Primeira mulher reitora da Uenf
A Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro tem a primeira mulher eleita para a sua reitoria. O resultado da eleição foi noticiado primeiramente no blog do jornalista Edmundo Siqueira, hospedado no Folha1, ainda na manhã de quarta-feira (20). Os votos dos alunos e dos servidores técnicos deram a vitória para a chapa 10 “UENFuturo”, encabeçada pela professora Rosana Rodrigues como reitora e pelo professor Fábio Lopes Olivares como vice-reitor. Eles perderam entre os docentes, recebendo 118 votos dos 280 válidos. Para a chapa vencedora, os desafios vão para além de unir uma universidade dividida, mas também melhorar a imagem externa da Uenf em meio à polêmica da demora para as obras de restauração do Solar do Colégio, onde funciona o Arquivo Público Municipal de Campos.
No geral, a chapa 10 obteve 51,4% dos votos, enquanto a chapa 30 (formada pelos professores Carlos Eduardo de Rezende e Daniela Barros) ficou com 48,51%. O percentual do resultado final foi calculado levando em consideração o peso na votação de 70% para o corpo docente, 15% para alunos e 15% para o corpo técnico-administrativo. Foram 1.303 votos para a chapa 10 entre os estudantes e 706 para a chapa 30. Já entre os técnicos, a chapa 10 obteve 327 votos, enquanto a Chapa 30 totalizou 74. Entre os docentes, a chapa 30 venceu com 162 votos. A eleição também registrou sete votos em branco dos alunos e 1 dos técnicos. Nenhum docente votou em branco.
As eleições para a nova reitoria tiveram início no último dia 16, nos polos do Cederj, e foram encerradas na terça-feira com a votação nos campi da Uenf em Campos e Macaé. O resultado está previsto para ser homologado no próximo dia 11, em cerimônia do Conselho Universitário (Consuni). A posse acontece em janeiro de 2024 para a gestão até 2027.
A professora Rosana, primeira mulher eleita para a reitoria da Uenf, disse estar honrada pela confiança. “Gostaria de dizer que estou muito honrada com a confiança que foi depositada em mim, por todas as pessoas que acreditaram na nossa proposta. É uma honra ser a primeira mulher a se tornar reitora de uma universidade do porte da Uenf. Posso dizer que estamos, eu e professor Olivares, muito felizes com o resultado. Teremos a oportunidade de interagirmos bastante com toda a comunidade interna e externa, liderando a proposição de ações que coloquem a Uenf em patamares cada vez mais elevados, Valorizando sempre os pilares sobre os quais a Uenf vem sendo construída: o ensino, a pesquisa, a inovação e a extensão, sem esquecer as pessoas e o compromisso com o desenvolvimento regional”, destacou a eleita.
Ela também defendeu o diálogo com todos será importante para a universidade. “A Uenf é uma só. Com o término do processo eleitoral, entendemos que seremos os gestores de toda a comunidade universitária e iniciaremos imediatamente os diálogos com todos os segmentos e setores para consolidação de um espaço democrático, respaldado por uma gestão que se pautará pelo diálogo e respeito. Aproveitar esse espaço também para agradecer a todos/as que participaram do processo eleitoral, uma festa democrática que deve ser sempre celebrada”, afirmou a nova reitora, que em entrevista à comunicação da Uenf, também disse: “Tanto eu quanto o professor Fábio Olivares, nós somos pessoas extremamente agregadoras, somos amantes do diálogo e uma das nossas propostas é de fato fazer essa pacificação no campus (...) Entendemos sim que vai ser um momento histórico para a instituição e acho que vai ser uma tarefa bem mais simples do que as pessoas imaginam, porque nós somos muito dispostos a dialogar com todos”.
Vice-reitora da Uenf na gestão atual, Rosana Rodrigues estava licenciada desde julho para concorrer às eleições. Durante a campanha, Rosana se colocou como uma opção de mudança, e tentou se afastar da imagem de “continuísmo” da gestão da universidade. Nas entrevistas na Folha FM 98,3, no programa Folha no Ar, no último dia 14, e ao blog do Edmundo Siqueira, a reitora eleita disse que faria diferente em diversas ações do atual reitor, Raul Palacio.
Rosana é graduada em Engenharia Agronômica e mestre em Fitotecnia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), além de doutora em Produção Vegetal pela Uenf e pós-doutora em Biologia Molecular pela University of Florida.
Nascida no Rio de Janeiro, Rosana está na Uenf desde a sua fundação, em 1993, quando iniciou o doutorado. Atualmente, é professora associada do Laboratório de Melhoramento Genético Vegetal do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA) e vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento de Plantas da Uenf. Atualmente, ela integra o Conselho Superior da Faperj e o Comitê de Assessoramento da Agronomia no CNPq. Atua principalmente nas áreas de Melhoramento de Plantas, Recursos Fitogenéticos para Alimentação e Agricultura, Resistência de Plantas a Doenças e Interação Planta-Patógeno.
Já o professor Fábio Lopes Olivares possui Graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), doutorado em Agronomia (Ciências do Solo com ênfase em Microbiologia e Bioquímica do Solo) pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), com período de estágio no German Research Center for Environmental Health (Munique-Alemanha).
Carlão diz o que espera da gestão
Procurado pela Folha ainda na quarta (20) para comentar o resultado da eleição e o que espera da nova gestora, o professor Carlão Rezende pediu um tempo até essa sexta para responder, o que aconteceu por volta das 15h. “Serei cauteloso para poupar o nome da nossa instituição, assim como não deixar a ideia de que o texto possa representar algum tipo de frustração diante do resultado da eleição”, escreveu Carlão, antes de transcorrer sobre a sua chapa, a forma que o pleito se deu e o que espera da reitoria eleita.
— Espero que a nova gestão não reproduza a política institucional empregada ao longo dos últimos anos e faça uma gestão com transparência, critérios acadêmicos objetivos, respeite os conselhos e colegiados desta instituição e honre o nome da Uenf com ética, responsabilidade e paixão, pois considero que estes componentes são fundamentais para uma retomada do pertencimento institucional para toda comunidade universitária que hoje se encontra em um nível preocupantemente baixo — disse Carlão.
Vencedora entre os professores, a chapa 30 teve também apoio de três diretores de centro da universidade. “A formação da nossa chapa foi ao encontro da inquietação de muitos docentes acerca da política de gestão institucional que perdura na Uenf por praticamente oito anos. A verdade é que sob a atual administração nunca tivemos qualquer nível de transparência sobre o uso dos recursos da instituição, e os colegiados e conselhos foram seriamente desrespeitados”.
Na Uenf, desde a sua fundação como professor, e, tendo participado de todas as eleições direta ou indiretamente, Carlão disse nunca ter visto nada semelhante ao que, segundo ele, ocorreu desta vez. “Algo que me incomodou terrivelmente foram as inúmeras interferências externas (ex.: secretários municipais, partidos políticos e de outras instituições), além de ter assistido com horror à falta de postura e respeito de pessoas que ocupam cargos de confiança na atual gestão que governa a UENF. Sou obrigado a destacar que foi criado um sistema de notícias mentirosas (as famosas fake News) em torno da nossa chapa”, afirmou.
Para ele, as “mentiras disseminadas” em pautas relacionadas aos estudantes, como o possível fechamento do restaurante universitário, e também entre os servidores técnico-administrativos, como acabar com os diversos auxílios, resultaram em “uma votação pouco expressiva” entre eles. “O comportamento deste grupo que ficou disseminando estas falsidades como um grande desserviço para uma instituição de ensino superior, principalmente na formação cidadã dos estudantes que era uma das metas deixadas por Darcy Ribeiro para a formação acadêmica oferecida na Uenf”.
O representante da chapa 30 também questionou a demora no resultado da contagem dos votos para cada chapa. “Durou quase 8 horas, um recorde nas eleições realizadas na Uenf (...) Até o momento não entendemos a causa dessa demora, porém, considerando todo o processo eleitoral, isto me pareceu mais um dos trágicos movimentos internos que envolveram a escolha dos nomes que irão ficar à frente da Uenf”, declarou.
A Folha demandou os questionamentos à comunicação da Uenf após receber a resposta de Carlão, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição. O mesmo fez com Rosana, que já havia informado estar viajando a trabalho.
Arquivo Público entre demandas
A reitoria eleita para a Uenf, tem sobre ela, antes mesmo de assumir, a expectativa em relação à recuperação do Solar do Colégio, onde funciona o Arquivo Público Municipal. O pleito da universidade aconteceu em meio à polêmica do atraso na reforma do Solar, que tem R$ 20 milhões liberados pela Alerj à Uenf desde outubro de 2021.
— Os colegiados e conselhos foram seriamente desrespeitados. Isso ficou evidente quando reitor, Prof. Raul Palacio, assumiu diversos compromissos públicos que acabaram gerando uma exposição negativa da Uenf, como é o exemplo do interminável imbróglio envolvendo a reforma do Solar do Colégio — destacou Carlão, salientando a “falta de transparência”.
A chapa dele assim como a da eleita Rosana Rodrigues fizeram visitas ao Solar durante a eleição. Ao participar do Folha no Ar, da Folha FM 98,3, dessa sexta-feira (22), a coordenadora do Arquivo Público Municipal Waldir Pinto de Carvalho e a historiadora, Rafaela Machado, ressaltou o que espera da nova gestão desde já. “Espero celeridade. Acreditei tanto no compromisso do Carlão quanto no da Rosana de que o processo da obra vai ser tocado como deve ser tocado. Existe o trâmite burocrático, mas também existem as pessoas que devem se empenhar para fazer esse trâmite burocrático não ficar emperrado. Então, não só peço à Rosana e a Uenf que esse processo continue caminhando, como que haja celeridade, entendimento de intervenção emergencial, entendimento de que é urgente que esse processo aconteça. A obra do Arquivo não pode ser vista como uma obra qualquer”, cobrou a historiadora, que também disse esperar da nova reitoria que a Uenf faça um melhor uso acadêmico do espaço do Arquivo Público.
Ainda no programa, que pode ser conferido na íntegra em vídeo publicado nas redes sociais da Folha FM, Rafaela falou sobre as condições do prédio histórico e todo o impasse que envolve a obra.
— A gente não pode isentar a Uenf da responsabilidade. Afinal de contas, o reitor é, justamente, a representação da universidade. Mas, também, colocar na conta da Uenf como um todo eu não quero fazer, porque acho que não é justo com a universidade e não é justo com a história que a Uenf tem com o solar e com o Arquivo. Eu acredito muito que foi uma conjuntura muito equivocada, uma sucessão de erros e empecilhos burocráticos administrativos que não foram vencidos a tempo e que resultaram em questões muito inflamadas entre Prefeitura e Uenf. Obviamente, as pessoas queriam ver o processo acontecer, a obra ser iniciada. Nós estamos em setembro, quase outubro de 2023, e ainda efetivamente sem obra. Embora tenhamos caminhado muito, a verdade é que a gente não tem um prego batido lá até o momento. Mas, a gente conseguiu caminhar em algumas frentes — comentou.
A urgência para a restauração, assim como a importância do Arquivo, é conhecida por todos, como Rafaela fez questão de ressaltar em vários momentos da entrevista. “A gente tem ali o edifício mais antigo de Campos e uma documentação mais antiga ainda. O prédio é de 1652, e a gente tem documentos lá de 1649, quando isso aqui era um povoado, nem vila era, antes da primeira Câmara. Quando chove, eu pego o meu carro e toco para lá. O que eu posso fazer? Nada ou pouca coisa! Mas, eu tenho que estar lá vendo onde está a goteira, que brinco que agora é cachoeira, porque a água tem descido pelas paredes. Então, precisa existir o entendimento da urgência dessa obra e de que esse trâmite burocrático tem que ser vencido rapidamente dentro da Uenf”, reforçou.
Ainda segundo ela, o projeto para a colocação de uma sobrecobertura metálica sobre o Solar está sendo entregue agora. Vai para a etapa de licitação. Enquanto a gente aprova no Iphan, a licitação já tem que estar em curso. Eu tenho a expectativa de que, ainda este ano, a gente inicie o processo da sobrecobertura, que é essa parte externa que vai cobrir todo o edifício durante todo o período da obra”, disse.
Ao participar do Folha no Ar do dia 14, Rosana falou sobre o compromisso assumido não só com a gestão do Solar e com a Prefeitura de Campos, mas principalmente com a população. “A comunidade deseja ver o prédio restaurado, ele é muito importante e precisa ser assumido pela próxima gestão da universidade. Nós não podemos deixar de ter uma solução de continuidade dentro desse processo da restauração do solar”, comprometeu-se.