Ano de poucas chuvas deixa situação do Rio Paraíba do Sul calamitosa
Yasmim Lima - Atualizado em 16/11/2024 10:33
Foto: Rodrigo Silveira
A baixa vazão do Rio Paraíba do Sul combinado com a falta de chuvas que ocorre na região desperta um alerta nos pesquisadores, isso porque desencadeia o aparecimento e a proliferação de algas, que geram a substância geosmina, como ocorreu neste ano no mês de julho. Com a cota do Rio Paraíba do Sul atingindo 3,72 metros, segundo a medição divulgada pela Defesa Civil na terça-feira (12), o momento ainda não é considerado favorável, com as vazões abaixo da vazão residual em Campos. Para especialistas a situação é ''calamitosa''.

De acordo com o diretor do Comitê da Bacia Hidrográfica do Baixo Paraíba, João Gomes Siqueira, julho foi considerado a segunda pior situação da história do Paraíba. O primeiro foi em 2014, sendo o pior caso em 85 anos. Há três meses com cota abaixo de 5 metros, segundo João Gomes, a água não chega aos canais e lagoas da Baixada Campista. Outro fato ocorre em São João da Barra durante a alta das marés que chegam a entrar a até 8 km rio a dentro, prejudicando, inclusive, o abastecimento na cidade.

Após quatro meses desde a situação do composto geosmina no rio, o comitê Baixo Paraíba, ele avalia como um caso ruim. A cidade, ressalta, está com vazões abaixo do residual e a causa disso é explicado pela falta das chuvas na região Sudeste. "As águas vêm dos afluentes de Minas Gerais e por conta do tempo, cerca de três meses sem chuva, a consequência é calamitosa", afirma e completa: 
“A situação da geosmina foi muito ruim, de forma que o comitê avalia que todos os anos isso acontece em maior ou menor grau. Hoje, com essas vazões abaixo da vazão residual, ela entra oito quilômetros. E isso muda toda a vida do estuário, toda a biota de peixes, plantas, abastecimento humano, pesca".
Foto: Rodrigo Silveira


Ele explica que os afluentes mineiros, Pomba, Muriaé, Preto e Paraibuna, são os afluentes do Paraíba mineiro de Santa Cecília até Campos, não choveu nessa região e eles estão com cotas também abaixo, com vazões abaixo das mínimas e a vazão na calha em Campos é o retrato do que acontece no rio. ''Os afluentes fluminense, Serra Fluminense, Petrópolis, Teresópolis, Friburgo e o rio Dois Rios também estão na mesma situação, eles não estão contribuindo com as suas vazões mínimas. Três meses sem chuva alguma, isso destruiu o rio e destrói qualquer rio. Isso é o que está acontecendo, nós estamos em uma situação calamitosa”, disse o diretor do comitê.

João Gomes conclui que apesar dos reservatórios de São Paulo, com o montante de 30% da vazão da água que chega ao Paraíba, é uma taxa fixa, que corresponde a 70 metros cúbicos, no Paraíba do Sul, os maiores afluentes são os mineiros e os fluminenses, logo, quando não chove em Minas, Campos não recebe água e com isso a população vem sofrendo com secas extremas ou cheias extremas.
Fim da necessidade do carvão adicional
A concessionária Águas do Paraíba informou que após o caso do aparecimento da Geosmina, provocado pela proliferação das algas, por conta do período sem chuvas e de muito sol, o Rio Paraíba continua segue monitorado. A necessidade, inclusive, de usar uma quatidade adicional de carvão para tirar gosto e odor da água, acabou.

Embora tenha causado um forte odor e cheio, a situação já está normalizada. Sobre a presença de organismos na água, os estudos apontaram na época, que não representavam perigo à saúde da população.

A seca extrema enfrentada nos meses de julho, agosto e setembro, agora, apresenta uma melhora. “Águas do Paraíba continua monitorando as condições do Rio Paraíba do Sul, que com as recentes chuvas apresentou boa melhora, não sendo mais necessária adequações no processo de tratamento. A concessionária reitera ainda que a água tratada distribuída à população atende a todos os parâmetros de qualidade e segurança exigidos pela Portaria GM/MS nº 888, do Ministério da Saúde", informou a concessionária em nota.
 
Foto: Rodrigo Silveira




Geosmina nas águas do Rio Paraíba

Em julho de 2024, moradores de diversos bairros da cidade começaram a relatar um forte odor e gosto ruim na água, que é captada do Rio Paraíba do Sul e distribuída pela concessionária Águas do Paraíba, que saia das torneiras. Pesquisadores do Laboratório de Ciências Ambientais (LCA), da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), e do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) colheram amostras do Rio Paraíba para análise. O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro acompanhou o caso desde o início e acionou o laboratório da Uenf e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para realizar as análises.

Na época, tanto os pesquisadores quanto a concessionária afirmaram que a situação foi causada por conta da proliferação das algas, que geram a Geosmina, responsável pelas alterações no odor e gosto da água. Isso ocorreu devido ao período de seca e a baixa vazão dos rios, o que afetou na qualidade bruta da água em diversos municípios. A informação foi confirmada pelo biólogo e diretor técnico do Projeto Piabanha, Guilherme Souza. Ele explicou que, sem chuvas e muito sol, as algas realizam mais fotossíntese, acontecendo a proliferação excessiva, o que resulta na produção de geosmina.
Ainda no mesmo mês, dia 30 de julho, o Rio Paraíba do Sul amanheceu com uma mancha nas águas. Após análises do Inea ficou constatado que a mancha era resultado do excesso de carvão ativado que foi utilizado pela Águas do Paraíba, na tentativa de tratar a água e resolver o problema contra a geosmina, fato que também foi confirmado pela concessionária.

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