Transplantados em Campos preocupados após notícia de órgãos contaminados com HIV
Éder Souza - Atualizado em 19/10/2024 08:33
Transplante de órgãos
Transplante de órgãos / Divulgação - Secom
Com a divulgação do caso em que seis pessoas que fizeram transplantes de órgãos no Estado do Rio de Janeiro foram infectadas com HIV, pacientes transplantados e atendidos pela Associação Amigos do Rim, em Campos, receberam a notícia com muita preocupação. De acordo com a presidente da entidade, Greice Vasconcellos, muitos ficaram abalados emocionalmente e relataram que vão realizar novos exames. A Amigos do Rim tem cerca de 30 pessoas transplantadas cadastradas.
Greice Vasconcelos
Greice Vasconcelos / Foto: Rodrigo Silveira


“Alguns pacientes estão preocupados e vieram conversar com a gente. A gente está pedindo para que eles busquem o centro transplantador em que o procedimento foi realizado e converse com seu médico para que faça a solicitação de novos exames. Os pacientes que estão fazendo hemodiálise também ficaram desestimulados. A gente está vindo de uma campanha importante, que foi o Setembro Verde, que discutiu a doação de órgãos, e agora esse escândalo, essa falta de amor ao próximo. Foi falta de amor, cuidado e profissionalismo. A nossa equipe de psicólogos está tentando abraçar os pacientes e seus familiares para que eles não percam a esperança. Esperamos que o Estado e o Poder Judiciário tomem as medidas cabíveis. Infelizmente, foi um erro irreparável emocionalmente”, disse a presidente.

O incidente é inédito na história do serviço de transplantes do Estado. O erro foi em 2 exames do PCS Lab Saleme. A unidade privada fica em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e foi contratada pela SES-RJ em dezembro do ano passado, em um processo de licitação via pregão eletrônico no valor de R$ 11 milhões, para fazer a sorologia de órgãos doados. O serviço de transplantes no Estado do Rio de Janeiro, desde 2006, salvou as vidas de mais de 16 mil pessoas. De acordo com o médico infectologista Nélio Artiles, apesar do caso, que é inédito no país, o transplante no Brasil continua sendo muito seguro.
Nélio Artiles
Nélio Artiles / Rodrigo Silveira


“Foi algo muito excepcional e tem, infelizmente, a ver com questões políticas, questões de corrupção, questões especificamente criminosas, inclusive. O padrão é de uma segurança muito grande. É muito complicado a gente imaginar que algo do tipo aconteça. Essas pessoas envolvidas têm que ser enquadradas na Justiça, pela lei, de uma forma bem dura. Porque foi um crime e isso precisa ser exemplarmente conduzido”, disse o especialista.

Nesta sexta-feira (18), a Justiça prorrogou a prisão de quatro investigados no caso da infecção de transplantados por HIV no Rio, após erros do laboratório PCS Saleme. São eles: Walter Vieira, sócio do PCS Lab Saleme, médico ginecologista, responsável técnico do laboratório e signatário de um dos laudos errados; Ivanilson Fernandes dos Santos: técnico de laboratório contratado pelo PCS para fazer análise clínica no material que chegava da Central Estadual de Transplantes; Jacqueline Iris Bacellar de Assis: auxiliar administrativa que trabalhava no PCS Lab Saleme e cuja assinatura aparece em um dos laudos que atestaram que os doadores de órgãos não tinham HIV; Cleber de Oliveira dos Santos: biólogo e, segundo o PCS, um dos técnicos responsáveis por fazer a análise clínica no material que chegava da Central Estadual de Transplantes.

“Os laboratórios precisam demonstrar um padrão de qualidade. Não pode ser um laboratório que não tenha esse controle regulatório, justamente para que haja realmente a condução de um transplante de órgão de uma forma responsável. Há segurança, porém, tem que haver transparência. Transparência em todas as unidades, como quem é que faz a captação, como é feita a distribuição e quais são os laboratórios que são responsáveis e se tem controle de qualidade de acordo”, finalizou o médico.

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