Os campistas e a avenida do Canal quando se enfeita com o amarelo dos ipês
A avenida, uma das principais da cidade, tem nome e sobrenome: José Alves de Azevedo. A homenagem ao ex-prefeito e ex-deputado federal é justa, mas o apelido da via urbana ganhou vida própria, deixando ela como a famosa “Beira Valão”, presente no imaginário popular campista.
Com início no mês de junho, o florescimento dos ipês na avenida não passa despercebido. Os cachos amarelos das árvores tingem o caminho dos pedestres, dos motoristas e dos passageiros de vans e ônibus que usam a José Alves de Azevedo para fazer seus trajetos — vindo do Carvão, cruzando a Avenida Arthur Bernardes e 28 de março, a avenida dá acesso à ponte Leonel Brizola depois de passar pela Rodoviária Roberto Silveira, Parque Alberto Sampaio e Mercado Municipal.
Se a homenagem feita ao nomear a avenida é legítima, o apelido “beira valão” não é. O tal “valão” é um canal, o Campos-Macaé.
Com início no mês de junho, o florescimento dos ipês na avenida não passa despercebido. Os cachos amarelos das árvores tingem o caminho dos pedestres, dos motoristas e dos passageiros de vans e ônibus que usam a José Alves de Azevedo para fazer seus trajetos — vindo do Carvão, cruzando a Avenida Arthur Bernardes e 28 de março, a avenida dá acesso à ponte Leonel Brizola depois de passar pela Rodoviária Roberto Silveira, Parque Alberto Sampaio e Mercado Municipal.
Se a homenagem feita ao nomear a avenida é legítima, o apelido “beira valão” não é. O tal “valão” é um canal, o Campos-Macaé.
Construído em 1872, o canal serviria para o transporte de cargas e mercadorias entre os municípios da região. Desde sua abertura, foi possível transportar grandes quantidade de madeiras, vindas dos diversos sertões do entorno, em balsas apropriadas. Na inauguração, o vapor “Visconde” seguiu de Campos até Macaé, e consolidou a hidrovia aberta no canal como um elemento importante para o desenvolvimento.
O canal foi construído por pessoas escravizadas que viveram e morreram em Campos e região. O Norte Fluminense foi um dos principais recebedores de escravizados vindos da África. Trabalhando educação patrimonial, expedições escolares e acadêmicas poderiam ter o Campos Macaé como destino, para que essa questão fosse abordada.
Mas o que é chamado de valão, é considerado uma das maiores obras do Império. Possui cerca de 106 quilômetros, sem contar os canais de derivação. Falando em extensão, é o segundo maior canal artificial do mundo, superado apenas pelo Canal de Suez, no Egito.
Existem formas mais adequadas de chamar a avenida José Alves de Azevedo, mesmo sem a beleza dos ipês, nos meses em que eles não florescem. “Avenida do Canal” é um dos exemplos possíveis. A identificação e reconhecimento do canal pelo campista, como um item histórico e de pertencimento, passa por educação patrimonial, mas é também muito dificultado pelo seu abandono centenário.
Abandono
É verdade que o canal durou poucos anos como via principal de escoamento, sendo descontinuada pelas dificuldades de manutenção combinadas às vantagens oferecidas pelo uso da linha férrea.
“Em 1877, cinco anos depois da inauguração do canal, o diretor do Jornal da Bahia em viagem a Quissamã pela Estrada de Ferro escrevia que a linha férrea ia margeando quase sempre o célebre canal Campos-Macaé, que ainda permite navegação pequena, porém que em alguns lugares está quase seco”, demonstra em suas pesquisas a professora Ana Lúcia Penha, da UFF Niterói.
Porém, em seu perímetro urbano, o Canal Campos Macaé poderia servir não apenas como cartão postal quando os ipês colorem suas margens com o amarelo-dourado. É possível que água corrente volte ao canal, e que nenhum esgoto não seja nele depositado. É possível revitalizar a Avenida do Canal, e interligar o Mercado e o Parque Alberto Sampaio.
Esperança para o Canal e sua Avenida
Em meados de julho, o Governo do Estado do Rio liberou cerca de R$ 112 milhões do Fundo Estadual de Conservação Ambiental e Desenvolvimento Urbano (Fecam) para serem usados em canalização, urbanização, paisagismo e construção de uma pista auxiliar na Avenida José Alves de Azevedo — a Avenida do Canal.
A avenida passa a ser um cartão postal quando os ipês florescem. As redes sociais dos campistas ficam inundadas de fotos das belas árvores de folhagem amarelo-flor-de-algodão. Mas o canal pode ser um elemento de orgulho e objeto de fotos inspiradas, em qualquer época do ano. Os milhões do Estado trazem essa esperança, mas é preciso abrir a discussão com a sociedade civil.
“Beira Valão” não é um nome adequado, mas para tentarmos mudar a relação do campista com esse patrimônio, será preciso fazer com que o canal não seja de fato uma vala para escoamento de esgoto. O ipês e os campistas não merecem.
O canal foi construído por pessoas escravizadas que viveram e morreram em Campos e região. O Norte Fluminense foi um dos principais recebedores de escravizados vindos da África. Trabalhando educação patrimonial, expedições escolares e acadêmicas poderiam ter o Campos Macaé como destino, para que essa questão fosse abordada.
Mas o que é chamado de valão, é considerado uma das maiores obras do Império. Possui cerca de 106 quilômetros, sem contar os canais de derivação. Falando em extensão, é o segundo maior canal artificial do mundo, superado apenas pelo Canal de Suez, no Egito.
Existem formas mais adequadas de chamar a avenida José Alves de Azevedo, mesmo sem a beleza dos ipês, nos meses em que eles não florescem. “Avenida do Canal” é um dos exemplos possíveis. A identificação e reconhecimento do canal pelo campista, como um item histórico e de pertencimento, passa por educação patrimonial, mas é também muito dificultado pelo seu abandono centenário.
Abandono
É verdade que o canal durou poucos anos como via principal de escoamento, sendo descontinuada pelas dificuldades de manutenção combinadas às vantagens oferecidas pelo uso da linha férrea.
“Em 1877, cinco anos depois da inauguração do canal, o diretor do Jornal da Bahia em viagem a Quissamã pela Estrada de Ferro escrevia que a linha férrea ia margeando quase sempre o célebre canal Campos-Macaé, que ainda permite navegação pequena, porém que em alguns lugares está quase seco”, demonstra em suas pesquisas a professora Ana Lúcia Penha, da UFF Niterói.
Porém, em seu perímetro urbano, o Canal Campos Macaé poderia servir não apenas como cartão postal quando os ipês colorem suas margens com o amarelo-dourado. É possível que água corrente volte ao canal, e que nenhum esgoto não seja nele depositado. É possível revitalizar a Avenida do Canal, e interligar o Mercado e o Parque Alberto Sampaio.
Esperança para o Canal e sua Avenida
Em meados de julho, o Governo do Estado do Rio liberou cerca de R$ 112 milhões do Fundo Estadual de Conservação Ambiental e Desenvolvimento Urbano (Fecam) para serem usados em canalização, urbanização, paisagismo e construção de uma pista auxiliar na Avenida José Alves de Azevedo — a Avenida do Canal.
A avenida passa a ser um cartão postal quando os ipês florescem. As redes sociais dos campistas ficam inundadas de fotos das belas árvores de folhagem amarelo-flor-de-algodão. Mas o canal pode ser um elemento de orgulho e objeto de fotos inspiradas, em qualquer época do ano. Os milhões do Estado trazem essa esperança, mas é preciso abrir a discussão com a sociedade civil.
“Beira Valão” não é um nome adequado, mas para tentarmos mudar a relação do campista com esse patrimônio, será preciso fazer com que o canal não seja de fato uma vala para escoamento de esgoto. O ipês e os campistas não merecem.