
No último domingo, o centro do poder no Brasil foi invadido, destruído e muitos símbolos nacionais foram vilipendiados. Um dos manifestantes — grupo que vem sendo classificado como terrorista — defecou no Supremo Tribunal Federal, outros vibraram com a ideia de estar participando de um golpe de estado. Vidraças e mobiliários foram quebrados, documentos destruídos, obras de arte de valor incalculável foram danificadas, e gente saiu ferida aos montes.

Uma das definições aceitas de terrorismo dá a exata medida do que aconteceu em Brasília: “emprego sistemático da violência para fins políticos e ideológicos por indivíduos ou grupos, cujo objetivo é a desorganização da sociedade existente e a tomada do poder”.


O bolsonarismo, principalmente o radical-golpista, não sabe o que é o Brasil, não faz ideia do que esses artistas e suas obras falam sobre o país que moram. Para esse movimento — que milhões de brasileiros se identificam —, Paulo Freire, Oscar Niemeyer e Darcy Ribeiro são inimigos.
O Brasil de verdade é essencialmente miscigenado e grandiosamente inclinado à arte e cultura. A construção do “brasileiro ideal” não é factível. O Integralismo — movimento fascista brasileiro dos anos 1930 — tentou, queria um bandeirante, um desbravador, como imagem. Não conseguiu. A literatura e a academia também tentaram criar no imaginário do brasileiro sua imagem e semelhança, mas a pluralidade sempre ganhava.
Gênios como Machado de Assis, Mário de Andrade e Drummond escreveram a beleza da miscigenação, souberam captar os regionalismos e as particularidades que davam identidade ao brasileiro. A Semana de Arte Moderna de 1922 e a efervescência dos anos 1950 e 60 foram resultado e produziram outros tantos brasileiros geniais.
Nesse período, Juscelino Kubitschek e Oscar Niemeyer procuraram a centralidade em Brasília, que foi construída e sustentada numa ideia daquele Brasil que era visível para todos que festejavam Pelé, que estavam fazendo samba, música erudita, teatro, Cinema Novo, etc. Aquele Brasil foi decepado em 1964, em um golpe de estado, daquela vez exitoso. Violência, tortura e repressão provocaram o sufocamento do país e um enorme e visível emburrecimento. O Brasil se perdeu ali.

A tragédia do domingo último, cópia burlesca e anti-carnavalesca, do golpismo também tragicômico americano, de dois anos passados, quando o Capitólio foi invadido e igualmente depredado, revela que os brasileiros não conseguiram se reencontrar depois da ditadura.
O autodesconhecimento é trágico; mas reversível. A distopia que muitos brasileiros resolveram abraçar, ao ponto de tentar quebrar a democracia com paus, pedras e ignorância, precisa ser contida, no entanto.
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
Sobre o autor
Edmundo Siqueira
edmundosiqueira@hotmail.comBLOGS - MAIS LIDAS
De acordo com as primeiras informações, José Francisco Barbosa Abud foi encontrado enforcado
A decisão, decorrente de ação proposta pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro no ano de 2007, já está transitada em julgado e não cabe recurso
Velório e sepultamento aconteceram neste domingo (27) na Capela São Benedito, em Goitacazes; familiares e amigos relembram a trajetória de vida de Alberto
A necropsia aconteceu na manhã desta terça-feira; de acordo com o laudo prévio do IML, a morte foi por enforcamento
Lei traz reformulação na estrutura administrativa da gestão municipal, com criação de novas secretarias, extinção de outras e criação de novos cargos em comissão e funções gratificadas