Arthur Soffiati - Manguezal sem mangue em Portugal
A biodiversidade é apreciável, apesar de todas as ameaças. Existem, na área, a perpétua-das-areias (“Helichrysum italicum”), o cardo marítimo (“Eryngium maritimum”), o cordeirinho-da-praia (“Otanthus maritimus”), o estorno (“Ammophila arenaria”), o cravo-das-areias (“Armeria pungens”), o narciso-das-areias (“Pancratium maritimum”), a morraça (“Spartina marítima”) e a salicornia (“Salicornia ramosíssima”). São quase 50 espécies de plantas. A linaria algarviana (“Thymus lotocephalus”) é rara. A “Tuberaria major” é endêmica do Algarve.
Quanto à fauna, merecem destaque os cavalos-marinhos (“Hippocampus hippocampus” e “Hippocampus guttulatus”), ameaçados de extinção. É grande a diversidade de aves, mas pequena a de mamíferos. Destaque-se o cão de água português. Trata-se de uma raça rara com grande facilidade de natação. Ele ajuda os pescadores em sua atividade. O guia informou que ele tem membranas natatórias entre os dedos. É uma raça dócil.
Navegando nas águas de ria Formosa, pensei na lagoa do Açu e nos campos salinos de Barra do Furado. No Parque do Açu, em torno da lagoa Salgada, existem campos salinos com um pequeno bosque de mangue-de-botão. Eles precisam ser mais estudados e caracterizados. Em Barra do Furado, o campo salino atrás do bosque de mangue, já mereceu um estudo preliminar. Ambos carecem de mais atenção, lembrando-se que nenhum dos dois sofre as pressões antrópicas enfrentadas pelo Parque Natural da Ria Formosa. Ainda.
Em meio às paisagens naturais da Península Ibérica, profundamente trabalhadas ao longo de séculos, visitei áreas protegidas, que também sofreram e continuam sofrendo transformações por ação humana. Três me interessaram particularmente: o Parque Natural da Arrábida, o Parque Natural da Ria Formosa e a Laurissilva, na ilha da Madeira.
Destaco Parque Natural da Ria Formosa, onde se encontra uma paisagem similar às que conheço no Brasil. A área abrangida por ela não é propriamente uma ria, feição costeira formada por uma reentrância elevada na costa onde, geralmente, desemboca um rio. As rias ocorrem ao norte da foz do rio Tejo, principalmente na Galícia. A ria Formosa é uma costa toda recortada que se estende da Praia do Ancão a Manta Rota. Parece mais um arquipélago contíguo à zona costeira sul de Portugal, antes do estreito de Gibraltar. A área abrange cerca de 18.400 hectares no Algarve, região mais meridional de Portugal, com sede em Faro.
As principais ilhas desse arquipélago são Barreta, da Culatra, da Armona, de Tavira e de Cabanas. Elas são muito baixas e sofrem a influência direta das marés. Engano pensar que a água salgada impede o desenvolvimento de vegetação nativa. Muitas espécies de plantas se adaptam à salinidade em graus diferentes. O mesmo acontece no mais seco deserto. Um notável exemplo ocorre na zona intertropical com os manguezais, ambiente formado por plantas que desenvolveram sistemas para lidar com o sal. Ele é constituído por vegetação arbórea. Mas existem outros. A marisma ocorre nas zonas tropicais e fora delas, com plantas herbáceas. Em manguezais que contam com planícies costeiras banhadas por marés de sizígia, crescem plantas resistentes a altas salinidades no que comumente se conhece com apicum.
A rua Formosa é protegida desde 1978. De lá aos dias atuais, foi ganhando novos estatutos de proteção. Hoje, é um complexo classificado como sítio rasar. A vegetação que existe nele é chamada de sapal, o que corresponde a campos salinos. Nesse conjunto de ilhas e praias, desembocam algumas ribeiras (pequenos rios), tais como as de São Lourenço, Seco, de Marim, de Mosqueiros, Gilão, do Almargem e de Cacela.
Visitei a parte mais larga do arquipélago, em Faro, em viagem de barco com um guia formado em biologia. Um casal inglês estava conosco, mas pouco interessado. Conversei bastante com o guia, não sabendo se seu trabalho deriva de uma escolha própria ou por falta de trabalho como biólogo.
Ele explicou que, nas áreas intertropicais, esses campos salinos são ocupados por manguezais. Ele mencionava um ecossistema que me é particularmente caro. Na ria Formosa, eu estava navegando num manguezal sem mangue. Mas a área sofre ameaças. Aliás, nenhuma área protegida nos países por onde andei está inteiramente a salvo de empreendimentos perigosos. Existe agricultura na periferia da ria Formosa, ao longo dos cursos de água doce que desembocam nela. O turismo intenso é uma ameaça, assim como a excessiva navegação em suas águas. Por ter na sua retaguarda a cidade de Faro, pode-se supor os impactos que sofre do meio urbano contíguo. O aeroporto da área urbana situa-se em suas margens. Uma grande fábrica continua operando dentro da área e outras atividades impactantes localizam-se no seu interior. A pesca artesanal seria a de menor impacto se não tivesse sido capturada pelo turismo, que está exigindo a sobrepesca.
A biodiversidade é apreciável, apesar de todas as ameaças. Existem, na área, a perpétua-das-areias (“Helichrysum italicum”), o cardo marítimo (“Eryngium maritimum”), o cordeirinho-da-praia (“Otanthus maritimus”), o estorno (“Ammophila arenaria”), o cravo-das-areias (“Armeria pungens”), o narciso-das-areias (“Pancratium maritimum”), a morraça (“Spartina marítima”) e a salicornia (“Salicornia ramosíssima”). São quase 50 espécies de plantas. A linaria algarviana (“Thymus lotocephalus”) é rara. A “Tuberaria major” é endêmica do Algarve.
Quanto à fauna, merecem destaque os cavalos-marinhos (“Hippocampus hippocampus” e “Hippocampus guttulatus”), ameaçados de extinção. É grande a diversidade de aves, mas pequena a de mamíferos. Destaque-se o cão de água português. Trata-se de uma raça rara com grande facilidade de natação. Ele ajuda os pescadores em sua atividade. O guia informou que ele tem membranas natatórias entre os dedos. É uma raça dócil.
Navegando nas águas de ria Formosa, pensei na lagoa do Açu e nos campos salinos de Barra do Furado. No Parque do Açu, em torno da lagoa Salgada, existem campos salinos com um pequeno bosque de mangue-de-botão. Eles precisam ser mais estudados e caracterizados. Em Barra do Furado, o campo salino atrás do bosque de mangue, já mereceu um estudo preliminar. Ambos carecem de mais atenção, lembrando-se que nenhum dos dois sofre as pressões antrópicas enfrentadas pelo Parque Natural da Ria Formosa. Ainda.