Onde está a cabeça de Tiradentes?
Aprendemos na escola: Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi executado em 21 de abril de 1792, no Rio de Janeiro. Mártir simbólico da Inconfidência (ou Conjuração) Mineira, Tiradentes foi enforcado em praça pública e depois esquartejado. Sua cabeça ficou exposta para servir de exemplo a qualquer outro que ousasse proclamar ideias republicanas.
O poderoso símbolo personificado na figura de Tiradentes foi construído cerca de 100 anos depois de sua trágica morte. Quando os movimentos republicanos, podiam enfim se organizar com mais segurança, precisavam dar um rosto para o mártir da Inconfidência (não há nenhuma imagem do Joaquim José real), para produzir humanização e fabricar um herói.
E nada melhor que associar Tiradentes a Jesus Cristo. Um país católico com um herói com traços nazarenos, inventado por artistas desde o nascimento da República no Brasil. As pinturas que temos como referência trazem um homem de olhos claros e traços europeus, cabelos longos, barba e rosto simétrico. E a história ainda conta que Tiradentes foi traído por um amigo, o Silvério dos Reis.
Várias cidades do Brasil homenageiam Tiradentes através de monumentos. Praças, bairros e até uma cidade mineira foi batizada com seu nome. Em Campos dos Goytacazes não foi diferente. Ou pelo menos não era diferente.
Campos, cidade que começou a existir ainda no Império, não aprendeu a respeitar sua própria história, quem dirá os símbolos nacionais. Um monumento em homenagem a Tiradentes, instalado em pleno centro, perdeu a cabeça (veja aqui e aqui). Completou-se um ano neste agosto que a estátua está decapitada, mantida e exposta assim em praça pública.
A decapitação se deu por um ato de vandalismo na madrugada do dia 5 de agosto de 2023 (aqui). No local havia um corredor cultural, onde Tiradentes era homenageado junto a um conjunto escultórico retratando Zumbi dos Palmares, que também desapareceu. Histórias que foram apagadas em Campos.
A estátua que homenageia o mártir da Inconfidência parece não incomodar ao ficar assim exposta, decapitada, e mostra que não é incômoda ao se manter como uma representação tristemente simbólica do desleixo com o patrimônio que Campos teima em cultivar. O Hotel Flávio, nas proximidades da estátua vandalizada, deixou de existir em demolição recente. E seu terreno e escombros parecem ser mais agradáveis aos olhos do campista que desconhece e diminui a história de seu próprio local.
É preferível que a estátua sem cabeça de Tiradentes seja retirada do local e fique depositada junto das estátuas do Índio e de Zumbi, ou dos livros da biblioteca Nilo Peçanha, do acervo do Solar dos Airizes, das artes do corredor cultural e de tantas outras preciosidades tratadas como lixo.
Aprendemos na escola: Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi executado em 21 de abril de 1792, no Rio de Janeiro. Mártir simbólico da Inconfidência (ou Conjuração) Mineira, Tiradentes foi enforcado em praça pública e depois esquartejado. Sua cabeça ficou exposta para servir de exemplo a qualquer outro que ousasse proclamar ideias republicanas.
O poderoso símbolo personificado na figura de Tiradentes foi construído cerca de 100 anos depois de sua trágica morte. Quando os movimentos republicanos, podiam enfim se organizar com mais segurança, precisavam dar um rosto para o mártir da Inconfidência (não há nenhuma imagem do Joaquim José real), para produzir humanização e fabricar um herói.
E nada melhor que associar Tiradentes a Jesus Cristo. Um país católico com um herói com traços nazarenos, inventado por artistas desde o nascimento da República no Brasil. As pinturas que temos como referência trazem um homem de olhos claros e traços europeus, cabelos longos, barba e rosto simétrico. E a história ainda conta que Tiradentes foi traído por um amigo, o Silvério dos Reis.
Várias cidades do Brasil homenageiam Tiradentes através de monumentos. Praças, bairros e até uma cidade mineira foi batizada com seu nome. Em Campos dos Goytacazes não foi diferente. Ou pelo menos não era diferente.
Campos, cidade que começou a existir ainda no Império, não aprendeu a respeitar sua própria história, quem dirá os símbolos nacionais. Um monumento em homenagem a Tiradentes, instalado em pleno centro, perdeu a cabeça (veja aqui e aqui). Completou-se um ano neste agosto que a estátua está decapitada, mantida e exposta assim em praça pública.
A decapitação se deu por um ato de vandalismo na madrugada do dia 5 de agosto de 2023 (aqui). No local havia um corredor cultural, onde Tiradentes era homenageado junto a um conjunto escultórico retratando Zumbi dos Palmares, que também desapareceu. Histórias que foram apagadas em Campos.
A estátua que homenageia o mártir da Inconfidência parece não incomodar ao ficar assim exposta, decapitada, e mostra que não é incômoda ao se manter como uma representação tristemente simbólica do desleixo com o patrimônio que Campos teima em cultivar. O Hotel Flávio, nas proximidades da estátua vandalizada, deixou de existir em demolição recente. E seu terreno e escombros parecem ser mais agradáveis aos olhos do campista que desconhece e diminui a história de seu próprio local.
É preferível que a estátua sem cabeça de Tiradentes seja retirada do local e fique depositada junto das estátuas do Índio e de Zumbi, ou dos livros da biblioteca Nilo Peçanha, do acervo do Solar dos Airizes, das artes do corredor cultural e de tantas outras preciosidades tratadas como lixo.
Vamos varrer mais esse escombro para debaixo dos tapetes alienados de Campos.
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