A Igreja da Lapa em Campos é irrefutavelmente cartão postal. Cenário da lenda mais famosa do folclore do município, o “Ururau da Lapa”. Entretanto, neste momento, os olhos se voltam para a necessidade de reforma do complexo histórico, localizado na área central. Há expectativa dele ganhar uma pintura neste ano, porém, uma árvore que cresce no telhado da igreja preocupa e chama atenção para a necessidade de preservação do espaço. A preocupação se faz necessária. Nos últimos anos, Campos tem vivido a cultura do abandono e na sequência a demolição do seu patrimônio arquitetônico.
O conjunto arquitetônico (asilo e igreja), erguido em 1748, na atualidade pertence à Santa Casa de Misericórdia de Campos. A Folha tentou, porém sem sucesso, contato com os representantes da Santa Casa para obter informações quanto às providências que serão tomadas. Cogita-se que a Santa Casa terá ajuda da iniciativa privada do município para pintar o prédio.
— É extremamente preocupante essa vegetação no telhado. A Santa Casa precisa tomar providências urgentes, sob o risco de danificar a Igreja — diz Genilson Soares, ex-presidente e atual tesoureiro do Instituto Histórico e Geográfico de Campos.
Ao ser questionada se já esteve no local para avaliar a situação da árvore no telhado da igreja, a Secretaria Municipal de Defesa Civil informou que não recebeu nenhuma notificação a respeito do problema. Caso receba, tomará as providências.
A igreja localizada em uma curva e de frente para o Rio Paraíba do Sul remete a tantas tradições, lendas e histórias. Ela também é uma das mais antigas igrejas de Campos. O espaço que pertence à Santa Casa tem somente o templo religioso cedido à Diocese de Campos para a realização de missas. “A Igreja utiliza o espaço, apenas no momento da missa, toda a estrutura no entorno, energia, espaço é de responsabilidade da Santa Casa”, informa a assessoria da Diocese.
Sempre atento ao patrimônio histórico da cidade, muitos antes de assumir o cargo de subsecretário de Turismo, o empresário Edvar de Freitas Chagas Junior, fala da importância das ações para a preservação da história de Campos. Ele torce para que a Santa Casa consiga o apoio necessário da iniciativa privada para pintar o prédio. “Sou um apaixonado por Campos e pelo patrimônio é sempre louvável quando ocorrem parcerias da iniciativa privada para a manutenção dos nossos prédios históricos”, ressalta.
História - O prédio do Asilo da Lapa, no século XIX, foi destinado ao Seminário e serviu, posteriormente, como sede do Liceu de Humanidades. É neste espaço, que segundo a lenda, reside o Ururau da Lapa - figura mitológica presente no folclore de Campos.
É descrito como um jacaré descomunalmente grande, encontrado nas curvas do os do Rio Paraíba do Sul. Aparece na obra O Coronel e o Lobisomem de José Cândido de Carvalho. À margem do Rio Paraíba do Sul é um dos mais belos cartões postais de Campos, por sua vista privilegiada.
De acordo com os historiadores, a construção da Igreja começou em 1740. Possuía duas torres, mas em 1863 uma faísca elétrica fundiu a cruz das torres situadas no lado esquerdo do templo, causando sérias avarias. Em 1872, recebeu sua primeira reforma.
Quanto a lenda... conta-se que no ano de 1786, a filha de um coronel muito rico se apaixonou por um cortador de cana muito pobre. Esse tal coronel, senhor de muitas terras (que achava que tudo podia!) não gostou nada de saber que sua filha havia se apaixonado por aquele homem sem posses... Insatisfeito, resolveu dar um fim àquele amor, jogando o rapaz no rio Paraíba do Sul, bem em frente ao Convento da Lapa... Dizem que o Deus das Águas, indignado com tamanha violência do tal “Coronel” com o pobre apaixonado, resolveu transformar o rapaz num enorme jacaré de papo amarelo, o Ururau. O tal jacaré, gigantesco, toma conta do tal sino de ouro, no fundo do Rio Paraíba. Também teria sido ele, que nunca mais encontrou sua amada, que levava as meninas do Convento da Lapa, em noite de lua cheia.
