Rosana Rodrigues: 'O jogo ainda não está ganho'
Mário Sérgio Junior - Atualizado em 10/08/2024 09:32
A reitora da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf), professora Rosana Rodrigues, foi a convidada desta sexta-feira (9) do programa Folha no Ar, da Rádio Folha FM 98,3. Ela opinou sobre as eleições municipais, que para ela são mais importantes que as nacionais, e afirmou que o jogo ainda não está ganho, apesar do que as pesquisas mostram. Rosana também falou das medidas que estão sendo tomadas em decorrência da denúncia anônima de assédio na universidade, assim como o aniversário de 31 anos da instituição e seu envolvimento na preservação do patrimônio histórico. Também foram abordados outros assuntos como a denúncia de irregularidades na concessão de bolsas de estudo, a ampliação do quadro de docentes e a escola de cinema.
Eleições municipais — Acho que esse é um tema de bastante relevância. O que muda o país, na verdade, é a eleição municipal. Quando as pessoas enxergarem que o que muda, o que tem uma influência enorme é o que o cara vai fazer na sua cidade, no seu município, como que vai ser trabalhada a questão da saúde, da educação, do trânsito. Não é o presidente da República que vai fazer isso, é o prefeito da sua cidade. Então, a gente precisa, de fato, trabalhar essa questão. E, assim, as pesquisas, elas dão um termômetro. É um termômetro importante, eu entendo isso claramente. Mas nós já vivenciamos no Estado, aí vamos falar do nível estadual, né? Então, nós tínhamos um candidato com 2% da intenção de voto, até a última semana antes da eleição, que foi eleito governador. Então, tem algumas histórias, alguns momentos históricos que nos surpreendem muito.

Eleição está aberta — Muita gente fala ‘já ganhou, então eu não vou votar’. Eu estava conversando sobre essa questão da eleição americana, que o voto não é obrigatório, enfim. Mas as pessoas já se acomodam, a história do candidato que já ganhou. Então ele não se movimenta tanto. Por outro lado, quem está abaixo nas pesquisas pode se movimentar mais e aí ter maior apoio no momento da votação. Trump falou isso ontem, que ele está uma semana sem fazer comício e falou que está muito à frente. Então aí as pessoas acham: ‘não, já ganhou, então não preciso ir votar’, ‘ele já ganhou, vou para praia, vou viajar, vou justificar’. Então, isso tudo faz parte desse movimento político. O jogo não está ganho, apesar das pesquisas indicarem isso e aquilo, todo mundo tem que trabalhar muito, e acho que isso é muito bom para o eleitor. Porque é preciso analisar a proposta de cada candidato.

Dependência dos royalties — Eu entendo que quanto mais bons candidatos a gente tenha, melhor para o município. E entendo que tem alguns temas que nunca são trazidos para o debate aqui em Campos, mas que é preciso trazer. Por exemplo, a criação de um fundo soberano com a questão dos royalties. Eu gostaria muito de ver isso sendo debatido. Aliás, agora como presidente do Fidesc, a gente vai propor um debate entre os candidatos.

Aprovação de Wladimir — As tendências, as pesquisas e a aprovação do atual prefeito indicam, claramente, uma possibilidade de ele ser reeleito. A gente gostaria era de ampliar esse debate. Para que também o prefeito eleito, seja ele quem for, ou prefeita eleita, que nós temos candidata também. Embora a Carla não vá mais concorrer, mas nós temos a delegada Madeleine aí na disputa. Então, a reeleição já mostrou que pode ser uma coisa boa, mas às vezes também pode não ser tão bom. Quem vencer o pleito, fica atento também para as suas entregas. O que é que vai entregar para o município? O que é que vai entregar para a população? Eu acho que é nesse sentido aí da gente ter debates bastante consistentes com essas demandas, com esses temas.

Denúncia de assédio — Assédio é crime, passível de punição legal penal e a disseminação de fake news também é crime passível de punição. Eu entendo que nesse momento nós precisamos nos posicionar muito claramente contra o assédio e contra a disseminação de notícias falsas. Na quarta-feira, dia 10 de julho, eu estava em Brasília, no Ministério da Fazenda, sendo recebida pela equipe do ministro Haddad, pelo secretário de políticas econômicas do governo federal para tratar sobre assuntos relacionados à Uenf, quando recebo a notícia de que havia no banheiro feminino do andar da reitoria cartazes colados anunciando, digamos assim, que tinha acontecido um assédio cometido por um coordenador de curso, que o caso foi levado ao diretor do centro, que nada fez, e que o assunto também teria sido levado ao meu conhecimento e que também nada tinha feito. Soube disso, eu estava em Brasília. Eu retornei na quinta-feira e, imediatamente, na quarta-feira mesmo, nós precisávamos saber o seguinte, se há uma estudante em sofrimento por estar sofrendo assédio, e ela se utilizou dessa dinâmica para fazer a denúncia, nós temos que saber quem é essa pessoa, acolhê-la e oferecer toda ajuda psicopedagógica e legal possível.

Busca à “vítima” — Nós recorremos às câmeras de segurança para tentar identificar e, claro, saber o que estava acontecendo e identificamos que não tinha sido uma aluna, que foi uma servidora da casa, que entrou no banheiro feminino e colou aqueles cartazes. As imagens são indiscutíveis, não há o que negar. E isso foi uma surpresa, novamente, para nós, porque aí soma-se a uma denúncia, que a gente entende falsa, porque a denúncia está feita em primeira pessoa. Então, se é uma servidora, ela tem muito mais conhecimento dos mecanismos de denúncia que nós temos, temos a ouvidoria. Recebemos lá reclamações sobre o bandejão e várias outras coisas que nós, claro, investigamos e respondemos. Somos obrigados a fazer isso. Somos acionados pela ouvidoria. Além disso, tem o fala.br e isso também está divulgado na nossa página. Nós temos também o próprio Ministério Público e outros meios de se fazer denúncias desse tipo em que a pessoa fica protegida, ela não se expõe, e é possível fazer algum tipo de apuração da denúncia.

Posicionamento — Eu entendo que apesar de nós ficarmos muito tristes com essa situação, de lamentarmos profundamente esse fato, nós também temos que encarar isso como uma grande oportunidade de nos posicionarmos claramente e de mostrarmos, não só para a nossa comunidade interna, mas também para a sociedade que nos ouve, que se espelha em nós, que nós não vamos tolerar essas ações dentro da universidade. No dia 10 nós tomamos conhecimento, verificamos nas câmeras de segurança. Isso foi uma quarta-feira. Na quinta-feira eu retornei de Brasília e na sexta-feira nós tínhamos uma reunião do conselho universitário. Então, depois de conversar com o vice-reitor, professor Fábio Olivares, nós decidimos apresentar uma denúncia. Uma coisa muito difícil da gente fazer, não é uma coisa simples. Conselho Universitário não é lugar para teatralização, nem para espetacularização de nada, mas eu precisava fazer essa denúncia para os conselheiros. Então, não divulgamos as imagens, não divulgamos nomes, não divulgamos fotos, nós tínhamos também as fotos, nós não divulgamos absolutamente nada. Foi aberto na segunda-feira, no dia 15, um processo administrativo interno que corre sob sigilo, então não teve divulgação de imagens. As pessoas que se sentiram caluniadas, e é uma forma de assédio e também uma forma de disseminação de fake news, procuraram os meios legais, então foram à delegacia, dentro dos seus direitos, e deram queixa dessa situação. Eu fui depor como testemunha e apresentei todas as provas que nós temos. O vídeo, inclusive, está nas mãos da polícia.

Cartilha — Nós temos hoje, na fase final de elaboração, uma cartilha que vai ser divulgada para a Uenf. Um manual nosso, porque o ano passado nós fizemos a divulgação de uma cartilha da Capes sobre assédio. Então, nós entendemos que agora é o momento de nós termos a nossa cartilha. A Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários está cuidando disso. Essa cartilha deverá ser aprovada na Câmara de Assuntos Comunitários e nela nós informamos passo a passo como o que é o assédio. Porque muitas pessoas sofrem assédio e não sabem nem que estão sendo assediadas. Existem diversas formas de assédio. Então, nós estamos elaborando uma cartilha com todas essas informações e, principalmente, o que fazer no caso de se reconhecer em uma situação de assédio.

Situação inaceitável — Nós não podemos permitir dentro da nossa instituição que uma pessoa que esteja em sofrimento por assédio não seja acolhida e não seja tratada da forma que tem que ser tratada. E, principalmente, o assediador ou assediadora não sofra nenhum tipo de ação por parte da instituição. Quando decidi denunciar ao Consuni, foi uma demonstração clara de que enquanto eu estiver ocupando a cadeira de reitora da instituição, esse tema não será varrido para debaixo do tapete, nós não vamos esconder isso e nem vamos tratar isso como um ato de menor importância. Vamos enfrentar esses assuntos, esses temas, tanto o assédio quanto a denúncia falsa, o denuncismo, a criação e a disseminação de notícias falsas.

Tentativa de atacar cargos — O que eu quero colocar é que a denúncia, a suposta denúncia, ela ataca, na verdade, três cargos eleitos democraticamente dentro da instituição. Ali não tem cargo de confiança. O coordenador do curso é eleito. O diretor do centro é eleito. E a reitora também foi eleita. Então, me parece também uma forma de você atacar a própria estrutura democrática da instituição. E o curioso é que os cargos são atacados. Então, são cargos eleitos, não são cargos indicados, cargos de confiança, não se trata disso. Se trata de pessoas que foram eleitas e, portanto, gozam da confiança de quem os elegeu.

Responsabilização dos envolvidos — Um servidor ou uma servidora pública que durante o seu horário de trabalho, que está sendo paga com dinheiro público para se utilizar da infraestrutura da instituição para fazer atos criminosos como esse, ela incorre em uma série de crimes. Essa pessoa está realmente disposta a responder e assumir responsabilidades por atos que são criminosos. Então, a nossa intenção é que isso não se repita mais na universidade. Por isso, essa denúncia ao Consuni e todas essas aberturas de processo interno administrativo e também depoimentos à polícia para a gente tentar mostrar que isso não é o caminho. Nós estamos em uma instituição pública e precisamos trabalhar em prol dessa instituição.

Apoio às vítimas de assédio — Nós temos um apoio psicopedagógico que está preparado para receber e acolher essas vítimas de assédio. Então, não se sintam culpados. A culpa nunca é da vítima. Nós temos a estrutura necessária para oferecer o apoio necessário, inclusive o apoio jurídico. Mas colar papéis no banheiro não é a forma mais eficiente de se fazer esse tipo de denúncia e, principalmente, se você não é estudante, se passar por alguém que é estudante para fazer esse tipo de denúncia.

Aniversário da Uenf — Na próxima semana, no dia 14, como parte do aniversário de 31 anos da Uenf, haverá na Fazenda Campos Novos uma oficina de capacitação para as pessoas entenderem como que é essa obra, como que é feito isso, porque que é tão demorado, porque que é tão minucioso. Você vai olhar as paredes, não é tijolo e cimento, é outra coisa, é outro material que está lá desde 1630. Então, isso é um trabalho extremamente cuidadoso. E a gente vai abrir isso para uma oficina.

Solar dos Colégio — A obra aqui do solar ela foi entre aspas subdividida em três etapas. A licitação do projeto já foi elaborada e agora, no dia 11 de julho, se eu não estou enganada, foi colocado dentro da legislação uma nova lista de checklist para obras. Então, a gente teve que voltar para conferir esse checklist. E aí, depois sim, essa licitação do projeto também vai ser aberta. Aí vai ter a empresa vencedora e eles vão fazer o projeto. E na sequência, com o projeto pronto, aprovado, abre-se então a licitação para a obra. E aí, como a questão central é o telhado, lá no Solar, a gente entende que, resolvendo a questão do telhado, a gente vai ter andado um bom pedaço dentro da restauração do prédio. Eu continuo reafirmando que vamos conseguir entregar esse prédio na minha gestão, essa é a nossa projeção.

Restaurante Universitário — Ele estava agendado para ser reaberto na quarta-feira e foi justamente quando ocorreu a questão da modificação das características sensoriais da água, com a questão do cheiro, do sabor. Então, como a gente ainda tinha que fazer lavagem de caixa d’água, e nós começamos a receber algumas mensagens de estudantes preocupados com o sabor, o cheiro, nós decidimos postergar a abertura do restaurante em função da necessidade da gente receber o laudo da Águas do Paraíba. Nós recebemos esse laudo na quinta-feira. E aí nós decidimos, então, abrir ontem (quinta-feira, 8).

Bolsas de estudo — Quando eu cheguei na Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, eu recebi, via Ministério Público, as mesmas denúncias. Então, supostamente, nós teríamos aí algum tipo de desvio na hora de conceder bolsas nos programas de pós-graduação. Quem fala uma coisa dessas não tem a menor noção de como são concedidas as bolsas. A bolsa, ela é concedida por meio de um edital público. Todo mundo pode acessar o que está dito no edital, os critérios, tudo. E podem, inclusive, entrar com recurso. Caso o estudante não receba a bolsa, ele também pode entrar com recurso. Mas a Uenf, ela tem uma característica sui generis. Todos os estudantes de pós-graduação que podem ter bolsas do ponto de vista legal, eles têm bolsas. Porque nós temos um forte investimento em bolsas na universidade. E nós prestamos contas disso. Então, a bolsa não vai para a conta do professor para depois ele passar para o estudante. Não existe isso.

Denúncias de irregularidades — Em uma das denúncias que foi colocada para a gente, é que juízes estariam recebendo bolsas. Nós recebemos o depoimento de vários juízes que são hoje nossos alunos em programas de pós-graduação e de egressos que nunca receberam bolsa. Então nós temos também agora uma série de manifestações de ex-alunos do programa e de atuais estudantes que refutam essas acusações porque participam da vida diária do programa e refutam essas alegações e essas acusações, mais uma vez, infundadas. É importante a gente reforçar isso, que as pessoas podem entrar com recurso e que nós temos, sim, diversos estudantes de pós-graduação que atuam no meio legal, que são advogados, que são juristas, que são juízes, que são promotores de justiça, inclusive. E que jamais receberam bolsa.

Escola de Cinema — Uma das minhas intenções é cravar uma bandeira na Escola de Cinema da universidade. A gente acompanhou a história dela lá atrás e a gente sabe que o modelo hoje de docência na Uenf não guarda muita relação com o que a gente tem na formação de recursos humanos na área de Cinema e de Comunicação de um modo geral. Mas eu entendo que a gente precisa fazer um movimento concreto e definitivo na direção de termos sim uma Escola de Cinema na universidade.

Escola de extensão em cinema — Nós temos discutido bastante a possibilidade de imediatamente nós criarmos dentro da escola de extensão da universidade uma escola de cinema, que vai fazer não só a capacitação de profissionais na área, mas também a formação de público nessa área de cinema. Então, é uma área bastante nova e que tem muita coisa para a gente fazer dentro da universidade. Nós não pensamos numa escola tradicional de cinema. Ela tem que ter uma pegada um pouco diferente para nós aqui. Ela seria então um embrião para quem sabe no futuro nós nos tornarmos aí uma referência nacional e quem sabe mais para frente ainda internacional em cinema.

Concurso — Pela nossa lei de criação, nós deveríamos ter hoje 600 docentes e temos 318. E também deveríamos ter aí 1.200 técnicos e estamos aí na casa dos 550. Entendemos que poderemos oferecer muito mais para a comunidade que nos cerca, se nós tivéssemos hoje essas pessoas contratadas, esses servidores dentro do nosso quadro.

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