
O Solar dos Airizes, casarão histórico localizado na BR-356, Campos-São João da Barra, vem recebendo mais atenção nos últimos anos. Desde que este espaço revelou a existência de um processo judicial com trânsito em julgado (quando não cabem mais recursos) determinando que o restauro do prédio seja feito pela prefeitura de Campos, o Solar passou a ser alvo de tratativas mais intensas entre poder público e sociedade.
Tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) desde 1940, três anos depois da criação daquele órgão federal, o Airizes ainda hoje pertence à família Lamego, herdeiros de Alberto Ribeiro Lamego, pesquisador renomado em todo Brasil e autor de obras fundamentais para a região Norte Fluminense, que por sua vez herdou o Solar após o casamento com a filha do Comendador Cláudio do Couto e Souza.
Além do processo judicial, o Iphan abriu diversos andamentos internos sobre o Airizes desde que o abandono ficou demasiadamente arriscado ao patrimônio — o que acontece há mais de 20 anos. Entre as medidas, uma multa milionária foi imposta à família Lamego.
A municipalidade
Com a obrigação judicial de restaurar o Airizes, algumas alternativas começaram a ser pensadas. Embora ainda sem efetividade, a prefeitura assinou um protocolo de intenções com a empresa Ferroport (consórcio formado pela mineradora sul-africana Anglo American e pela Prumo Logística, do Porto do Açu), que pretende captar recursos para restaurar e dar uso ao Solar.
Porém a construção não dá sinais que resistirá por muito mais tempo. Parte de uma das extremidades já foi ao chão, paredes foram destruídas tanto na fachada quanto no interior do Solar, e a cada dia aumenta a precariedade de portas, janelas e do forro de madeira.

O escoramento e outras ações emergenciais não dependem de parcerias, ou de grandes investimentos, e o Iphan certamente autorizaria intervenções dessa natureza, como forma de garantir a sobrevivência do patrimônio. Se trata de uma obrigação da prefeitura, judicial e institucional.
Raphael Thuin leva o Airizes à Brasília

O vereador Raphael Thuin (PTB), em agenda em Brasília na semana passada, esteve com o presidente da Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados, Marcelo Queiroz (PP-RJ), e levou as pautas relacionadas ao Solar dos Airizes e à livraria Ao Livro Verde.
Em suas redes sociais, Thuin disse que ambos os patrimônios são de “suma relevância para a cultura da cidade de Campos”, e que "precisam da nossa atenção”. Ontem, falando a este espaço, o vereador disse que o caso do Solar dos Airizes já era de conhecimento do Ministério da Cultura, através do Iphan, mas que a sua ida à Brasília “abriu portas no Governo Federal em relação ao Airizes”.
— Eles querem ajudar. Falei com o Marcelo [deputado Marcelo Queiroz], e ele se mostrou muito sensível à causa do Solar dos Airizes, pela importância daquela construção. A aproximação com a Comissão de Cultura da Câmara Federal é essencial para fazer essa ponte com o Governo Federal e com a ministra da Cultura, Margareth Menezes, e também o secretário executivo da pasta. Fiquei muito satisfeito com a reunião, acho que agora temos esse caminho em Brasília — disse Thuin.
Sobre a Ao Livro Verde, o vereador disse que é um caso mais complexo por envolver uma empresa privada em situação de autofalência, mas que pela importância da história e da marca Ao Livro Verde é preciso que “soluções sejam encontradas coletivamente”.
A livraria mais antiga do Brasil recebeu ajuda da sociedade civil, e o movimento “SOS Ao Livro Verde” conseguiu mais de duas mil assinaturas e diversas entidades apoiando. Além do movimento, existe a possibilidade da criação de uma associação que poderia não apenas auxiliar na sobrevivência da livraria, mas principalmente no salvamento da marca.

Em uma cidade que deixou tanto se perder, em construções de beleza arquitetônica inquestionável e simbolismos culturais de alta relevância — como o antigo Trianon, a Santa Casa de Misericórdia, Correios e Banco do Brasil —, o Solar dos Airizes resiste por conta própria.
Assim como o Museu Olavo Cardoso e o prédio centenário do Mercado, o Airizes se nega a virar apenas memória. Em uma cidade que não aproveita os potenciais que esses patrimônios oferecem apenas por existir, a sobrevivência deles depende de dois fatores fundamentais: política pública cultural efetiva e engajamento social.
A família Lamego se colocou à disposição para uma conversa com a prefeitura, e tem interesse em doar o prédio ao município. Porém, entraves jurídicos e a própria multa que envolve o Solar dificultam o trâmite. O caminho possível é a desapropriação, e ela deve envolver o executivo e o legislativo municipal.
Antes que seja tarde.
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