Cinema - A pedra fundamental do terror de zumbi
O primeiro filme da carreira do diretor e roteirista George A. Romero, “A noite dos mortos-vivos” (1968), é um filme muito influente. É possível encontrar reflexos do longa até os dias de hoje. Mesmo que não seja o primeiro filme sobre zumbis, é, sem dúvidas, o filme primordial nesse subgênero.
Com um orçamento muito limitado, Romero cria um filme tenso ao utilizar um estilo de câmera quase documental, que provoca um forte realismo. A crueza das cenas e os zumbis praticamente sem nenhum tipo de estilização tornam tudo mais palpável e mais assustador.
Ele trabalha as relações do ser humano a partir de uma situação limite. Um grupo de desconhecidos acaba preso dentro de uma casa enquanto busca fugir de pessoas que, em um aparente transe, simplesmente estão atacando outras pessoas. Já não bastasse a tensão da situação, a relação entre os sobreviventes e a crescente desconfiança tornam tudo mais perigoso. O homem, vivo ou morto, é uma ameaça.
Outra escolha narrativa interessante é o uso do rádio e, posteriormente, da TV, não só para explicar muito do que está acontecendo, mas para estabelecer o nível da ameaça e a origem de tudo. Confesso que o excesso de explicação me incomoda, mas a crítica gerada por ela justifica sua inserção no filme.
Tudo o que acontece do lado de fora influencia, diretamente, na dinâmica dentro da casa.
Tudo o que acontece do lado de fora influencia, diretamente, na dinâmica dentro da casa.
Romero escolhe um homem negro como protagonista e torna o homem branco, pai de família, como o mais próximo de um vilão para a história. Escolha pouco usual para a época, que, junto a diversas críticas sociais ao governo, à guerra do Vietnã e à questão racial, revela o quanto o filme estava à frente do seu tempo.
Com um desfecho poderoso e assustador, Romero cria uma obra impressionante, provando que o cinema de gênero pode ir muito além do entretenimento, e que o cinema independente sempre será o espaço para a criatividade e para os artistas de vanguarda.