleito presidente neste domingo (19). O derrotado foi o ultradireitista José Antônio Kast. Boric recebeu 55,8% (contra 44,1% de Kast) dos 4,2 milhões de eleitores, se tornando o candidato mais votado da história chilena.
O líder estudantil de 35 anos será o mais jovem presidente da história do país. A eleição no Chile ganhou contornos continentais, e trazia uma disputa entre um candidato de esquerda e outro de extrema-direita, como deverá — caso todas as pesquisas se confirmem — acontecer no Brasil em 2022.
O derrotado Kast é admirador do ditador chileno Augusto Pinochet. Em 1988 votou pela continuidade do regime militar, em plesbicito. Seu pai foi oficial do Exército alemão e apoiador do nazismo. Está no extremo, é um radical.
O Chile hoje e amanhã
O domingo chileno mostrou que os partidos tradicionais de lá foram rejeitados. A ida de Boric à presidência acaba carregando ao poder uma nova geração de políticos, muitos oriundos dos movimentos de rua no Chile, que viam se intensificando desde 2011.
A oposição que o presidente eleito enfrentava tentou impor-lhe a imagem de “radical de esquerda”, principalmente em relação às pautas de costume, como aborto, e suas posições sobre as populações originárias e imigrantes. A volta do "comunismo" era o temor de parte da população, influenciada por Kast.
Para vencer e superar essa ideia, Boric moderou o discurso e se reconciliou com a “Concertação”, aliança de centro-esquerda que governou o Chile por 20 anos — conseguindo os apoios dos ex-presidentes Ricardo Lagos e Michelle Bachelet.
O direitista Sebastián Piñera, atualmente presidente do país, que deixa o mandato em março de 2022, enfrentava grande rejeição. Apesar de conseguir uma “Frente Ampla” contra a direita democrática e o extremismo, Boric comandará um país dividido, e ainda um plebiscito pela aprovação ou rejeição da nova Constituição. Em caso de aprovação, o desafio de aplicá-la deverá ser um dos pontos de mais atenção do governo eleito.
O Chile de ontem e o Brasil de hoje
O Chile era um exemplo para a América Latina de um país de tinha dado certo. Com várias privatizações, corte de gastos em serviços públicos, bons números na dívida pública, no PIB e na renda per capita, foi chamada de “Suíça latino-americana” por Paulo Guedes, atual ministro da Economia do Brasil.
Guedes fez parte de um grupo de economistas chamado de “Chicago boys”, que ajudaram o ditador Pinochet a implantar uma economia de mercado enquanto direitos civis e sociais eram suprimidos. O resultado foi uma população endividada, que pagava caro por educação e saúde, e que no final da vida, após um modelo de capitalização na previdência chilena, nove em cada dez aposentados recebia menos de 60% do salário mínimo. Gerando uma infinidade de revoltas populares.
Talvez a frieza dos “homens de mercado” não tenham compreendido os desafios do mundo real, e os sacrifícios que um liberalismo anacrônico e estúpido submetera a população chilena. A miséria de aposentados que tinham que escolher e entre comer ou comprar remédios não estava nos cálculos das planilhas.
Radicalismo ideológico e fetiche neoliberal produziram a eleição de Gabriel Boric no Chile. O mesmo modelo imposto pelo governo Bolsonaro parece caminhar para produzir a volta do PT ao comando do Brasil. Como nos ensina o Chile neste domingo, o “fim da social-democracia” combinada com um governo autoritário e uma economia totalmente livre só produz o caos.
Caso a história de repita nas eleições brasileiras de 2022, podemos ter tragédia e farsa em mesmo tempo histórico, já que, diferente de Boric, Lula significa uma “volta ao passado”. Porém, com toda certeza, precisamos vencer nosso Pinochet.

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    Edmundo Siqueira

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