Genes ligados à insônia têm relação com outras doenças
07/08/2018 18:22 - Atualizado em 10/08/2018 16:52
Problemas para dormir são enfrentados por grande parte da população — só a insônia atrapalha o sono de 40% dos brasileiros, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Nem sempre, porém, os tratamentos disponíveis surtem o efeito esperado. Em busca de melhores opções terapêuticas, cientistas americanos resolveram investigar as origens desse transtorno. Identificaram sinais da origem genética da insônia e relações dela com outros problemas de saúde, como o diabete. Os resultados da pesquisa foram pulicados na revista Molecular Psychiatry.
Sabe-se que os efeitos provocados pela insônia podem ser debilitantes e agravados por outras complicações. Segundo especialistas, quando crônico, o distúrbio anda de mãos dadas com doenças cardíacas, diabetes tipo 2, transtorno de estresse pós-traumático e até suicídio. Além disso, estudos feitos com gêmeos mostram que traços relacionados ao sono são hereditários.
Com base nessas descobertas, o pesquisador da Universidade da Califórnia Murray Stein e colegas deles começaram a analisar as variantes genéticas envolvidas na insônia. “A melhor compreensão das bases moleculares será fundamental para o desenvolvimento de novos tratamentos, já que uma grande quantidade de pessoas sofre com esse problema, que tem diferentes sintomas e variedades”, diz.
A equipe analisou amostras de DNA de mais de 33 mil soldados, participantes do estudo do Exército para Avaliar Risco e Resiliência em Servidores (STARRS, pela sigla em inglês). Os dados foram agrupados separadamente conforme a ascendência — europeia, africana e latina —, para que fosse possível identificar a influência de linhagens ancestrais. Os autores também compararam os resultados obtidos com os de dois estudos recentes.
De forma geral, a pesquisa confirmou que a insônia tem uma base parcialmente hereditária: ela foi ligada à ocorrência de variantes no cromossomo 7. A variante do cromossomo 7 é próxima do gene AUTS2, associado ao consumo de álcool, bem como outros genes relacionados ao desenvolvimento do cérebro e à sinalização elétrica relacionada ao sono. Nas pessoas de ascendência europeia, também foram detectadas diferenças no cromossomo 9.
Os pesquisadores também encontraram forte ligação genética entre insônia e diabete tipo 2. No caso dos participantes de ascendência europeia, houve, também, vínculo genético do problema de sono e a depressão maior. “Essas correlações genéticas sugerem uma predisposição genética compartilhada para esses fenótipos comumente co-ocorrentes”, diz Stein.
O autor do estudo ressalta que os resultados concordam com teorias anteriores relacionadas à insônia. “Muitas dessas variantes se relacionam a ‘locais’ e ‘caminhos’ conhecidos por estar ligados ao sono e aos ritmos circadianos. Essas associações da insônia podem contribuir para o risco genético subjacente a uma série de condições de saúde, incluindo transtornos psiquiátricos e doenças metabólicas”, detalha.
Clínica — Os autores pretendem contribuir para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes. Segundo Gustavo Guida, geneticista do Laboratório Exame, em Brasília, a equipe americana tem explorado uma vertente importante para atingir o objetivo. “Temos cada vez mais dados que apontam para a origem genética da maioria das condições neurológicas, enxaquecas, depressão, esquizofrenia, etc. Assim como constatações de que muitas características individuais — lateralidade, padrões de sono, alimentação e resposta ao estresse, por exemplo — também são geneticamente influenciadas”, diz. “Descobrir as mutações associadas a esses sintomas permite compreender como eles funcionam e definir melhores abordagens para cada caso”.
O geneticista acredita que a equipe americana pode analisar medicações em uso, mesmo para outras doenças, em busca de fórmulas úteis para as variantes genéticas mais frequentes da insônia. “Hoje, é frequente termos medicamentos licenciados inicialmente para um tratamento sendo aproveitados, com grande sucesso, para outros. Muitos pacientes com enxaquecas graves se beneficiam de drogas criadas para o tratamento das epilepsias”, ilustra.
Para Guida, um dos próximos desdobramentos do trabalho deveria ser a confirmação dos dados. “É importante confirmar o efeito das variantes achadas em populações diferentes das estudadas, avaliar se algum modelo animal apresenta similaridade a essas variantes e qual a função exata dos genes envolvidos. Esse é o caminho para compreender como a insônia se desenvolve nesses pacientes e como tratá-la da melhor forma”, justifica. (A.N.)

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