Mas estava cansado e adoecido. Morava em um barraco na freguesia de Inhaúma — o que mais tarde se tornaria subúrbio da grande metrópole Rio de Janeiro, fazendo divisa com outros bairros pobres como Pilares, Engenho de Dentro, Engenho da Rainha, Del Castilho e Higienópolis, além de parte do Complexo do Alemão. Já naquela época, era um local de miséria. Sentia que cada dia na situação de penúria em que vivia era como mais uma linha em sua sentença de morte: sozinho, desempregado, isolado e amaldiçoado por seu próprio talento e coragem.
Para garantir que a sanidade ainda andasse com ele, não o abandonasse como os outros, era preciso ao menos manter esperanças e projetos. Havia um, em especial, ao qual dedicava boa parte de seu tempo em Inhaúma. Achava uma ironia do destino que viesse parar naquela região que levava o nome do pássaro Inhuma, o Anhima cornuta. Ele se via como aquela ave, se identificava com sua cor preta, e mantinha um tufo de cabelo mais alto, já quase no bregma de seu crânio, pela calvície que aumentara – assim como o pequeno Inhuma, que ostentava um chifre pontiagudo sobre a cabeça. Havia desenhos sobre sua mesa de trabalho que, volta e meia, retratavam aquela simpatia de identificação com o animal.
Naquela tarde, não iria desenhar ou se debruçar sobre o “Santa Cruz”, nome que deu ao projeto. Estava terminando de escrever o discurso que havia rascunhado na noite anterior. Riscou uma ou duas frases, adicionou algumas palavras. “É isso.” Dobrou três vezes a folha e a colocou no bolso interno do terno. Em substituição da gravata borboleta, dois lenços: um branco, e o outro vermelho fosco. Passou a mão acima das orelhas para alinhar o cabelo, usou os dedos e unhas como pente, como se coçasse, e então repetindo o mesmo para a barba, que mantinha grande há bastante tempo. Olhou-se rapidamente no reflexo de um velho espelho do barracão e pôs-se a esperar o bonde do lado de fora.

Ele era jornalista, sempre no entendimento da importância da palavra. Também era escritor, com livros publicados, e ainda farmacêutico. Quando a República ganhava contornos de realidade no Brasil, ele já era vereador no Rio de Janeiro. O jornalista convertido em político convenceu-se que a República era a saída. Havia sido uma das principais vozes da abolição, e se tornaria, igualmente, aquele que proclamaria a República.
O bonde enfim chegara no ponto. Logo que subiu, foi reconhecido. Era seu aniversário naquele 9 de outubro. Sentou-se ao lado de um homem, e ouviu dele: “Que orgulho! Vou me sentar ao lado do campista que proclamou a República! Viva José do Patrocínio!”.
(Esse é um trecho de um livro inédito, de minha autoria, que será lançado em Campos, brevemente).
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
Sobre o autor
Edmundo Siqueira
edmundosiqueira@hotmail.comDe acordo com a PM, a vítima foi encontrada nua e pedindo socorro em uma rua da cidade
Técnico foi apresentado na semana passada, no dia 25 e não chegou nem a estrear
Joceli da Silva Martins foi uma das figuras do Folclore e do Carnaval campista, atuando como presidente do Boi Nova Aurora
Deputado afirma que disputará pelo grupo a federal ou estadual; diz que não há condições do presidente falar que não é para comprar ovo; e afirma que Bacellar preside a Alerj e governa o Estado ao mesmo tempo
Prevista para acontecer na próxima quinta, inauguração precisou ser adiada em função de compromissos inadiáveis do presidente Lula e do Ministro de Estado da Educação, Camilo Santana, que eram esperados na cerimônia