Cobrança e sindicância no HGG com embates dentro e fora da Câmara
Rodrigo Gonçalves - Atualizado em 25/10/2023 08:57
Nildo Cardoso criticou a audiência de sexta, mas também cobrou punição caso do HGG
Nildo Cardoso criticou a audiência de sexta, mas também cobrou punição caso do HGG / Genilson Pessanha
A visita dos deputados estaduais Felipe Poubel (PL), Alan Lopes (PL) e Rodrigo Amorim (PTB) a Campos, na última sexta-feira (20), segue alimentando rodas de conversas nas ruas e debates nas redes sociais e na Câmara Municipal, onde o fim da pacificação entre Garotinhos e Bacellar é cada vez mais inflamado. Nessa terça-feira (24), a sessão no Legislativo municipal foi marcada, de novo, por cobranças e ataques dos dois grupos.
De um lado, a oposição voltou a pedir explicações sobre “funcionários fantasmas” no Hospital Geral de Guarus (HGG), após os parlamentares estaduais constatarem irregularidades no ponto de profissionais e recebem a confirmação por parte de uma funcionária da unidade que um médico, morador da Bahia, “empresta o nome para que outro profissional atue em seu lugar no HGG”. A Prefeitura de Campos informou, por nota, nessa segunda-feira (23), que abriu “sindicância para apurar todas as denúncias de possíveis irregularidades relativas a ausências não justificadas ou referentes a ponto funcional, adotando as medidas cabíveis e sanções previstas com todo rigor da lei, inclusive com demissão”.
Se o foco dos Bacellar tem sido os problemas constatados no HGG, os governistas criticam a audiência de sexta, que deveria tratar sobre ordem urbana e causou desordem, inclusive com denúncias de agressão à coordenadora do Centro Pop, Maria Júlia Eccard, por parte de segurança da Câmara Municipal. O caso já é investigado pela Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam), em Campos, que já estaria com as imagens de câmaras da Casa, da última sexta-feira, quando o prédio foi invadido na audiência.
O vereador da base Nildo Cardoso (União) foi um dos que comentaram sobre a audiência e se queixou da postura dos deputados na Câmara. “Nada do que eu estou falando aqui tira a responsabilidade das ações e das atitudes tomadas no HGG, quem estiver errado que seja punido. O prefeito tem da nossa parte aqui, vereadores da base, total apoio para dispensar, mandar embora (...) Agora, aquele que veio aqui em Campos para fazer um teatro dentro da nossa Casa, que ofendeu os vereadores, chamando de cagão aqui dentro, está fazendo o que nesses casos de violência no Rio? (...) Será que essa comissão foi para a rua, ou para algum lugar para dar o suporte à população que ficou sem transporte?”, discursou Nildo.
Na última sexta-feira (20), os deputados, aliados de Rodrigo Bacellar, presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), estiveram em Campos como convidados para a audiência e, antes, aproveitaram para fazer uma fiscalização no HGG, que, segundo eles, já recebeu cerca de R$ 60 milhões do governo estadual. Os parlamentares filmaram toda a visita e questionam sobre o médico da Bahia que estaria recebendo sem trabalhar. Eles também mostram folhas de ponto com assinaturas futuras, além de um áudio, atribuído a uma funcionária do hospital, pedindo que os funcionários comparecessem à unidade para acertarem o ponto.
No vídeo é possível também ver o superintendente do HGG, Vitor Mussi, ao lado do subsecretário de Saúde, Marcos Gonçalves, conversando com os deputados. Eles questionam se era de conhecimento dos administradores a “fraude”, apontando ainda suposta "conivência".
O vídeo mostra também que o caso foi levado à 146ª Delegacia de Polícia (Guarus). Uma servidora do HGG foi prestar depoimento na delegacia acompanhada pelo subprocurador geral, Gabriel Rangel. Ela também registrou um boletim de ocorrência pela forma como teria sido tratada pelos deputados, alegando abuso de poder.
Na ocasião, em Campos, Poubel chegou a dizer: "São denúncias gravíssimas, e quando estou fiscalizando não tem lado político, eu sou o povo", disse o deputado, que na audiência de sexta cobrou dos vereadores a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara para apurar as irregularidades, sendo informado por vereadores de oposição que já há um pedido protocolado na Casa.
O superintendente da unidade hospitalar, Vitor Mussi, no sábado (21), também gravou um vídeo. Ele falou que os fatos levantados estão sendo investigados, não sem antes pontuar a forma "truculenta" da abordagem dos parlamentares. "Medidas administrativas serão tomadas se necessário for, sem dano ao erário público e sem desassistência (à população)", diz trecho da fala de Mussi.
Investigações - Sem informar o teor do que foi levado à Polícia Civil, a delegada Natália Patrão informou que um registro de ocorrência foi confeccionado e o fato segue sendo investigado.
Já a Prefeitura, além de informar sobre a sindicância para apurar todas as denúncias de possíveis irregularidades no HGG, ressaltou “que em respeito a centenas de servidores públicos municipais, colaboradores e prestadores de serviço, que se doam e trabalham diariamente no HGG para cuidar de pessoas e salvar vidas, que não admite e não irá aceitar desvios de conduta profissional de qualquer natureza”. Além disso, conclui a nota destacando avanços, com o "Hospital Geral de Guarus sendo completamente reformado e modernizado, ganhando Nova Emergência e equipamentos, estando na sua segunda etapa de obras de reformas e modernização, em fase de construção de uma Clínica de Hemodiálise Regional, tendo passado de 2 mil atendimentos para 5 mil atendimentos mensais, e saltando de 96 para 153 leitos”.
Reprodução rede social
Wladimir se posiciona e Marquinho rebate pedindo explicações sobre “fantasmas”

Como mostrou a edição do último sábado da Folha, a audiência pública com a presença da Comissão de Combate à Desordem Urbana da Alerj na Câmara Municipal, na sexta, foi marcada por empurra-empurra, invasão da Casa, denúncia de agressão, trânsito interditado, atraso, gritaria e ataques políticos. A denúncia mais grave partiu da coordenadora do Centro Pop, Maria Júlia Eccard, que registrou na Deam ocorrência informando ter sido agredida por seguranças do Legislativo durante o tumulto na entrada da audiência. Nessa segunda-feira, o prefeito de Campos, Wladimir Garotinho (PP), publicou um vídeo em suas redes sociais falando sobre o caso. O presidente da Câmara de Campos, Marquinho Bacellar (SD), também usou a internet para se posicionar, inclusive rebatendo o prefeito.
Policiais da Deam informaram que solicitaram desde essa segunda-feira as imagens de câmeras de segurança da Câmara de Vereadores, para auxiliar nas investigações de denúncia apresentada. O Legislativo municipal, por sua vez, informou, por meio de sua assessoria, "que se antecipou aos fatos e entregou os vídeos do circuito interno de câmeras para a Deam. Todas as informações solicitadas pela delegacia, para apurar as denúncias de agressão, também serão concedidas. Internamente, as imagens também estão sendo analisadas e os funcionários envolvidos já foram ouvidos. Até o momento não foram encontradas imagens de agressão por parte dos funcionários da Câmara, o que desmonta a tese sustentada pela autora do boletim de ocorrência. A Câmara aguardará as investigações das autoridades competentes e continuará à disposição contribuindo para que os fatos sejam elucidados", diz a nota.
A confusão se deu porque muitas pessoas não conseguiram se inscrever para entrar no plenário, que tem capacidade para 250 ocupantes. Vereadores da base alegam que as regras de acesso ao plenário pelo público foram mudadas sem que eles tivessem sido informados oficialmente pela presidência da Câmara. Algumas pessoas que tinham somente a informação, anunciada inicialmente, de que o acesso seria por ordem de chegada acabaram forçando a entrada no saguão da Casa do Povo, que teve as portas de ferro fechadas em seguida.
Segundo Maria Júlia, um dos agentes fechou o portão e a machucou. Em seguida, já no plenário na sexta, a servidora avisou que iria tomar providências sobre a agressão que sofreu. Um registro de ocorrência foi registrado no final da noite ainda de sexta (20) na Deam, como lesão corporal. No boletim aparecem duas vítimas, mas a outra mulher não teve sua identidade divulgada.
Nesse domingo (22), Maria Júlia chegou a postar em suas redes sociais algumas fotos mostrando hematomas pelo seu corpo. E escreveu a seguinte frase: "Esses são alguns dos hematomas que estou pelo corpo depois da agressão de sexta-feira. Dói ter que ouvir que sou mentirosa, barraqueira ou oportunista. Para que não se repita, e que nenhuma mulher seja agredida e silenciada".
A Deam Campos informou apenas que "as vítimas foram encaminhadas para exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML). As investigações estão sendo feitas pela Equipe de Inquérito da Deam Campos”. A Folha tentou, nessa terça, atualização sobre o andamento da investigação e foi informada que as imagens enviadas pela Câmara ainda estavam sendo analisadas. Não foi divulgado um prazo para o resultado da apuração.
O prefeito Wladimir Garotinho gravou um vídeo prestando solidariedade à coordenadora do Centro Pop e afirmou que irá acionar o Ministério Público para que as medidas necessárias sejam tomadas.
— Pessoal, estou gravando esse vídeo, algumas pessoas acharam que eu nem deveria gravar, mas não consigo me manter em silêncio depois das fotos que recebi da Maria Júlia, conhecida como Maju, com várias marcas roxas pelo corpo depois da agressão que ela sofreu numa audiência pública na Câmara de Vereadores. Maju é funcionária da Prefeitura, é coordenadora do Centro Pop, um local público da Prefeitura que cuida de pessoas em situação de rua. Ela estava inscrita para falar na audiência pública e foi agredida por funcionários da Câmara de Vereadores. Maju, você não está sozinha. Conte com meu apoio, conte com meu carinho. Isso não vai ficar assim. Nós vamos acionar o Ministério Público, você já foi à Deam, já prestou depoimento e tenho certeza que as medidas serão tomadas — relatou o prefeito.
Wladimir também relembrou casos envolvendo a primeira-dama Tassiana Oliveira — cujas desculpas públicas foram pedidas por Rodrigo Bacellar à própria Tassiana e ao prefeito — e um ataque à sua mãe, Rosinha Garotinho, que ao se sentir agredida moralmente e ameaçada em um vídeo gravado pelo ex-vereador Marcos Bacellar, em agosto deste ano, registrou ocorrência na Deam. O patriarca dos Bacellar admitiu, na ocasião, que passou do ponto e pediu desculpas.
— Infelizmente, Maju, esse grupo de pessoas tem essa mania de agredir e atacar mulheres. Minha esposa já foi vítima de agressão verbal e psicológica, minha mãe também já foi vítima de agressão verbal e psicológica, e agora você de agressão verbal e física por esse grupo de pessoas. Então, conte com o meu apoio, com a minha solidariedade, e pode ter certeza que isso não vai ficar assim — relembrou o prefeito.
O presidente da Câmara, Marquinho Bacellar, também se manifestou sobre o caso pelas redes sociais e aproveitou para cobrar um posicionamento do prefeito “quanto à denúncia de funcionários fantasmas, feita pelos deputados”.
— Recebi de várias pessoas um vídeo do prefeito em que mais uma vez usa de uma bandeira política para abafar sua má administração. O que houve na Câmara foi uma audiência pública de grande sucesso em todo o estado do Rio de Janeiro, onde os deputados convidados receberam uma denúncia fora até o HGG e comprovaram o que a gente vem falando há tempo. Existem RPAs fantasmas da Prefeitura de Campos — falou Marquinho citando o caso de um médico da Bahia que receberia da Prefeitura sem prestar os plantões.
Marquinho também se manifestou sobre a denúncia de agressão contra os seguranças da Casa. “Se houve algum excesso por parte de algum funcionário da Câmara, será punido administrativamente, se comprovado. As imagens estão sendo enviadas à Delegacia da Mulher, assim como ao Ministério Público, e vão comprovar que não houve agressão por parte de nenhum vigilante da Câmara. O que houve, sim, foi uma agressão, uma agressão da Maria a um vigilante da Casa e uma agressão de vários militantes do senhor a outros vigilantes que se encontravam na Câmara. Então, prefeito, o que a gente precisa saber de você é se há funcionários fantasmas na Prefeitura de Campos. Você não fez um vídeo, não deu uma declaração até agora sobre a investigação dos deputados. Você vem falar de agressão a mulher mais uma vez para desviar o foco”, comentou Marquinho.
Se Wladimir não voltou, até a tarde dessa terça, a falar sobre o assunto, seu pai e ex-governador, Anthony Garotinho, usou as redes socais para criticar a audiência pública. “Quem conhece os deputados que vieram à Campos participar de uma audiência pública sabe que não queriam fiscalizar nada, vieram aqui fazer política (...) Mas nem por isso, o revelado deve ser ignorado. Se alguém assina o ponto e trabalha na Bahia, o responsável tem que ser punido. Se alguém assina o ponto do mês inteiro, sem saber se vai cumprir efetivamente o serviço, está cometendo um ato ilegal (...) Nada de jogar o erro para baixo do tapete. Quem errou que pague”, escreveu o ex-governador, que não deixou também de atacar Marquinho, os deputados que estiveram em Campos e também o presidente da Alerj. O presidente da Câmara comentou na tribuna as declarações de Garotinho e contra-atacou.
Outro a se posicionar na internet foi o líder do governo na Câmara, o vereador Álvaro Oliveira (PSD). “Na minha visão, a audiência foi uma enganação para todos. Vieram falar sobre ordem pública e causaram uma verdadeira desordem. Agrediram pessoas, mulheres foram desrespeitadas. Mas, também não poderia seguir em uma linha diferente disso. Seus assessores de luxo, que vieram da capital, por onde passam, eles agridem guardas municipais, policiais militares e servidores. Eu queria ter a oportunidade de perguntar sobre o trabalho na capital. Eu gostaria de saber onde está a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Uerj, aqueles fantasmas. Onde está a CPI do Ceperj, milhões de fantasmas”, gravou Álvaro em um vídeo publicado nas redes sociais.

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