Wellington Cordeiro comemora 35 anos na fotografia com exibição de imagens nesta sexta
Matheus Berriel 03/10/2023 20:50 - Atualizado em 03/10/2023 22:56
Wellington Cordeiro com Evandro Teixeira em Atafona
Wellington Cordeiro com Evandro Teixeira em Atafona / Foto: Acervo pessoal
Os cabelos brancos vieram relativamente cedo, dando a Wellington Cordeiro um certo tom de seriedade — que é deixado de lado nos primeiros minutos de um bom papo, por vezes regado a goles de cerveja e embalado por muito samba. Por outro lado, os fios grisalhos serviram para ilustrar, fisionomicamente, a experiência de um profissional cujo talento também foi descoberto precocemente. Hoje com 51 anos de idade, o atual presidente da Associação de Imprensa Campista (AIC) completou 35 de fotografia. E os cliques feitos durante essas três décadas e meia são incontáveis, muitos deles tendo ilustrado matérias e colunas em diferentes jornais e revistas. As fases da carreira de Wellington serão lembradas em uma exibição de imagens nesta sexta-feira (6), às 19h, na Santa Paciência Casa Criativa. Entrada gratuita.
Wellington Cordeiro ainda era um adolescente, em 1988, quando percebeu que levava jeito para a fotografia. Isso ocorreu em um curso no Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio (Senac), feito somente porque o seu irmão mais velho, que havia se inscrito, não pôde participar devido a outros compromissos pessoais. Então com 15 anos, Wellington sequer tinha idade para participar do curso. Por sorte ou destino, foi aberta uma exceção.
— O diretor da época brigou na sede do Rio de Janeiro para que eu pudesse cursar — conta o fotógrafo, que se destacou naquele e em outros dois cursos posteriores, sendo convidado pelo professor Rodolfo Lins para trabalhar no seu estúdio fotográfico. Lá ficou até completar 18 anos, quando se apresentou às Forças Armadas, especificamente à Marinha, e passou a atuar como fotógrafo da Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia. Encerrado o serviço obrigatório, retornou a Campos, encontrando-se no fotojornalismo.
Wellington Cordeiro estreou na imprensa pelo jornal “A Notícia”. Em seguida, passou por “A Cidade”, chegando à Folha da Manhã em 1997.
— A Folha foi a minha grande escola — diz o profissional. — Eu já tinha uma base construída, mas a Folha sempre teve uma estrutura mais elaborada, e isso cativava o desejo de atuar no jornal. Destacaria as inúmeras viagens que fiz pelo interior de Campos e região, ao lado do querido jornalista Orávio de Campos Soares — acrescenta.
Do período de quatro anos na Folha, também ficou na sua memória uma matéria no Assentamento Zumbi dos Palmares, na área da antiga Usina São João, em 1999. Criado dois anos antes, o assentamento tinha pessoas morando em pequenas barracas de lona, caso de uma família fotografada por Wellington. Tocado com a realidade daquelas pessoas, o fotógrafo chegou a visitá-las dias depois, criando uma certa relação pessoal ao levar alguns donativos. Uma semana mais tarde, durante o trabalho, voltou ao local para cobrir um incêndio numa barraca, justamente aquela que havia registrado. Três das quatro crianças daquela família não resistiram ao fogo. Alexandro, Alex e Erivan morreram carbonizados, aos três anos, dois anos e cinco meses, respectivamente. Na manchete da edição da Folha em 17 de setembro, uma foto de Wellington Cordeiro mostrava o que restou da barraca.
— Foi o momento mais forte, mais marcante. Um dos dias mais difíceis para mim no jornalismo — recorda ele.
Wellington ficou na Folha até 2000, passando depois pelo “Monitor Campista”. Inclusive, a sua trajetória no fotojornalismo terminou em 2009, justamente com a última capa desse jornal, que na época era o terceiro mais antigo do Brasil em circulação. Durante a carreira, também teve fotos publicadas nos periódicos “Magazine” e “O Arauto” — este, criado pelo próprio Wellington com amigos —, além de ter emplacado um ensaio fotográfico na revista “Caros Amigos”, da qual era leitor assíduo. Como colunista, colaborou com os jornais “Mania de Saúde” e o já citado “Monitor Campista”.
Fora da imprensa, também teve realizações. No Amazonas, fez fotos e vídeos para um roteiro sobre a cidade de Barcelos, polo internacional de pesca esportiva. Trabalhando para a Prefeitura de Quissamã, registrou uma pesquisa iconográfica em Luanda, capital da Angola, em 2008. “Me senti o próprio Sebastião Salgado”, brinca, referindo-se a um dos seus ídolos na profissão. Foi essa admiração, inclusive, que o fez ser apaixonado por fotos em preto-e-branco. Entre outras influências, destacam-se Evandro Teixeira — ao lado de quem fotografou a praia de Atafona, em São João da Barra —, e o francês Henri Cartier-Bresson.
Instituições de ensino também fazem parte da vida de Wellington. Na época em que atuava nos jornais, também trabalhou no Laboratório de Fotografia da Faculdade de Filosofia de Campos (Fafic), tanto na cobertura de eventos quanto auxiliando na formação de futuros jornalistas. Após quase 20 anos na Fafic, passou a trabalhar na coordenação de Cultura da Faculdade de Medicina de Campos (FMC), sendo transferido, mais tarde, para a assessoria de Comunicação da Fundação Benedito Pereira Nunes, mantenedora da FMC, onde permanece.
Várias das principais fotos de Wellington Cordeiro foram publicadas, em 2008, no livro “Impressões”. Comentada por personalidades ligadas à cultura, a obra foi lançada na 5ª Bienal do Livro de Campos. Agora, o evento desta sexta-feira chega como um projeto mais amplo, englobando momentos marcantes dos 35 anos de atuação. Também são contempladas fotos tiradas sem cunho profissional, como a bela paisagem do Canto da Lagoa de Cima, onde curte seus momentos de descanso.
— Decidi fazer essa apresentação muito recentemente — explica Wellington. — Já não fotografo com a mesma frequência e emoção. Iniciei no laboratório manual, em preto-e-branco, e a passagem para o digital me desmotivou um pouco. Aliás, não sou nada tecnológico. Recentemente, meu HD externo, que continha quase tudo meu desde 2004, travou. Foi um desespero, pois tenho o costume de guardar tudo meu. Então, recolhi o que pude em outras mídias, até de CD. Daí, descobri que estava fazendo 35 anos de fotografia este ano — finaliza.
Equipe de fotografia da Folha no final da década de 90
Equipe de fotografia da Folha no final da década de 90 / Foto: Acervo pessoal
Redação da Folha no final da década de 90
Redação da Folha no final da década de 90 / Foto: Acervo pessoal
Juventude em Luanda
Juventude em Luanda / Foto: Wellington Cordeiro
A magia por trás da pesca
A magia por trás da pesca / Foto: Wellington Cordeiro
Detalhes do balé
Detalhes do balé / Foto: Wellington Cordeiro

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