Nathan Juran está entre Jack Arnold e Roger Corman como um dos famosos diretores de filmes B dos anos de 1950. Ele dirigiu “A vinte milhões de milhas da Terra”, “Simbad e a princesa” e ”A mulher de 15 metros”, os três de 1958. Essa é uma caraterística dos diretores de filme B: dirigir vários filmes num ano. Juran nem sempre se restringiu a baixos orçamentos. Ele contou com recursos para contratar os serviços do famoso Ray Harryhausen em filmes com Simbad e em “Os primeiros homens na Lua”, de 1964.
Em 1957, ele contou com o apoio das forças armadas dos Estados Unidos para realizar “The deadly mantis”, entre nós “O louva-deus mortal”. Se formigas, baratas, aranhas, ratos e outros pequenos e grandes animais podem representar uma ameaça para a humanidade, por que um louva-deus não pode? Não apenas os cristãos respeitam o louva-deus. Outras civilizações tiveram o inseto em alta conta. Sua posição de mãos postas evoca atitude de oração muito comum no cristianismo. Mas, cuidado. Ele é um predador implacável apesar da aparência. Inseto de notória inteligência, demonstrada nos movimentos da cabeça e dos olhos, o macho, após a cópula, tem a cabeça arrancada e comida pela fêmea.
Imaginem um louva-deus gigante! Juran imaginou e dirigiu um filme com ele. O roteiro trabalha com as forças da natureza e com as forças humanas. Uma erupção vulcânica no Atlântico sul provoca um grande degelo no círculo polar ártico, libertando um louva-deus gigante que existiu em eras geológicas remotas. Pelo filme, conclui-se que as forças armadas dos Estados Unidos são muito bem treinadas para a defesa e o ataque, mas, nas horas vagas, trabalham para o cinema.
Depois de elogiar os sistemas de defesa que os Estados Unidos construíram após o fim da Segunda Guerra, Juran mostra que certos inimigos podem burlá-los. É o que o louva-deus faz. Primeiro ataca uma base avançada. Depois, um avião. As únicas pistas são enormes pegadas de uma pata com três dedos e uma garra. O caso acaba no Pentágono, discutido por militares de alta patente e por cientistas renomados. Conclui-se que só um estudioso pode decifrar o enigma. Embora especialista, ele trabalha modestamente em seu laboratório, contando com os préstimos de uma fotógrafa, típica mocinha do cinema por cerca de uns 15 anos: bonitinha de rosto, seios acolchoados por sutiã de espuma, cintura fina e quadris largos. Como bem definiu um cabo que não via mulher havia muito tempo: um produto feminino legítimo que ainda estava sendo fabricado.
Depois de atacar uma aldeia esquimó e a principal base militar no ártico, arrancando gritos da mocinha, o louva-deus gigante alça voo para o sul. Irá para a América do Sul? Não. Como em vários outros filmes, ele passa em Washington, causa susto e acidentes, promove a aproximação amorosa de um oficial com a mocinha e se dirige para Nova Iorque. Desde “O mundo perdido”, da década de 1920, esses “monstros” do passado ou do espaço atacam cidades importantes: Londres, San Francisco, Roma, Washington, Nova Iorque. Esta última é o alvo predileto dos “monstros”. Suspeito que os filmes dos Estados Unidos mostrando Nova Iorque sob ataque inspiraram a Al Qaeda a derrubar as Torres Gêmeas.
Mas os militares e os cientistas norte-americanos acabam mostrando que são superiores a qualquer ameaça e acabam derrotando o louva-deus. E o par romântico fecha o filme com um beijo. Esperemos agora que o vírus da Covid-19 seja vencido.