Edgar Vianna de Andrade - Hitchcock: anos 20
*Edgar Vianna de Andrade - Atualizado em 23/04/2025 12:00
Reprodução
O famoso cineasta inglês Alfred Hitchcock começou sua carreira de diretor nos anos de 1920. Nessa década, ele dirigiu “The pleasure garden” (1925), “The mountain eagle”(1925, perdido), “O pensionista”(1927), “O ringue” (1927), “Downhill (1927), “Chantagem e confissão (1929), “A mulher do fazendeiro (1928), “Vida fácil” (1928), “Champanhe” (1928), “Pobre Pete” (1929) e “Assassinato” (1930).
Desses onze, assisti a “The pleasure garden”, “O pensionista”, “O ringue”, “Chantagem e confissão” e “Assassinato”. Nessa primeira fase de sua carreira, Hitchcock trabalha como os grandes diretores do cinema mudo. Sem dispor da palavra falada, ele aposta na atuação dos artistas, no roteiro e, acima de tudo, na câmara. Não basta contar uma história. Cabe saber como contá-la. E ele demonstra logo que saberia usar a câmara.
A cena inicial de “The pleasure gardem” é vertiginosa. Dançarinas descem correndo uma escada espiral. O roteiro é meio piegas: dois casais em que, num, a mulher casada, descobre que seu marido é um canalha. Com o outro, acontece o oposto: a noiva é fútil e troca um amor sincero pelo prestígio de um casamento com um nobre. É claro que o decepcionados terminarão juntos.
Já “O pensionista” se inspira na história de Jack, o estripador. Se o personagem principal tem atitudes suspeitas, se a moça e seus pais que o hospedam desconfiam dele em relação a uma série de mortes de jovens e louras mulheres, pode-se apostar que ele é inocente. Trata-se do primeiro filme de suspense do mestre inglês. O noivo da mocinha é encarregado de descobrir o assassino em série. Deseja que seja o rival misterioso, mas acaba por protegê-lo ao concluir que é inocente.
“O ringue” é, dos cinco a que assisti, a grande obra da década de 1920. Hitchcock trabalha com a infidelidade possível nesse tempo. Não só neste filme, como em outros. A namorada de um lutador de boxe de circo flerta com um australiano, também lutador de boxe. Já casada com o primeiro, ela não esquece o segundo. O casal mira-se num lago plácido. Uma pedra cai na água e distorce a imagem de ambos. Eles não sabem descrever suas emoções. A distorção da água fala o que eles não sabem dizer, anunciando o que vai acontecer. A técnica inferior do marido supera a ótima técnica do rival estimulado pela mulher que, até o último momento, torce para o rival, mas muda de lado.
“Chantagem e confissão” traz ingredientes que Hitchcock irá usar bastante em filmes futuros. Mais uma vez, a infidelidade. A moça namora um agente da Scotland Yard. Ela se encanta por um charmoso pintor. Vai ao apartamento dele. A sedução vai num crescendo até o momento em que o pintor tenta violentar a moça. Seria uma cena mostrável nos dias de hoje, mas proibida nos anos de 1920.
O homem puxa a moça para baixo de um pano, mas antes ela alcança uma faca. Movimentos em baixo do pano. A moça será deixada após o estupro ou o pintor aparecerá esfaqueado? Ela aparece, deixando claro que ele morreu. O namorado policial fica com a investigação. Um vigarista aparece dando a entender que ele conhece o segredo e faz chantagem. Trata-se de pessoa com ficha policial. Descoberto, ele tenta fugir entrando num museu, como em “Cortina rasgada” (1966). Foge da polícia subindo uma cúpula e cai dela, como em “Um corpo que cai” (1958).
“Assassinato” (1930) encerra a década. Com mestria, Hitchcock trata de uma moça condenada à forca por ter matado uma colega. Ela é inocente, sabemos logo, mas os jurados a condenam. Apenas um tem dúvida e decide fazer investigação por conta própria, descobrindo o verdadeiro culpado. Este foge da forca exatamente se enfocando no circo em que trabalhava. O diretor mostra um homem que se veste de mulher. É um andrógino. Ele se enforca na corda em que se balança. Hitchcock apenas mostra a corda do enforcamento esticada. O espectador que imagine.
Sou considerado um apreciador da estética do cinema. Sou mesmo. Roteiro é literatura. Interpretação é teatro. Geralmente, a trilha sonora é música menor. O cinema deve ter marca singular que o distinga das outras artes. Ela é a câmara, quase sempre negligenciada ou não percebida pelo espectador.

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