Felipe Fernandes - Quando morrer vira profissão
*Felipe Fernandes - Atualizado em 19/03/2025 07:36
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Filme: "Mickey 17" - Após o estrondoso sucesso de "Parasita" e o histórico Oscar de Melhor filme em 2020, é inegável que a carreira do diretor Bong Joon Ho foi para outro patamar. Isso porque estamos falando de um dos diretores sul-coreanos mais reconhecidos, que desde o início do século já entrega filmes excelentes e que já havia sido descoberto por Hollywood anteriormente.

Após o fenômeno Parasita, era previsível esperar que ele retornasse para Hollywood e seu novo longa dialoga diretamente com as duas outras produções realizadas por ele nos Estados Unidos. São Sci-fi repletos de críticas sociais e grandes elencos, que narram histórias fantásticas abordando temas bem atuais.

Baseado no livro "Mickey 7" de Edward Ashton, o longa é uma comédia satírica que aponta para vários lados. Trata da questão ambiental, política, culto à personalidade, aos extremos do capitalismo, colonização, construindo uma mistura temática que tem muito a dizer, mas acaba se tornando um pouco conturbada, principalmente por que em meio a tudo isso, ainda tem uma história para contar.

O filme aposta nos exageros para construir sua narrativa e com isso reforça alguns absurdos que o filme retrata e remetem diretamente aos dias atuais. O fato da grande maioria dos personagens serem meio estúpidos, reforça um aspecto caricato daquela sociedade, que ressoa como algo que vemos em nosso dia-a-dia. É nessa mistura que o filme cresce.

Toda a questão da colonização, passando pelo dono da nave, interpretado por Mark Ruffalo, em uma clara alusão a Donald Trump e mesmo Ruffalo use uns trejeitos, ele nunca se limita a uma imitação, construindo um personagem cultuado por uma leva de fãs, que fazem de tudo para estar na nave junto a seu ídolo maior.

Falando do protagonista, Mickey é outro meio estúpido que por opção (mas meio sem querer), se torna o descartável, na crítica mais contundente da obra, ao capitalismo desenfreado, onde morrer se torna um ofício e Mickey passa a morrer e ser reimpresso, se tornando uma espécie de cobaia para todo tipo de experimento nesse processo de colonização e reconhecimento do novo planeta.

É curioso como a questão do descartável se torna banal. A cena dos cientistas jogando enquanto Mickey é reimpresso dá o tom perfeito da situação. O sofrimento é completamente desconsiderado, com Mickey se tornando alvo da curiosidade mórbida de vários membros da tripulação e se existe toda uma hierarquia, Mickey está no fundo dela, ainda que seu “trabalho” seja único e fundamental para o sucesso daquela missão.

Existe uma espécie de divisão de classes dentro da nave, a proposta de uma nova civilização em um novo planeta, leva todos os vícios de nossa sociedade. O próprio Marshall estabelece o plano de construção de uma raça pura, para conquistar o novo planeta, passando pelo extermínio das formas de vida dita irracionais que já habitam aquele lugar.

O humor do filme foca no absurdo e na estupidez de seus personagens, gerando situações inusitadas e divertidas. Nesse sentido, a atuação de Robert Pattinson é excelente. Mais que dar diferentes características para personagens teoricamente iguais, mas que não são, o ator emprega um humor físico que funciona bem com a proposta do longa.

Se a primeira metade é eficiente em estabelecer as regras de toda a situação, a segunda metade precisa costurar a narrativa, abraçando todos esses temas e essa mistura acaba prejudicando a narrativa. São elementos que surgem do nada, personagens que perdem relevância e posteriormente voltam pro centro da história, tudo em uma obra de ritmo crescente, uma artifício muito comum em filmes que precisam lidar com muitos temas e questões.

No final, Mickey 17 é uma bagunça absurda e gostosa de assistir, que diverte ao mesmo tempo em que aborda diversos temas Importantes e atuais, construindo uma crítica contunde, típica dos sci-fis do diretor, um mestre em fazer cinema, sem abrir mão de criticar a sociedade, seja pelo drama ou pelo humor.

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