Empresa dona de navio que colidiu com a ponte é carioca e tem raízes em Barra de Itabapoana
Christiano Barbosa 15/11/2022 14:43 - Atualizado em 15/11/2022 21:00
O navio graneleiro São Luiz, ancorado na Baía de Guanabara desde 2016, se desprendeu ontem devido a fortes ventos que atingiram o Rio e colidiu com a Ponte Rio-Niterói, causando estragos e, por muita sorte, nenhuma fatalidade.
A Ponte chegou a ser fechada por horas, causando um nó no trânsito do Rio e de Niterói. Ela foi atingida entre os pórticos 11 e 12, no sentido Niterói-Rio, trecho usado frequentemente por campistas quando vão para o Rio. Com danos leves, a ponte teve o tráfego liberado no final da noite. O assunto foi noticiado aqui no Folha 1.
Ontem à noite, uma postagem local no Instagram circulou nas redes sociais, afirmando que uma tradicional família campista era dona do navio, sem citar qual seria, suscitando especulações de todo o tipo, como é natural neste tipo de publicação.
O navio pertence à Navegação Mansur SA, uma empresa fundada no Rio de Janeiro em 1966 e desde então sediada lá. Seus sócios atuais são Jorge Brunama Simão, presidente e controlador da empresa, sua irmã, Izahia Simao Mezher, e seu tio, Farith Mansur. Os dois primeiros vivos. Farith, já falecido, na década passada, e com a sua parte na empresa e demais bens em inventário.
A origem da Navegação Mansur SA remonta ao século passado, quando foi fundada, na atual São Francisco de Itabapona, a empresa Sociedade, Comercio e Industria Navegação Ltda, com 3 irmãos como sócios, Michel Simão, Simão Mansur e Farith Mansur.
A família é originária de Barra de Itabapoana, onde o pai deles, Mansur Simão, aportou quando veio do antigo império turco, no início do século passado. Ali ele conheceu Izahia Saleme, também imigrante, vinda do Líbano.
Em Barra de Itaboapona eles fincaram suas raízes e formaram sua família, tendo, além dos 3 filhos, 2 filhas, Nazira Saleme e Atinah Mansur. Barra de Itabapoana então pertencia a São João da Barra, passando a fazer parte de São Fransciso de Itabapoana quando o município foi criado em 1995.
O primeiro barco da empresa, de madeira, tinha o nome de São Luiz, e saiu de Barra de Itabapona para vender produtos no Rio. A empresa cresceu, teve grande sucesso e passou a investir em outras áreas, além de navegação e estaleiro, com a aquisição de fazendas.
Simão Mansur, um dos 3 irmãos sócios da empresa, enveredou, com sucesso, pela política, sendo deputado estadual no Rio por 12 anos e vice-governador. Na década de 60 os irmãos decidiram separar seus negócios. Simão Mansur ficou com as fazendas e os imóveis. Michel Simão e Farith Mansur com a navegação. Um com a terra, os outros dois com a água, como se convencionou entre eles a divisão.
Assim foi fundada a Navegação Mansur Ltda, em 1966, empresa da qual Simão Mansur jamais foi sócio. A Navegação Mansur Ltda tinha como sócios Michel Simão, considerado o cabeça do negócio, com 30%; seus filhos Jorge Brunama Simão e Izahia Simão, cada um com 20%; e Farith Mansur, com 30%.
Naquela época a política do governo federal era de forte investimento no setor naval, com linhas de financiamento, atingindo seu ápice no final da década de 70, quando o Brasil se tornou a segunda potência na indústria naval do mundo, atrás apenas do Japão.
A Navegaçao Mansur Ltda se desenvolveu, adquiriu novos navios, e se expandiu sob o comando de Michel Simão, sendo transformada em S/A em 1991. A empresa em seu auge chegou a ter 25 navios e a ser considerada a maior empresa de cabotagem do Brasil.
Ela passou por concordata no início da década de 90, iniciando a navegação de longo curso neste período. A primeira viagem ao exterior foi até o Iraque, com o navio Espírito Santo. Em 1994 foi lançado ao mar, com pompa e circustância, champagne e presença do então governador Leonel Brizola, o São Luiz, novo navio da Navegação Mansur SA, construído pelo estaleiro Caneco.
Navio graneleiro São Luiz
Navio graneleiro São Luiz / Reprodução
 
Logo após ser lançado, o navio graneleiro São Luiz, cujo nome foi inspirado na primeira embarcação da família, conseguiu um polpudo contrato de transporte de bauxita no Porto do Itaqui, situado ao lado de São Luís, no Maranhão.
É exatamente este navio, 28 anos depois, com a empresa agonizando, que colidiu ontem com a ponte. O declínio da empresa passa pelas mudanças do setor naval, pela abertura do setor de cabotagem por FHC e pelo falecimento do controlador da empresa, Michel Simão, em 2002.
Assumiu em seu lugar, como diretor presidente, seu filho, Jorge Brunama Simão, novo controlador. Insatisfeito com os rumos da Navegação Mansur SA, tocada por seu sobrinho, Farith Mansur, sócio minoritário, entrou em 2006 com uma ação de prestação de contas contra Jorge Brunama Simão. Farith Mansur faleceu em 2015, sem desfecho para a ação, situação que perdura até hoje.
Em seu testamento, Farith Mansur, que não tinha filhos, deixou os bens para seus sobrinhos, filhos de suas duas irmãs (Atinah Mansur e Nazira Saleme), e para sua companheira Sonia Maria. Entre seus sobrinhos, sim, há campistas, já na terceira geração familiar após a chegada do patriarca ao Brasil no século passado. Eles somente serão donos de algum patrimônio após finalizado o inventário.
A família é originária de Barra de Itabapoana, São Francisco de Itabapoana, e daí se espalhou pelo Rio, por Campos e naturalmente com o avançar das gerações por outras cidades e pelo mundo. Os gestores e controladores da empresa, herdeiros de Michel Simão, são do Rio. Não são e nunca foram de Campos.
Sem jamais ter participado da gestão ou do controle da empresa (desde o íncio sob o comando do núcleo familiar de Michel Simão), com vidas profissionais próprias, os herdeiros de Farith, sem qualquer informação sobre o dia a dia da Navegação Mansur SA, entraram em 2020 com um ação de dissolução da sociedade e de prestação de contas, através do escritório carioca Basílio Advogados.
Diante da ameaça do abandono do navio São Luiz, ancorado desde 2016 na Baía de Guanabara e sem tripulação desde 2018, os herdeiros obtiveram, em 2021, decisão liminar do juízo solicitando imediatas informações sobre o abandono do navio. O presidente e controlador da Navegação Mansur SA, Jorge Brunama Simão, morador da Avenida Atlântica, no Leme, até hoje não foi encontrado para ser citado.

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