Quando acabará a greve na Uenf?
Matheus Berriel 16/09/2017 19:45 - Atualizado em 18/09/2017 14:12
Uenf em greve
Uenf em greve / Antônio Leudo
“Nesse momento, a greve fragiliza a Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf)”. O posicionamento é do reitor da maior instituição de ensino superior público de Campos e região, Luis Passoni, que há um mês e meio, período em que a universidade está sem aulas, tem lidado com pressões de todos os lados. Enquanto os professores, que já receberam os salários atrasados de maio, junho e julho, mas seguem lutando por um calendário de pagamentos e pelo 13º salário do ano passado, os alunos vão sendo prejudicados pela greve.
— Diante desse cenário, a greve como instrumento, embora seja legítima e tenha funcionado bem em outros momentos, nesse momento, fragiliza a universidade. Precisamos, sim, fomentar o debate sobre o que está acontecendo, não só na Uenf, mas no país como um todo. Estamos vendo que se aplicam aqui as políticas de austeridade que foram um desastre na Europa. A gente precisa recuperar a capacidade de investimento do Estado, precisamos recuperar o investimento público, para conseguir dinamizar a economia e tirar o país do buraco. Tudo o que está sendo feito é no sentido contrário, com as políticas de austeridade que só agravam tudo. Então, nesse momento, a gente faria melhor se estivesse buscando manter as atividades acadêmicas e aproveitando esse espaço para discutir também a questão dos rumos que o país está tomando — afirmou Passoni.
Iniciada em 3 de agosto, com 65 votos favoráveis, 51 contrários e seis abstenções, a greve da Uenf já dura 45 dias. No final do mês passado, em nova assembleia da Associação dos Docentes da Uenf (Aduenf), foi definida a continuidade por tempo indeterminado, numa votação bem mais apertada apertada, com 51 professores favoráveis, 49 contrários e uma abstenção. Outra assembleia foi realizada na última quarta-feira (13), mas o tema não esteve na pauta.
— Desde o começo da crise, em 2016, a gente vem dizendo que essa crise das universidades, da educação, nas palavras de Darcy Ribeiro, não é só uma crise, mas um projeto. A gente vem alertando que isso está dentro do projeto neoliberal de fim do público, de criar um país só para ricos, que exclua completamente a população de menor poder aquisitivo. A universidade pública gratuita é um instrumento de ascensão social, justiça social, muito importante. Precisamos buscar outras formas de luta. Acho que é muito importante o pessoal do sindicato fazer discussões periódicas de avaliação e decidir, no coletivo, sobre a continuidade ou não da greve. Então, aguardamos a próxima assembleia. Ainda não divulgaram a pauta, mas acho que isso tem que ser discutido — completou o reitor da Uenf.
Em nota, a secretaria estadual de Ciência, Tecnologia, Inovação e Desenvolvimento Social informou que “vem se empenhando para normalizar os pagamentos dos servidores e funcionários da Uenf e segue comprometida em regularizar todo o custeio da universidade. Por isso, lamenta a decisão da categoria em manter a greve”. A secretaria ressalta que “a previsão para novos repasses depende da regularização da folha de pagamentos. Sobre o calendário de pagamento, isso é uma atribuição da secretaria de Fazenda.
Aduenf diz que não há previsão de retorno
De acordo com a presidente da Associação dos Docentes da Uenf (Aduenf), Luciane Silva, ainda não está definida a data da próxima assembleia, que vai acontecer ainda em setembro, possivelmente nesta semana, mas é certo que a continuidade ou não da greve será votada. No dia 20, representantes da Associação vão participar de um ato na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), referente à lei orçamentária de 2017.
Enquanto isso, nada de previsão de retorno das aulas. “Sabemos da importância da greve, que é uma forma dos servidores lutarem pelos seus direitos. A universidade não está apta para funcionar, não tem nada normal. E a greve é uma das formas de conseguir mudança. Mas, o lado ruim, é que atrasa a nossa vida. Somando com outras, já peguei uns seis meses de greve aqui na Uenf, já dá um semestre da minha vida acadêmica empacada. E não recebemos nenhuma previsão sobre o fim da greve”, reclamou Maria Teresa Manhães, estudante do quarto período de biologia.
Senador Lindbergh esteve em evento do DCE
Na última sexta-feira (15), o senador Lindbergh Faria (PT) esteve na Uenf e conversou com o DCE. No encontro, foram abordados variados assuntos, dentre eles o Restaurante Universitário. Segundo dados divulgados pelo reitor da Uenf, atualmente, o Restaurante Universitário do campus Darcy Ribeiro está servindo cerca de 500 refeições diárias. No período de aulas, o número girava em torno de mil, apontando uma queda de 50% da frequência na universidade. Atualmente, continuam indo à instituição os estudantes que fazem pós-graduação e os que participam de projetos de extensão ou iniciação científica. A queda no movimento representa falta de segurança para estes. Desde outubro de 2015 a universidade está sem receber repasses para manutenção, representando uma dívida na casa dos R$ 30 milhões.
— Nas últimas conversas que a gente teve na secretaria estadual de Ciência e Tenologia, foi dito e reafirmado que, com o plano de recuperação fiscal homologado, seja colocada em dia a questão dos salários e comece a ser feito o acerto com os fornecedores. Então, nós aguardamos que ainda este ano a gente comece a ter um alívio. Mas, precisamos ter a garantia de um orçamento que a gente possa executar no ano que vem — disse o reitor Luis Passoni.
Em meio aos caos, uma notícia positiva. Depois de ter voltado na última semana de Brasília, onde esteve reunido com deputados e senadores do Rio de Janeiro pedindo emendas orçamentárias para 2018 e apoio à PEC 47, que trata do repasse em duodécimos para as universidades estaduais.
— O senador veio nos visitar, discutimos a questão das emendas, ele se comprometeu em colaborar para a manutenção das atividades do Restaurante Universitário e também na demanda dos duodécimos. Os deputados e senadores vão definir o total das emendas até o dia 20 do mês que vem. Estão na fase de receber as demandas para tentarem fazer os ajustes. Mas, o Lindberg já se comprometeu em colaborar com a universidade, só estamos aguardando a definição do valor — afirmou Passoni.

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