Solar dos Airizes: resistirá à próxima chuva?
Edmundo Siqueira 17/10/2022 07:36 - Atualizado em 17/10/2022 07:37
A cada vez que se passa pela BR-356 a caminho de São João da Barra, a percepção de que o Solar dos Airizes está muito próximo da ruína, aumenta. Primeira construção de Campos dos Goytacazes tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ainda em 1940, o casarão que é mais conhecido pela lenda da “Escrava Isaura”, agoniza.

A importância do Solar dos Airizes não reside apenas em sua beleza ou tamanho. Por muito tempo foi considerado uma “meca”, um “local sagrado” de conhecimento e cultura.
Sendo residência de Alberto Lamego (pai e filho), o Solar foi palco para a criação das mais importantes obras sobre a história de Campos e região. Os Lamegos recolheram um vasto acervo, que foi garimpado pela Europa, e produziram obras fundamentais para compreender os processos de formação do território fluminense.

Além do acervo cartográfico e documental, uma incrível pinacoteca conferia ao Solar dos Airizes a condição de guardião da cultura, intelectualidade, arte e conhecimento técnico-geográfico de Campos e região. Por lá hospedaram-se nomes como Mário de Andrade e o imperador D. Pedro II.

Porém, assim como os campistas assistiram passivos a expatriação dos tesouros do Solar, estão assistindo sua ruína. O Airizes resiste bravamente, mas dá evidentes sinais que não resistirá por mais tempo. E com ele toda chance de valorização cultural e de educação patrimonial, principalmente sobre os processos de exploração humana que o envolve.
A estrutura do Solar dos Airizes com sinais claros de fragilidade estrutural. Embora tenha passado por intervenções no telhado há alguns anos, algumas paredes e esquadrias já caíram.
A estrutura do Solar dos Airizes com sinais claros de fragilidade estrutural. Embora tenha passado por intervenções no telhado há alguns anos, algumas paredes e esquadrias já caíram. / Foto: Edmundo Siqueira


A prefeitura é a atual responsável pela manutenção e restauro do Solar dos Airizes, como definido em processo judicial, com trânsito em julgado — onde não cabem mais recursos. A justiça determina que as obras aconteçam de imediato, o que vem sendo descumprido pela municipalidade.

O Solar dos Airizes resistirá às próximas chuvas e a inércia de quem assiste passivo, e principalmente, de quem é responsável? Um tempo curto dirá.
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