Alcimar Chagas - Contribuições para a reflexão sobre desenvolvimento socioeconômico nas mesorregiões Norte e Noroeste Fluminense
Alcimar Chagas - Atualizado em 12/04/2023 10:32
Alcimar Chagas
Alcimar Chagas / Folha da Manhã
O exercício de reflexão sobre a temática do desenvolvimento econômico nos leva a resgatar alguns elementos representativos, contidos nas discussões presentes na segunda metade do século passado. Ou seja, o espaço de nação como menor unidade de análise, a visão estratégica de atração de grandes empresas para os espaços periféricos, o investimento público como indutor do mesmo processo e, fundamentalmente, a esperança de automaticidade no que diz respeito ao espraiamento das externalidades positivas.
Os anos se passaram e a frustração foi evidenciada, já que o esperado desenvolvimento econômico sustentável com redução da desigualdade social não foi materializado. A resposta efetiva foi o aprofundamento do hiato entre países pobres e ricos. Os países chamados periféricos sofreram mais e viram a sua capacidade evolutiva se deprimir ao longo do tempo.
As nações mais desenvolvidas entenderam primeiro esta dinâmica e provocaram o debate sobre desenvolvimento regional, entendendo que o espaço de nação como a menor unidade de análise pode ser um problema, já que as suas correspondentes regiões apresentam diferenças marcantes.
Inicialmente, a tese do conhecimento e da inovação endógena foi considerada como estratégica para o avanço da competitividade das empresas mais bem qualificadas, condição esta garantidora de externalidades positivas. Por sua vez, este processo tenderia a afetar positivamente as outras empresas do mesmo território, dada a condição de proximidade. A visão de automaticidade do processo foi mantida, sem que se materializassem os resultados esperados. As desigualdades continuavam latentes.
Paralelamente, experiências vindas da Europa criavam grandes expectativas de transformação para as regiões periféricas. Pequenas empresas e instituições públicas e privadas de natureza diferente conseguiam se articular com foco em objetivos comuns. Usando múltiplas estratégias na busca pela competitividade empresarial no mercado globalizado, territórios especificos conseguiam gerar riqueza e bem-estar social, a partir do planejamento dos recursos locais/regionais. Importante a observação de que os pesquisadores identificaram um DNA propício à presente evolução nos mesmos territórios.
A organização produtiva dos Distritos Industriais da Itália e outras regiões da Europa exibiram o que podemos classificar de Capital Social, elemento fundamental na construção do processo de cooperação como mecanismo de desenvolvimento econômico. Podemos considerar neste processo a existência de aprendizado interativo na inovação industrial e no processo institucional.
Este contexto foi extremamente favorável à evolução da taxa de criação de empreendimentos responsáveis pela geração de emprego, renda, tributos e bem estar da população local. Na literatura internacional, podem ser observadas pelo menos duas formas de organização produtiva, segundo o contexto indicado. Uma organização do tipo top down, onde uma empresa-mãe coordena um sistema composto por um conjunto de pequenas empresas em uma estrutura vertical, e há uma outra, do tipo flexível, composta por um conjunto de pequenas empresas que atuam complementarmente, tendo como base a cooperação e reciprocidade.
A presente trajetória evolutiva do desenvolvimento econômico a partir dos esforços implementados, inicialmente com foco no mercado (segundo os economistas clássicos), a posterior mudança dirigindo o foco para o estado (demanda efetiva keynesiana) e o seu redirecionamento para a empresa (microeconomia neo-clássica) são fundamentais para reforçar o aprendizado necessário na busca de novas estratégias fundamentais para países e regiões com fragilidade socioeconômica.
Soma-se a esta discussão, ainda, a importância do esforço de investimento em ciência e tecnologia básica, capaz de potencializar a inovação endógena que antes ficou concentrado nas empresas ganhadoras. A heterogeneidade entre as mesmas unidades produtivas contribuiu para a centralização da inovação, fato que deve ser considerado no processo de busca das estratégias em benefícios de países e regiões periféricas.
A partir desta discussão, fica evidenciado que, em países com sistemas econômicos fragilizados (caso do Brasil), o processo de consertação socioeconômico precisa considerar aspectos muito especificos. A visão regional é fundamental e precisa vir acompanhada da necessária identificação dos recursos tangíveis e intangíveis no contexto do território. Esses representam insumos fundamentais do processo de construção do planejamento dirigido para busca de geração de negócios, com produtividade padrão no contexto das tecnologias disponíveis e, naturalmente, na investigação sobre a sua viabilidade econômica.
É necessário também desmistificar o foco da mão única (mercado, estado ou empresa). No território periférico, o foco deve ser dirigido para as instituições e empreendedores do espaço em análise. A cooperação e a reciprocidade são fundamentais e se fortalecem com base no seu DNA (capital social), onde as instituições são comprometidas e capazes de estruturar uma governança para a organização da produção em redes. Neste caso, cadeias de produção são planejadas para viabilizar uma estrutura de oferta de bens e serviços competitivos no contexto do mercado, assim como para consolidar as condições de bem-estar local.
Importante considerar que as instituições diretamente ligadas a este processo têm responsabilidades efetivas, e o comprometimento é a base dos resultados exitosos. A universidade e centros de pesquisa desenvolvem conhecimentos fundamentais, os governos têm a responsabilidade em dotar o território da infraestrutura necessária à mudança de patamar de qualidade devida, e os empreendedores têm o papel de produzir para atender às necessidades das famílias internamente e em outros mercados.

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