O ex-governador Anthony Garotinho (PR), preso preventivamente pela Polícia Federal na última quarta-feira, não virá para sua “casinha da Lapa” para cumprir prisão domiciliar. Como informou a jornalista Camilla Silva em seu blog Preto no Branco, Garotinho recebeu alta do hospital Quinta D’Or nesta terça-feira (22). A informação é da delegada Carla Dolinski, da Polícia Federal em Campos:
— Ele acabou de chegar (por volta das 10h) ao apartamento para prisão domiciliar, que ele pediu para ser no Flamengo. O Garotinho vai ficar no apartamento até a decisão final. Isso foi decidido pelo TSE. Se ele informou que tem domicílio no Rio também, domicílio é um conceito amplo. Pelo que entendi, ele prefere ficar no Rio e vai ficar.
O imóvel onde Garotinho ficará é o mesmo onde ele foi preso e que gerou polêmica. Como mostrou a jornalista Suzy Monteiro, em seu blog Na Curva do Rio, o imóvel, em área nobre da capital fluminense, estaria em nome da filha de uma funcionária da família Garotinho. Já o filho do ex-governador Wladimir Garotinho, em programa de rádio no dia posterior ao da prisão, informou que o imóvel seria alugado.
Garotinho passou uma noite em Bangu
Garotinho foi preso na quarta-feira no Flamengo por decisão do juiz da 100ª Zona Eleitoral de Campos, Glaucenir Oliveira, que cobre as férias de Ralph Manhães, como líder do “escandaloso esquema” da troca de Cheque Cidadão por votos. De lá, seguiu para Superintendência da Polícia Federal e deveria ser transferido para Campos. No entanto, alegou um súbito mal-estar e foi internado no hospital Souza Aguiar, onde passou a primeira noite preso.
Na quinta, ele foi levado para a UPA do Complexo Penitenciário de Bangu após uma decisão de Glaucenir que determinou sua transferência. Ele se recusou a sair do hospital municipal, foi levado à força, com direito a gritos da mulher e prefeita de Campos, Rosinha (PR), e da filha e deputada federal Clarissa (sem partido). As cenas da transferência logo se espalharam pelas redes sociais, com direito a memes. Ele passou a noite na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Complexo de Gericinó.
Na sexta-feira, laudo da UPA de Bangu atestou que a unidade tinha condições de atender o ex-governador, como Aluysio Abreu Barbosa mostrou no blog Opiniões. No entanto, decisão da ministra Luciana Lóssio, do TSE, liberou o ex-governador para tratamento em hospital particular pago por seu próprio bolso, e, posteriormente, prisão domiciliar. Já nos primeiros minutos do sábado, Garotinho deu entrada no Quinta D’Or.
No domingo, Garotinho foi submetido a um cateterismo e a implantação de um stent. No mesmo dia, ele se recusou a ser examinado por uma equipe de peritos do Ministério Público, por ordem do juiz da 100ª. Glaucenir alegou suspeitar da idoneidade do médico Marcial Raul Uribe, que cuida do ex-governador. No blog Ponto de Vista, Christiano Abreu Barbosa mostrou que o médico já foi demitido pelo ministério da Saúde e teve cargo por indicação política quando Garotinho era governador. Para Uribe, o posicionamento do juiz se deve a “questões políticas”.
Mesmo sem a colaboração de Garotinho, os peritos tiveram acesso à documentação médico-hospitalar do ex-governador. No parecer técnico, divulgado em primeira mão no Ponto de Vista, eles afirmam que “o governador estava respirando em ar ambiente, sem precordialgia, em boas condições clínicas e com os sinais vitais e todos os parâmetros dentro da normalidade”. Segundo o MP, Garotinho tinha 60% de obstrução no ramo descendente posterior da coronária direita.
Enquanto Garotinho esteve internado, gravações telefônicas interceptadas no curso da investigação foram reveladas. Revelada neste blog, em uma delas o ex-governador tentaria uma manobra para barrar as investigações. No Fantástico do último domingo, outras gravações mostram Garitnho afirmando que teria “contato” com Luciana Lóssio e que a ministra, que concedeu liminar, estaria por dentro do assunto. O TSE informou que “todos os ministros têm idoneidade moral e que todas as decisões da Corte refletem profundo embasamento teórico”.
Nesse meio tempo, também, o juiz Glaucenir Oliveira denunciou que ocorreram tentativas “milionárias” de suborno por parte de Garotinho e Wladimir, por meio de terceiros, para influenciar suas decisões. A defesa nega e representou contra o juiz da 100ª Zona Eleitoral pelo crime de “denunciação caluniosa”.
O ex-secretário de Governo de Campos, exonerado pela esposa na última segunda, é acusado de coação, compra de votos e associação criminosa.