Comissão mista propõe criação da Casa de Cultura Ao Livro Verde e outras medidas para salvar a livraria
Matheus Berriel - Atualizado em 14/10/2023 07:55
Adelfran Lacerda, relator da comissão, apresentou as propostas na Cãmara
Adelfran Lacerda, relator da comissão, apresentou as propostas na Cãmara / Foto: Genilson Pessanha
No último dia 13 de junho, quando a Ao Livro Verde completou 179 anos de existência, lideranças empresariais, do turismo, da cultura e da imprensa de Campos se reuniram no estabelecimento para um café da manhã, dando início a um movimento de apoio à livraria mais antiga do Brasil. Duas semanas antes, no dia 31 de maio, o atual dono do empreendimento, Ronaldo Sobral, entrara com um pedido de autofalência a 5ª Vara Cível da Comarca local, alegando brusca queda nas vendas de livros e produtos escolares, bem como uma dívida de R$ 1.886.264,91. Diante dessa realidade, muitas instituições se uniram em uma campanha, que culminou com a criação de uma comissão mista sobre o tema na Câmara Municipal. O relatório dessa comissão foi apresentado em audiência pública, terça-feira (10), tornando públicas 19 propostas que visam ao não fechamento e à perenização da livraria para as próximas gerações.
— Não que todas sejam possíveis, mas a maioria que for possível vai ser fundamental e indispensável para que a gente comemore, no ano que vem, os 180 anos da livraria Ao Livro Verde, e, daqui a 100 anos, os nossos filhos, netos e bisnetos se orgulhem dessa luta que a gente está enfrentando — disse o jornalista Adelfran Lacerda, relator da comissão mista e um dos mentores da campanha SOS Ao Livro Verde, que conta com apoio de mais de 50 entidades e cerca de 2.100 assinaturas em um abaixo-assinado.
Uma das propostas da comissão é a desapropriação dos dois imóveis que formam o prédio da Ao Livro Verde, à rua Governador Teotônio Ferreira de Araújo, evitando que um dia venham a ser demolidos ou abandonados. Outro passo considerado importante é a criação da Casa de Cultura Livraria Ao Livro Verde, que funcionaria no próprio local, como um marco da revitalização do Centro Histórico de Campos. Nesse equipamento, haveria espaço para a manutenção de uma livraria, bem como áreas para venda de artesanato e souvenirs, exposições artísticas, pesquisas, cursos, exibição de filmes, cyber café e praça de alimentação, esta priorizando comidas campistas.
Para viabilizar a Casa de Cultura, seria necessária a readequação arquitetônica interna, de mobiliário e equipamentos de Ao Livro Verde, tornando o espaço um atrativo turístico, histórico e cultural. Outra sugestão é que seja criada a Associação de Amigos da Livraria Ao Livro Verde (AALVE), sem fins lucrativos, com objetivo de receber, se responsabilizar e administrar recursos e verbas públicas ou privadas para investimento na Casa de Cultura. Também há a ideia de elaboração de um projeto executivo via Lei Rouanet, alternativa federal para incentivo a iniciativas culturais.
Outros itens da comissão mista propõem o tombamento de Ao Livro Verde pelo Instituto Estadual de Patrimônio Cultural (Inepac), além da aprovação de um projeto de lei pelo Congresso Nacional, reconhecendo a livraria como patrimônio histórico e cultural do Brasil. Atualmente, o prédio da livraria já é tombado pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Campos (Coppam), enquanto a própria livraria é reconhecida como patrimônio histórico cultural pela Câmara Municipal e pela Prefeitura. Um projeto similar tramita na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).
Também foi dada a sugestão de que se crie um grupo executivo de trabalho e acompanhamento de desdobramentos das atividades da campanha SOS Ao Livro Verde, a ser formado por representantes da Prefeitura, da Câmara e da sociedade civil. A Folha da Manhã e as demais empresas do Grupo Folha apoiam a campanha, também aderida por entidades como a Academia Brasileira de Letras (ABL), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e as associações Estadual e Nacional de Livrarias (AEL e ANL).
Outras sugestões foram feitas, como a instituição de 2024 como Ano Oficial da Livraria Ao Livro Verde, em comemoração pelo 180º aniversário do estabelecimento; a realização de uma sessão solene, na Câmara Municipal ou no Teatro Municipal Trianon, pelos citados 180 anos; a definição da Livraria Ao Livro Verde como tema central da Bienal do Livro de Campos no próximo ano; a criação do Dia Municipal do Livro e da Leitura, a ser celebrado anualmente no dia 13 de junho; a criação da Ordem do Mérito Livraria Ao Livro Verde, a ser anualmente conferida pela Câmara Municipal a autores campistas que se notabilizarem na publicação de livros sobre a cidade; a criação do Prêmio Ao Livro Verde, concurso anual aberto a produtores de textos, fotografias, vídeos e obras de arte direta ou indiretamente relacionados a Campos; a produção de um selo dos Correios pelos 180 anos da livraria; a implementação de um site profissionalizado de Ao Livro Verde, inclusive para comércio on-line; a produção de folheteria e documentário sobre a história da livraria; a realização de uma feira anual de livros, com venda de obras a preços módicos ou promocionais; e a denominação do trecho da rua Teotônio Ferreira de Araújo entre a avenida Sete de Setembro e a rua 21 de Abril, onde funciona o estabelecimento, como rua Ao Livro Verde.
— A gente entende a impossibilidade de o poder público colocar recursos públicos na iniciativa privada para pagar dívidas. Mas, há outras alternativas, que são propostas nesse relatório, que permitem ao Poder Executivo participar com recursos municipais, desde que sejam para outro ente e que não sejam para pagamento de dívidas — explica Adelfran Lacerda.
Até terça-feira, o relatório da comissão mista já contava com 222 páginas. Cerca de outras 40 ainda seriam adicionadas após a audiência pública, da qual também participaram o presidente da comissão, vereador Rogério Matoso; os também vereadores Maicon Cruz e Luciano Riolu; o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Campos, Edvar Júnior; o presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Campos, Genilson Paes Soares; e o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Campos (SindiVarejo), Maurício Cabral. Os vereadores Dandinho de Rio Preto e Bruno Vianna chegaram a marcar presença, mas não permaneceram até o final da audiência. No relatório apresentado pela comissão, há informações sobre a história da livraria e a sua importância cultural para a cidade, bem como matérias jornalísticas e menções em obras literárias, que comprovam tal relevância. A versão final do documento será entregue à Prefeitura para avaliação das propostas.

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