Campos: 190 anos de histórias para contar e recontar
Dora Paula Paes - Atualizado em 26/03/2025 10:00
Rodrigo Silveira
No aniversário de 190 anos de elevação da categoria de vila à cidade de Campos, por que não revisitar fatos da sua história? Passados de geração a geração, alguns relatos não são bem assim e quem reescreve, após debruçar em série de pesquisas, é a historiadora Rafaela Machado, à convite da Folha da Manhã. Uma das ocorrências mais curiosas é o relato de que nevou na Praça São Salvador, em 1942, e, tudo leva a crer que não foi bem assim... No entanto, antes de continuar essa história, é bom lembrar que nesta sexta-feira (28), data do aniversário, tem happy hour no Cais da Lapa, no centro, a partir das 17h - outro berço histórico e um dos cartões postais da cidade, além de ser ponto de lazer na atualidade.

*Primeira cidade da América Latina a ter luz elétrica

Em 24 de junho de 1883, o imperador D. Pedro II esteve em Campos para inaugurar o primeiro serviço público de iluminação elétrica de toda América Latina, acompanhado de grande comitiva formada por autoridades e jornalistas, inclusive estrangeiros. Foi ele o responsável por acionar a chave na Estação da Luz Elétrica, instalada na antiga Av. Pedro II, hoje XV de Novembro, sendo a eletricidade gerada por um pequeno motor movido pelo vapor de caldeiras à lenha. O serviço naquela época abrangia a entrada da Rua dos Goytacazes, a Beneficência Portuguesa e a Rua Direita, atual 13 de Maio. Pouco depois, ainda no mesmo ano, foi instalada a primeira central termelétrica na cidade, e primeira do Brasil, com capacidade de abastecer 39 lâmpadas da iluminação pública da cidade – a chamada Estação de Força e Luz.

Observem que Campos foi a primeira cidade na América Latina a receber serviço público de iluminação, e não o primeiro local a receber energia elétrica. Cabe destacar que o primeiro local a receber iluminação elétrica no Brasil foi a Estação Central da Estrada de Ferro D. Pedro II, no Rio, isso ainda em 1879 – embora esse momento não tenha sido documentado. É por isso que oficialmente, o primeiro local a receber iluminação pública externa elétrica no Brasil foi um trecho da Praça da República, no centro do Rio de Janeiro, ainda em 1881.

*Última cidade do Brasil a abolir a escravidão

Todos os anos, quando o 13 de maio se aproxima, vejo a reincidência de textos e postagens que insistem em dizer que Campos foi uma das últimas cidades do Império a abolir a escravidão. Como se não bastasse, contam, em sua maioria, a história da Abolição da escravatura na região como obra fundamental do movimento abolicionista, esquecendo-se, então, de adicionar a esse mesmo movimento elemento fundamental: os próprios escravizados.

Contando com a presença de um forte movimento abolicionista liderado por Carlos de Lacerda. À medida que os anos finais do cativeiro se aproximavam, aumentavam as investidas dos escravizados contra as fazendas da região, principalmente, através da realização de incêndios nos canaviais e fugas em massas. Desde 1884 já se observa a ocorrência desses incêndios, em canaviais dos engenhos das fazendas do Queimado e do Beco, por exemplo. No entanto, a partir de 1887 essas ações foram não apenas retomadas, mas atingiram seu ápice, tendo como consequência o despertar de uma solução mais efetiva para o caso da mão de escrava.

Instigados pelo movimento abolicionista e apoiados por boa parte da opinião pública, os escravizados a partir de março de 1888 empreenderam por suas próprias forças uma onda de fugas em massas das fazendas, assumindo “proporções de êxodo”. Aterrorizados com as investidas sobre os canaviais, receosos do prejuízo que os estragos lhes podiam trazer, reuniram-se os fazendeiros em 18 de março de 1888 no chamado Congresso Agrícola. O evento contou com ilustres personagens do movimento abolicionista, como os irmãos Carlos, Cândido e Álvaro de Lacerda, então deputado provincial, Nilo Peçanha, a quem coube lavrar a ata da Assembleia, e Francisco Portela, e declarar extinta a escravidão em Campos.
*Farol de São Tomé projetado por Gustave Eiffel

Localizado no litoral campista, o Farol de São Tomé foi inaugurado às 15h30 do dia 29 de julho de 1882. Com uma altura de 45 metros e possuindo 216 degraus, a data escolhida marcava uma homenagem ao aniversário de 36 anos da princesa Isabel, filha do imperador D. Pedro II. Sua inauguração refletia a necessidade de instalação de um farol na ponta do Cabo de São Tomé, posto que desde o período colonial eram comuns os relatos de acidentes náuticos e naufrágios na região, principalmente devido ao choque e encalhe de embarcações nos bancos de areia.

O que poucos sabem, no entanto, é que da encomenda do projeto, viagem das peças e montagem do equipamento, muito da história ou se perdeu, ou virou quase lenda. De instrumento de sinalização a monumento, a história do Farol de São Tomé ganhou fama a partir de uma hipotética, posto que até hoje não confirmada, de origem “nobre”. Segundo comumente se lê em livros e sites e, mais do que isso, conforme informam as mais variadas vozes, o Farol de São Tomé teria sido projetado pelo engenheiro Gustave Eiffel. No entanto, não é possível afirmar – pelo menos não com base em qualquer documento encontrado – que o engenheiro francês Gustave Eiffel tenha sido o construtor do Farol de São Tomé ou tenha colaborado em seu projeto. Seguindo as pistas que os documentos podem nos oferecer, é possível constatar que a firma responsável pela execução do projeto fora a francesa Barbier & Fenêtre, criada no ano de 1862 por Frédéric Barbier e Stanislas Tranquille Fenestre - que desde 1860 já realizavam projetos em parceria.

É preciso ressaltar que o fato de até hoje não serem identificados quaisquer documentos que demonstrem ter sido Gustave Eiffel o engenheiro responsável pela execução do projeto, em nada diminui sua importância e imponência no litoral campista. A própria presença ainda nos dias de hoje demonstra de forma cabal o pioneirismo do Farol na introdução de faróis desse tipo no Brasil. Alguns anos depois de sua inauguração, isto é, em 1891, a Marinha Brasileira encomendou a Barbier dez faróis para a costa brasileira, sendo três deles especificamente do sistema Mitchell. As três especificações atenderam a Belmonte, na Bahia, Rio Doce, no Espírito Santo, e Salinas - Salinópolis, no Pará, único a existir no formato original até os dias de hoje e que guarda absoluta semelhança com o Farol de São Tomé. Hoje Salinópolis e Belmonte são os únicos, além do próprio Farol de São Tomé, em operação dos dezoito que já tivemos.

*Escrava Isaura no Solar dos Airizes

Quem passa pela BR 356, rodovia que liga Campos a São João da Barra, se impressiona com a imponência de um antigo Solar construído em suas margens e muito familiar entre os campistas. Estamos falando do Solar dos Airizes, este mesmo que entrou para a memória local como “o casarão da escrava Isaura”.

Ponto muito comentado acerca da história do Solar relaciona-se ao fato de ter servido de inspiração para o romancista e poeta Bernardo Guimarães escrever o romance “Escrava Isaura”, bem como também ter servido de locação para algumas cenas da primeira versão da novela gravada pela Rede Globo entre os anos de 1976 e 1977. História e lenda se misturam de tal forma que acaba sendo ponto comum entre os campistas que lá teria vivido de fato uma escravizada branca. No entanto, a história narrada por Bernardo Guimarães no ano de 1875 tem como ambientação o município de Campos e parece ter se passado em algum lugar nas imediações de São Fidélis, já que segundo passagem da própria obra, a edificação ficava ao “sopé de elevadas colinas cobertas de matas” e fundos para a barranca do grande rio – Paraíba do Sul.

Além disso, outra constatação é que a gravação original feita pela TV Globo da novela “Escrava Isaura”, objeto de exportações para mais de 150 países, teve como cenários para locação a cidade de Conservatória e fazendas localizadas na região de Vassouras, no interior do estado do Rio de Janeiro. As cenas de interior, por sua vez, foram gravadas em cenários dos estúdios da TV Educativa e da Herbert Richers. O que pouco falamos por aqui, é que a direção dessa obra, de autoria do novelista Gilberto Braga, foi compartilhada por Milton Gonçalves com o campista Herval Rossano, falecido em 2007. Rossano foi responsável também pela direção geral da última versão da novela, gravada pela TV Record em 2004.

Que tenha nevado em Campos

Eis aqui uma das maiores controvérsias da história campista! Na internet é possível ver uma série de postagens em redes sociais, blogs e jornais atuais sobre o dia 27 de julho de 1942, uma segunda-feira, às 7h da manhã, dia em que teria nevado em Campos! Em certa publicação lê-se ainda que a Praça São Salvador, coberta de neve, teria servido de diversão durante todo o dia para as pessoas.

A prova mais cabal de que essa história não passa de uma grande mentira é que nenhum jornal de Campos ou do Rio de Janeiro noticiou o ato, nem no dia - o que é compreensível, posto que às 7h da manhã os jornais já estariam circulando, mas também não no dia 28 ou nos dias subsequentes. Portanto, diferente do que dizem várias postagens, a informação não foi retirada de jornal! Nem para o dia 27, nem para qualquer dia seguinte. Nada, nem uma linha sequer, tece qualquer menção a ter nevado em Campos!

Parece-me também que a foto também foi manipulada... Afinal, a copa das árvores não tem neve. Fosse verdade, tal fato geraria repercussões diárias nos jornais? Ainda quando se fala que “a população muito se divertiu na Praça São Salvador coberta por neve”.
Rodrigo Silveira
Para curtir na atualidade nos 190 anos de Campos 
O Happy Hour no Cais da Lapa, no Centro de Campos, está de volta em 2025. A programação para a 1ª edição está pronta, com a novidade de que os eventos serão em dose dupla, nos dias 28 e 29 de março. Na sexta-feira (28), a primeira apresentação será às 17h, com o Pôr do Sol Musical, às 18h, a playlist do "Troque o disco" e, às 21h, sobe ao palco do Cais a Banda Acústico Drive. O evento ocorre exatamente no dia do aniversário de Campos.
No sábado (29), a movimentação no Cais da Lapa seguirá. Já a partir das 9h, será realizada no espaço a manhã esportiva com Aulão do Studio Fabrício Bastos. Na sequência, uma confraternização esportiva. Na parte da tarde, às 15h, tem Tardezinha de Samba; às 17h, Instrumenttart com muito saxofone, Troque o disco e, às 21h, apresentação da Banda 3º Mandato.

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