Ciclofaixa deve ser a última etapa, não a primeira
Edmundo Siqueira 30/11/2023 19:59 - Atualizado em 30/11/2023 20:07
Novas ciclofaixas em Campos, instaladas na última terça-feira (28).
Novas ciclofaixas em Campos, instaladas na última terça-feira (28). / PMCG - Foto: César Ferreira
Campos dos Goytacazes é uma cidade média que caminha para ser grande, se observados os parâmetros populacionais: possui mais de 480 mil habitantes segundo o último Censo (2022), estando próximo da marca de 500 mil, quando um núcleo urbano passa a ser considerado grande. Porém, como outras cidades no Brasil, cresce de forma desordenada.

O trânsito é um dos principais fatores que denunciam o desordenamento. Em Campos, o deslocamento urbano é historicamente deficitário, com pouca oferta de transporte público, sinalização insuficiente e baixo estímulo e incentivo aos meios de transporte alternativos e não poluentes, como a bicicleta. Para tentar mitigar essa questão, a prefeitura resolveu instalar ciclofaixas na área central, mas sofreu críticas.

Hegemonicamente plana, e dona de um orçamento bilionário, Campos deveria ser um caso de sucesso em ordenamento urbano e malha cicloviária. Tivesse crescido de forma ordenada, a cidade poderia oferecer transporte coletivo de qualidade e com horários definidos, diminuindo consideravelmente a quantidade de carros nas ruas, e possibilitando que fosse pensado um "Plano Cicloviário" que contemplasse não apenas ciclofaixas, mas ciclovias e ciclorotas.
Detran RJ
Como foi feito, a insatisfação da população é justificável. Instaladas em um trânsito desordenado, a ciclofaixa não atende aos ciclistas, por não apresentar segurança e prejudica ainda mais a circulação dos veículos motorizados.

A decisão de colocar as ciclofaixas parece não ter sido planejada como deveria, tampouco discutida com a população. Aliás, é mais um exemplo de um problema campista crônico: as ações do poder executivo não são apresentadas previamente, não contam com a participação da população, de conselhos ou de outros poderes, geram transtornos (como qualquer mudança), a população reclama, e as ações e políticas públicas se retraem.

Exemplos como a cidade de Singapura talvez estejam muito distantes, mas os princípios urbanísticos utilizados por lá podem perfeitamente ser seguidos por qualquer centro urbano, principalmente com as características orçamentárias e geográficas de Campos.
As chamadas “Cidades de 15 minutos”, onde moradia, trabalho, lazer, comércio, áreas verdes e serviços estão dispostos a uma distância que pode ser percorrida a pé, ou pedalando, em até um quarto de hora, favorecem não apenas o ordenamento urbano como os próprios comércios. Em Singapura, lojas, cinemas, museus e bibliotecas estão localizadas no centro da cidade, enquanto escolas e creches estariam mais próximas das áreas residenciais.

Além de criar alternativas, uma cidade pode utilizar suas estruturas já existentes. Incentivo para criação de “telhados verdes”, abertura de prédios públicos e históricos para fins culturais e recreativos, espaços projetados ou adaptados para atender a diversos usos. O Canal Campos- Macaé, por exemplo, poderia ser utilizado para transporte hidroviário e ciclovias.

Convenhamos, colocar o telhado antes das paredes não é uma decisão inteligente. As ciclofaixas são ótimas alternativas, porém devem ser precedidos estudos, planejamentos, audiências públicas, campanhas de educação no trânsito (muito necessárias em Campos), pontos de apoio arborizados para conforto térmico dos ciclistas e bicicletários públicos ou privados em parceria.

Campos não precisa ser uma Singapura, mas um pouco de ordenamento e participação popular em uma cidade bilionária vai bem.

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Infográfico / Edmundo Siqueira

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