A Paulista e Safatle mostraram em o buraco ainda é mais embaixo
A quantidade de pessoas que internalizaram o ódio ao PT após o segundo governo Dilma, pela crise econômica que o país atravessou, e pelos casos de corrupção envolvendo os governos do Partido dos Trabalhadores, não pode ser desprezada. É uma enormidade de gente que perdeu o patamar social e econômico que haviam conseguido, que deixou de ter voz ativa na sociedade, ou que não encontrou resposta dos governos petistas em segurança pública.
Na Paulista, muitas bandeiras de Israel disputavam espaço com as do Brasil. Seja para conseguir visibilidade internacional, ou para aproveitar as críticas às falas recente de Lula em relação ao conflito no Oriente Médio, a causa sionista estava presente — mesmo que muitos talvez desconheçam seus reais significados e as relações com o cristianismo.
O domingo representou uma vitória do bolsonarismo, e reforçou a centralidade da liderança de Bolsonaro no movimento. E como disse Safatle, as esquerdas no Brasil precisam repensar estratégias e posicionamentos, inclusive pela vitória de Lula na última eleição, que se deu com uma margem extremamente apertada.
Se considerado o potencial de reprodução em redes sociais dos milhares de vídeos feitos no evento de hoje, e em como é exitoso o bolsonarismo em manejar e potencializar esse alcance, o domingo significa um grande problema para o progressismo brasileiro. A política é feita essencialmente de símbolos, discursos e imagens. E feita na capacidade de oferecer aos liderados e eleitores um propósito de vida, ou pelo menos algumas respostas. O bolsonarismo continua oferecendo isso a milhões de brasileiros.
E a democracia? Esse é um valor, embora essencial, abstrato. E a gravíssima ameaça que esse valor sofreu nas mãos de Bolsonaro parece não incomodar. O buraco parece ser mais embaixo.
Ontem, sábado (24), o professor de filosofia da USP, Vladimir Safatle, disse em uma entrevista na Folha de S. Paulo (veja aqui) que a “esquerda morreu e extrema direita é única força real no país”. Hoje, domingo (25), ficou claro que Bolsonaro ainda é um político com muita capacidade de mobilizar pessoas e possui uma liderança forte sobre um considerável número de brasileiros de direita, e talvez a totalidade da extrema-direita.
O que Safatle e o evento de hoje na avenida paulista (veja aqui) parecem concordar é que o bolsonarismo é um movimento de massa. E para se consolidar como tal soube oferecer respostas e segurança para uma quantidade enorme de pessoas que se sentem desprestigiadas e com medo. Não por acaso, algo construído com um verniz religioso.
O que Safatle e o evento de hoje na avenida paulista (veja aqui) parecem concordar é que o bolsonarismo é um movimento de massa. E para se consolidar como tal soube oferecer respostas e segurança para uma quantidade enorme de pessoas que se sentem desprestigiadas e com medo. Não por acaso, algo construído com um verniz religioso.
É evidente que a participação das igrejas pentecostais e neopentecostais tiveram papel preponderante no evento (comício?) de hoje — o pastor Silas Lima Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, foi um dos organizadores —, e na construção dessa mitologia em torno do ex-presidente Bolsonaro. Mas tentar reduzir a capilaridade política do bolsonarismo a isso é bastante ingênuo.
A quantidade de pessoas que internalizaram o ódio ao PT após o segundo governo Dilma, pela crise econômica que o país atravessou, e pelos casos de corrupção envolvendo os governos do Partido dos Trabalhadores, não pode ser desprezada. É uma enormidade de gente que perdeu o patamar social e econômico que haviam conseguido, que deixou de ter voz ativa na sociedade, ou que não encontrou resposta dos governos petistas em segurança pública.
Além do ódio ao PT e das imposições religiosas e moralistas impostas pelo bolsonarimso, a esquerda “se perdeu na construção das pautas progressistas” — como analisou Safatle na Folha de S. Paulo — em uma “ambição por uma transformação estrutural da sociedade”. Em resumo: ódio ao PT e o identitarismo anacrônico permitiram que as esquerdas, ou a “constelação de progressismos” — na definição do filósofo — no Brasil perdesse força e abrisse campo para a extrema-direita.
Por outro lado, o evento bolsonarista deste domingo não representou nem de perto a pluralidade do país. Foi um número considerável de pessoas na avenida paulista, mas com baixíssima representatividade. Embora não tenham números oficiais, visivelmente o público era composto, em sua maioria, por pessoas brancas, de meia-idade, ligados aos setores religiosos, do agro e do militarismo.
Por outro lado, o evento bolsonarista deste domingo não representou nem de perto a pluralidade do país. Foi um número considerável de pessoas na avenida paulista, mas com baixíssima representatividade. Embora não tenham números oficiais, visivelmente o público era composto, em sua maioria, por pessoas brancas, de meia-idade, ligados aos setores religiosos, do agro e do militarismo.
O bolsonarismo real não se mostra numeroso o bastante para definir os rumos do país, mas não pode ser desconsiderado. Há um movimento de massa com potencial para aglutinar forças e setores sociais em torno de ideias e ideais comuns. E o mais importante para esse movimento: existe uma liderança forte e carismática, centralizada na figura de Jair Messias.
Bolsonaro pediu que os manifestantes que fossem às ruas não levassem faixas e cartazes que tivessem ataques ao STF e aos poderes constituídos. E foi obedecido. E mesmo falando em tom combativo no trio elétrico, conseguiu manter o evento com o propósito de apoio à sua figura política.
Bolsonaro pediu que os manifestantes que fossem às ruas não levassem faixas e cartazes que tivessem ataques ao STF e aos poderes constituídos. E foi obedecido. E mesmo falando em tom combativo no trio elétrico, conseguiu manter o evento com o propósito de apoio à sua figura política.
Os governadores e congressistas que compareceram, e puderam falar e estar no púlpito-trio-elétrico, figuram como apoiadores, mas sem ainda demonstrar capacidade de assumir posições de lideranças mais amplas no bolsonarismo e na direita.
Bolsonaro assumiu o papel de perseguido e de injustiçado. Admitiu que havia um decreto golpista, mas que ele considerava constitucional (assista aqui). Buscou, em suma, demonstrar força para conseguir, se não uma anistia, a sensação e a necessidade de forças de direita estarem com ele, ou o protegerem.
Uma emocionada Michelle Bolsonaro (veja aqui), em tom pastoral evangélico, discursou e se mostrou mais uma vez alguém com talento, oratória e retórica suficientes para encantar as massas bolsonaristas. E reforçar o caráter messiânico do marido e a perseguição que ele supostamente sofre, assim como os cristãos eventualmente sofrem e sofreram na história.
Uma emocionada Michelle Bolsonaro (veja aqui), em tom pastoral evangélico, discursou e se mostrou mais uma vez alguém com talento, oratória e retórica suficientes para encantar as massas bolsonaristas. E reforçar o caráter messiânico do marido e a perseguição que ele supostamente sofre, assim como os cristãos eventualmente sofrem e sofreram na história.
Na Paulista, muitas bandeiras de Israel disputavam espaço com as do Brasil. Seja para conseguir visibilidade internacional, ou para aproveitar as críticas às falas recente de Lula em relação ao conflito no Oriente Médio, a causa sionista estava presente — mesmo que muitos talvez desconheçam seus reais significados e as relações com o cristianismo.
O domingo representou uma vitória do bolsonarismo, e reforçou a centralidade da liderança de Bolsonaro no movimento. E como disse Safatle, as esquerdas no Brasil precisam repensar estratégias e posicionamentos, inclusive pela vitória de Lula na última eleição, que se deu com uma margem extremamente apertada.
Se considerado o potencial de reprodução em redes sociais dos milhares de vídeos feitos no evento de hoje, e em como é exitoso o bolsonarismo em manejar e potencializar esse alcance, o domingo significa um grande problema para o progressismo brasileiro. A política é feita essencialmente de símbolos, discursos e imagens. E feita na capacidade de oferecer aos liderados e eleitores um propósito de vida, ou pelo menos algumas respostas. O bolsonarismo continua oferecendo isso a milhões de brasileiros.
E a democracia? Esse é um valor, embora essencial, abstrato. E a gravíssima ameaça que esse valor sofreu nas mãos de Bolsonaro parece não incomodar. O buraco parece ser mais embaixo.