Sem passar despercebido por qualquer pessoa que passe pela BR 356 (Rodovia Campos – São João da Barra), o Solar desperta curiosidade; muitas lendas permeiam a construção, sendo a mais conhecida a da Escrava Isaura. Mas gera também desespero em quem se preocupa com a história de Campos.
Paredes caíram, parte da fachada e do interior já não existe, várias portas e janelas em estado precário e o forro de madeira desabou em vários cômodos do Solar, levando a um estado de ruína. A icônica capela que o Airizes abriga também está em estado de deterioração. Parte de uma das extremidades do prédio (em formato de “U” imperfeito) já foi ao chão.
Os mais de 28 milhões de reais aprovados não precisam ser depositados de uma vez, e além da Ferroport, outras empresas podem participar. O projeto tem como proponente a Sociedade Artística Brasileira (Sabra) que também tem termo de cooperação técnica com a prefeitura.
A prefeitura é a responsável pelo Solar dos Airizes, após decisão do Tribunal Regional Federal (TRF-2), que transitou em julgado em 2020, e condenou o município de Campos a restaurar o Solar de forma emergencial. A ação foi proposta pelo Ministério Público Federal (MPF), e não cabem mais recursos.
Mas o espólio de Lamego não se limita ao Solar. A construção faz parte de uma grande fazenda, às margens da BR-356. Essas terras sempre foram alvo de especulações imobiliárias, e recentemente foi aventado que uma empresa de São Paulo seria a nova potencial compradora da propriedade.
Também a este blog, um dos herdeiros da família Lamego explica que a empresa paulista é a ABMais Incorporadora, que havia “fechado uma área para início de urbanização”, mas que não teria relação com o Solar dos Airizes, sendo “em uma área distante” do patrimônio.
“O trecho da BR-356 entre o final da Avenida Alberto Lamego e Martins Lage está se
transformando rapidamente num dos principais vetores de crescimento imobiliário de Campos. Com a expansão contínua do Porto do Açu, as terras às margens da rodovia - que acompanha o traçado do Rio Paraíba do Sul em direção à foz - se tornaram uma excelente opção para quem busca tranquilidade e, ao mesmo tempo, estar perto das comodidades e infra-estrutura da área urbana.
O Solar e a Esperança - O Solar dos Airizes não traz apenas significado arquitetônico. O local foi residência de um dos maiores intelectuais e escritores campistas, Alberto Lamego, onde ele abrigou sua vasta pinacoteca, além de uma biblioteca repleta de obras raras trazidas da Europa e um extenso acervo documental.
O Airizes foi considerado a “meca da intelectualidade” do Brasil, que atraía diversos artistas, escritores e pensadores importantes do país, pelo acervo recolhido por Lamego. Uma dessas personalidades foi Mário de Andrade, um dos fundadores do modernismo. O local recebeu também o Imperador Dom Pedro II, em 1883.
Aos poucos, e percebendo (já naqueles tempos) o descaso de Campos com o patrimônio material e imaterial, Lamego vendeu a coleção de pinturas para o Museu Antônio Parreiras, em Niterói, onde se encontra até hoje, e o acervo para a USP, em São Paulo.
Se salvo, o Solar deverá passar por um segundo restauro, onde será definido seu uso cultural, turístico e de educação patrimonial. Os recursos e as ações atuais servirão para impedir sua ruína e mantê-lo de pé, mas ainda há muito para ser feito, inclusive com a repatriação dos acervos.
Prefeitura e Governo Federal, através da Lei de Incentivo, possuem o dever de preservar a história e incentivar a cultura, por obrigação constitucional e para fomentar um setor que empregava em 2020 quase 5 milhões de pessoas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE.
Dos tempos de glória aos dias atuais, o Solar dos Airizes passou por várias intervenções, e um longo período de abandono. Representante de importante parte da história de Campos, a ruína total parecia uma realidade imutável. Mas, novos ares de esperança surgem, e caso se concretizem, a resistente construção pode ser um raro caso de salvamento patrimonial numa cidade que não compreende a importância de sua própria história.
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