A hostilidade do clima e a metástase de uma sociedade doente
Edmundo Siqueira 06/05/2024 20:32 - Atualizado em 06/05/2024 20:36
EPA-EFE/REX/SHUTTERSTOCK

Na literatura e no teatro as tragédias são histórias cuja ação dramática tem um desfecho funesto. Na vida real, uma tragédia costuma ser assim definida quando um grande número de pessoas passa por uma situação extrema, por calamidades climáticas ou acidentes de grandes proporções.

A região sul do país passa por uma tragédia. No último boletim divulgado pelo governo do Rio Grande do Sul, às 9h desta segunda-feira (6), foram confirmadas 83 mortes, 276
feridos, 111 desaparecidos e 121.957 pessoas desalojadas. Ao todo, 850.422 foram afetadas pelas fortes chuvas que assolam o Estado desde a semana passada, em 345 dos 497 municípios gaúchos.

A solidariedade não deixou de estar presente em todo país: artistas, influenciadores, empresários, políticos e pessoas comuns doaram e angariaram doações para as pessoas que sofrem com as cheias no sul. Porém, houve também o uso politiqueiro da tragédia e propagação de fake news — aos montes.

Foto: Gustavo Ghisleni/AF
Desde ligações descabidas com o show de Madonna no Rio de Janeiro, onde alegava-se que o governo federal teria patrocinado o evento (a apresentação da cantora foi patrocinada pelo Itaú e pela Heineken, e teve apoio da prefeitura do Rio e do governo do Estado) enquanto os recursos deveriam ter sido direcionados para a tragédia climática, até informações que diziam haver uma mobilização do governo gaúcho para multar os barqueiros que fazem o resgate das vítimas (o que logo foi desmentido pelo Estado, por meio do Gabinete de Crise).


Desinformação em momentos como esse não são apenas graves desvios de conduta moral de quem cria ou divulga, mas são sobretudo obstáculos para que as ações mitigadoras dos riscos ainda existentes sejam corretamente aplicadas. E não raro provocam pânico em pessoas que vivem situações de extrema vulnerabilidade financeira e emocional.

O pensamento binário e a polarização afetiva que domina a política brasileira também é facilmente vista em comentários de redes sociais nas notícias veiculadas pela imprensa. Há os que comemoram o sofrimento dos sulistas por atribuir aos mesmos o alinhamento com o bolsonarismo e com o negacionismo climático, e há os que dizem ser eleitores do PT os autores das ondas de saques vistas nas cidades gaúchas.

Enquanto a sociedade deveria estar discutindo a emergência climática, as ações urgentes para a crise, ou ainda quais políticas públicas devem ser implementadas para que tragédias não voltem a acontecer ou para que pelo menos sejam aplacadas, o embate ideológico é a tônica. O que precisa ser feito fica em segundo plano, afogado por conflitos fabricados.

Vivemos um mundo doente, que insiste em provocar metástases. O desequilíbrio no clima e os eventos extremos são sintomas. A irracionalidade provocada por uma avalanche de notícias falsas e por incentivo ao ódio, impede que os anticorpos sociais sejam eficazes, deixa nublada a capacidade das pessoas em acreditar em instituições, na imprensa e na democracia. Essa é a tragédia funesta desses tempos.

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