Um outro traço — e consequente — de alguém que age com covardia é não assumir uma derrota. Ou não cumprir com os ritos necessários quando se perde. Ao final de uma corrida, os que não terminaram em primeiro ficam ao lado do vencedor, no pódio. Quem perde em uma luta, mesmo machucado, oferece o braço ao árbitro, sabendo que ele não será erguido.
Mas o covarde se esconde. Não tem coragem de se apresentar depois de uma derrota e é incapaz de aprender com os erros. A derrota o destrói; não ensina como faz com os não-covardes. O lutador honrado cura as feridas com aprendizado.
Além da necessidade de cumprir os ritos, o perdedor deve ter consciência que não teria ganhado sozinho, e também não sofreu uma derrota de forma isolada. Seja no esporte ou na política, sempre existem outras pessoas envolvidas que merecem receber do representante uma justificativa, um alento, uma promessa que aprendeu ou mesmo um pedido de desculpas. Não é vergonha perder, mas agir com covardia sim.
Quando o perdedor se isola e emudece — se acovarda, em última análise —, provoca desconfiança, favorece teorias sobre os motivos de sua derrota, estimula que seus apoiadores cometam atos atabalhoados em seu nome, clamando para que algo seja feito e a vitória seja declarada, mesmo na derrota posta.
Mas na persistência do silêncio, o perdedor acaba sendo reconhecido como alguém indigno de torcida ou de apoio direto. Quando deixa de cumprir mesmo as obrigações cotidianas pelo impacto da derrota, por um longo período, a covardia se alia à preguiça, à indolência. O derrotado, quando não reconhece a derrota, acaba perdendo mais que a batalha.
Há o silêncio que alivia. Quando o perdedor é alguém que causava malefício, e finalmente se cala e se isola, a sensação de melhora no ambiente é inevitável. Porém, silenciar-se pode causar frustração coletiva. E esse é um sentimento perigoso. É quando, além da sentir a derrota de alguém que seguia, é preciso lidar com a ausência do seu direcionamento, e se reagrupar e tentar novamente deixa de ser algo no horizonte e onde passa a valer qualquer coisa.
A frustração se alimenta da covardia do perdedor. E inimigos imaginários passam a ser os responsáveis pela derrota. Esses devem ser combatidos e até eliminados para que, enfim, o líder possa renascer e sua vitória ser aceita impositivamente. Pouco importa se houve ou não uma corrida ou uma luta justa. O que importa é derrotar esses inimigos que impediram o covarde de ter vencido.
O silêncio pode ser uma estratégia. E também pode ser um alívio. E ainda, o silêncio dificilmente é inocente quando sucede uma derrota. Mas o mau perdedor é covarde, mesmo agindo com objetivos futuros. Aprendizados são remédios. Covardia e ressentimento, venenos.