Solar dos Airizes, um retrato do desleixo com o patrimônio
Matheus Berriel 12/06/2020 22:15 - Atualizado em 14/07/2020 13:32
Primeiro imóvel tombado pelo Iphan em Campos acaba de perder uma das janelas e parte da estrutura da parede
Primeiro imóvel tombado pelo Iphan em Campos acaba de perder uma das janelas e parte da estrutura da parede / Rodrigo Porto
Primeiro imóvel tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Campos, em 1940, e antiga residência do jornalista e historiador Alberto Lamego, o Solar dos Airizes luta há anos para resistir ao abandono. Adquirido em 2014 pela Teixeira Holzmann Empreendimentos Imobiliários, empresa de Londrina, no Paraná, o imóvel acaba de perder uma de suas janelas e parte da estrutura da parede da frente. Na última quarta-feira (10), houve uma reunião em caráter de urgência do Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural do Município de Campos (Coppam), por videoconferência, tendo na pauta a situação do prédio, que o Iphan diz estar acompanhando enquanto aguarda decisões judiciais. A Folha tentou contato telefônico e por e-mail com a Teixeira Holzmann, sem êxito.
— Por um acordo com os conselheiros, nós só vamos divulgar alguma definição sobre a ação do Coppam em relação ao Solar dos Airizes a partir de segunda-feira (14). A única coisa que posso dizer é que nós estamos tentando obter autorização dos proprietários para que a gente possa fazer uma visita. Só vamos divulgar qualquer coisa após a efetivação dessa visita — afirmou a presidente do Coppam, Cristina Lima.
Na terça-feira (9), em nota, o Iphan informou que “vem acompanhando a situação do Solar do Airizes, monumento marcante para a região e para o patrimônio cultural do estado como um todo. Correm na Justiça alguns processos para garantir a restauração do imóvel. O Iphan aguarda as decisões judiciais, assim como mantém as fiscalizações para garantir a preservação do bem tombado”.
Um dos integrantes do Coppam e representante da Associação Norte Fluminense de Engenheiros e Arquitetos (Anfea), o arquiteto Rodrigo Porto foi na última segunda (7) até a BR-356, entre Campos e São João da Barra, onde está situado o solar. A partir da visita extraoficial, observando apenas do lado de fora, ele acredita que a esquadria tenha caído sem sofrer intervenção.
— Tudo indica que se soltou de forma involuntária, cedendo para a parte de dentro do casarão, provavelmente pelo mau estado de conservação e intempéries — disse Rodrigo. — A presidente Cristina Lima está pontuando e, em breve, vai divulgar quais serão as providências do Coppam. O conselho segue nesse tipo de situação um protocolo quando o prédio vem a ruir parcialmente, seja uma esquadria ou alvenarias. É feito contato com o proprietário, o conselho se reúne e avalia as providências que irá tomar — pontuou o arquiteto após a reunião de quarta.
Até o final do século XIX, o Solar dos Airizes foi sede de um engenho de açúcar que veio a ser demolido. Tendo como estilo característico o colonial de inspiração neoclássica, na época do tombamento, o casarão abrigava seu mais ilustre morador, Alberto Lamego. Além do purismo arquitetônico, o acervo do jornalista e historiador, incluindo mobiliário e pinacoteca, também foi considerado pelo Iphan para tombar o imóvel.
Popularmente, o Solar dos Airizes é conhecido ainda por ter inspirado o romancista e poeta Bernardo Guimarães a escrever o romance “A Escrava Isaura”. Contudo, segundo a historiadora Rafaela Machado, diretora do Arquivo Municipal Waldir Pinto de Carvalho, não há provas sobre a presença de Bernardo nas terras do solar ou registros oficiais de que o autor tenha visitado Campos.
Solar dos Airizes
Solar dos Airizes / Reprodução/Rodrigo Porto

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