Arthur Soffiati - Mundo em convulsão
* Arthur Soffiati 19/10/2024 07:59 - Atualizado em 19/10/2024 10:44
Desde seus primórdios, a economia do lucro vai bem. Suas origens estão no século XI, na Europa Ocidental. Para uns, é a mais avançada e perfeita economia. Unificou o mundo a partir do século XV. “Civilizou” outros povos com a dominação de terras não-europeias. Para tanto, matou e exterminou povos de outros continentes; arrancou africanos de suas terras e os levou para outra, escravizando-os. Até onde pôde, levou outros povos a se envergonharem da sua cultura.

A empresa colonial foi um sucesso. As resistências foram debeladas com guerras sangrentas. Os vencidos foram obrigados a aceitar a cultura ocidental, repetindo-se no mundo o que aconteceu na Europa: uma minoria se deu bem, obrigando a maioria a trabalhar. Mas tinha de ser. Afinal, apenas uma elite nasceu para ganhar dinheiro, pensar, escrever, pintar, esculpir, compor música etc.

Os pobres estão nessa condição por incapacidade de ser ricos. Como dizia o bispo campista Joaquim José da Cunha de Azeredo Coutinho, os nativos da América e os africanos têm direito à superior civilização europeia. O caminho para chegar lá, para os primeiros, é desmatar e pescar. Para os segundos, é aceitar a escravidão. Houve alguma mudança de lá pra cá. Existe um caminho mais suave para os pobres que vivem em favelas no mundo todo, sejam homens, mulheres, negros, brancos e de outros gêneros: o empreendedorismo. Afinal, todos os humanos são iguais. Eles têm direito a uma fatia do grande bolo. Mãos à obra, gente pobre. Juntem algum dinheirinho e invistam. Tornem-se empresários. Abram seu próprio negócio, mesmo que seja pequeno, e deixem de mamar nas tetas do Estado. Este deve ser mais enxuto e até mesmo desaparecer.

Nós estamos no bom caminho. A economia do lucro é a melhor invenção da humanidade. Observem os avanços da ciência. Desenvolvemos tecnologia e medicamentos que curam doenças e prolongam a vida humana. Como? Só uma minoria é beneficiada? Não é totalmente verdade. É uma questão de tempo. Tenham paciência. A medicina chegará a todos até porque ela é uma fonte de lucro. Não temos preconceito. Queremos o dinheiro de todos. Vejam os velhos aposentados. Dizem que eles não apresentam mais valor econômico. Injustiça. Eles pagam planos de saúde, compram remédios, ficam mais tempo internados que os jovens, consomem. A economia tem interesse nos velhos.

E não apenas. Nunca antes neste planeta desenvolveu-se uma economia capaz de explorar as riquezas que Deus nos deu. Elas estavam nos rios, nas florestas, nos mares, embaixo da terra, no espaço sideral. Desenvolvemos tecnologias de exploração inimagináveis. Hoje, alcançamos grandes profundidades para trazer petróleo, carvão e gás natural à tona. Transformamos os mares num celeiro de alimentos para a humanidade. Fizemos o mesmo com a vegetação nativa. Ela foi e continua sendo substituída por grandes lavouras e pastagens. Em seu lugar, criamos um supermercado de alimentos para o mundo.

Apareceram pessoas que criticaram essa maravilhosa economia e propuseram utopias. Em alguns lugares, elas tentaram derrubar nosso sistema. Vejam o caso da Rússia, da China e de Cuba. Os dois primeiros fizeram muito estardalhaço, mas acabaram reconhecendo que a economia do lucro é a melhor de todas. Cuba continua pobre por insistir no erro.

Quanto à indústria de armamentos, temos a declarar que ela é necessária como forma de dissuasão. Até que todos se rendam à economia de mercado e reconheçam a superioridade do ocidente, precisaremos de poderio bélico para assustar os inimigos da democracia. O que Israel está fazendo no Oriente Médio é parte desse programa. Trata-se do único país democrático e capitalista daquela região. Os outros são muito atrasados do ponto de vista econômico, social e cultural. Israel quer o progresso e a paz. O ocidente reconhece que ele é um país ocidental encravado entre os bárbaros. Tem o direito de atacar esses bárbaros a sua volta para levar-lhe o desenvolvimento. Não podemos condenar a destruição que ele causa aos árabes. Se morrem muitos inocentes, é efeito colateral.

Existe ainda a crítica de uns sonhadores. São os ambientalistas. Eles nos condenam por destruir a natureza e tornar o planeta progressivamente inabitável. Reconhecemos que existem problemas com o clima. Porém, estamos empenhados em mudar a matriz energética. Gastaremos todos os combustíveis fósseis e partiremos para a energia solar e eólica. É cedo para mudar, mas não para trocar o discurso. Dizem que extinguimos espécies. Injustiça. Estamos a ponto de ressuscitar o mamute com a engenharia genética. Enviamos uma nave espacial para verificar a existência de vida numa das luas de Saturno. E estamos preparando um domo de ferro para nos proteger de algum possível asteroide que colida com a Terra. Não queremos que aconteça conosco o que aconteceu com os dinossauros. Pedimos apenas um pouco de paciência. Reconhecemos que existem problemas, mas vamos superá-los.
*Professor, historiador e ambientalista

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