Não acaba com a vitória de Bolsonaro, nem começa com a eleição de Lula
Edmundo Siqueira - Atualizado em 21/10/2022 20:19
Reprodução


As pesquisas têm demonstrado que a distância entre os candidatos neste segundo turno vem diminuindo. Mostram também uma queda na rejeição de Bolsonaro e uma leve subida na de Lula. Em resumo, mostram um quadro muito, muito apertado.

Mas o processo eleitoral não é um fim em si mesmo. No conceito kantiano, a pessoa humana teria essa condição. Mas uma eleição não tem valor autônomo ou dignidade própria — é apenas meio para algo diverso, seja novo ou velho.

Após o próximo dia 30, o país continuará o mesmo. Seja quem for que vença a eleição, o Brasil terá essencialmente os mesmos problemas para enfrentar. A democracia em frangalhos, a cultura de ódio e preconceito implantada, problemas estruturais e econômicos, miséria e desigualdade.

Ruptura com a CF de 1988

A eventual vitória de Bolsonaro representaria a continuidade de um sistema que opera no conflito constante, no esgarçamento das relações institucionais e no agravamento da desigualdade. O modelo de sociedade que Bolsonaro defende colide com as bases que a Constituição de 1988 foi formada.

Esse modelo não promove a tolerância às diferenças, não busca uma sociedade “justa e solidária”, onde “erradicar a pobreza e a marginalização” seja uma prioridade, e que promova “o bem de todos, sem preconceitos”. Bolsonaro sempre governou para poucos, para os “escolhidos”, e dá claros sinais que assim continuará.

Caso a maioria decida, no próximo dia 30, continuar com Bolsonaro na presidência, estará sujeitando a democracia e a Nova República brasileira a um modelo distinto. Com a eleição de um Congresso conservador e planos já verbalizados para controlar o STF, a ruptura se torna não apenas possível como provável.

Coloca o retrato de velho outra vez

A eventual vitória de Lula agravaria a disputa de classes e colocaria uma parcela considerável de brasileiros em uma posição de abandono, com a sensação que perderam espaço e voz. Colocar “o retrato de velho outra vez” na parede da Alvorada pode significar um alívio para quem prioriza o estado democrático, mas será uma derrota inaceitável para o bolsonarista que acreditava estar lutando contra o mal, não contra um adversário político.

Lula já foi testado como governante e propõe o mesmo modelo de antes na relação com o parlamento e com as contas públicas. A mesma fórmula que mantém a alta concentração de renda e o capitalismo de compadrio. Em tempos de bonança, promove alguma mobilidade social e investimentos em educação. Em um cenário de instabilidade internacional como o que se apresenta, promove endividamento.

Direita radical x Centrismo radical

A missão de Bolsonaro com a reeleição é a ampliação de poder e o controle e submissão dos mecanismos republicanos de freios e contra pesos. Como meta auto imposta e exigida pelos apoiadores mais radicais, está conseguir poderes de um imperador para implantar as pautas de extrema direita e de dogmas religiosos.

A missão de Lula com a volta ao planalto é recolocar a democracia brasileira nos trilhos. Reimplantar uma cultura democrática no tecido social e permitir que vozes dissonantes tenham espaço. Reafirmar bases civilizatórias. Não é tarefa corriqueira, mas fundamental para governar um país dividido.

Para conseguir, Lula deverá governar com o centro, separando os radicais. Lula terá que fazer concessões e levar para a mesa de decisão gente que pensa diferente e que não aceitará tudo que o velho modelo propõe.

O que a história e a democracia esperam de Lula? Responsabilidade. De Bolsonaro? Derrota.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    Sobre o autor

    Edmundo Siqueira

    [email protected]