
A relativização da verdade é uma estratégia comum aos regimes autoritários. Para tanto, é preciso atacar quem a utiliza como ferramenta de trabalho, como a imprensa, a ciência e a historiografia. O bolsonarismo não é uma exceção.
Foi comprovado que, apenas após as vacinas, os casos de Covid diminuíram? Negue, e fortaleça o movimento anti-vacina (presente também em outros países). Incontestável que uma ditadura sangrenta assolou o país por mais de 20 anos? Relativize e diga que aqueles eram tempos mais seguros. Temos uma das polícias que mais mata no mundo? Aceite e proponha mudanças na lei para favorecer o excludente de ilicitude. Todas as pesquisas, em diferentes métodos, apontam o mesmo resultado final? Diga que são todas compradas e que só podem ser aceitas as favoráveis.
A verdade não é apenas negada, mas a manipulação precisa atingir o engajamento necessário para que uma mentira se faça presente repetidas vezes, até que ela se torne uma convicção pessoal.
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Apesar de uma dose de fanatismo, a maior parte dos ingredientes que faz apoiadores duvidar do — escancaradamente — comprovado tem relação com a identidade. É quando a “verdade” de um grupo se faz mais determinante que os fatos.
Aceitar que as pesquisas eleitorais utilizam métodos comprovados de aferição das intenções de voto (não de resultados, por óbvio), significa reconhecer que o opositor tem chances muito reais de vitória. “Opositor” no fanatismo político-eleitoral é chamado de “inimigo”, portanto, perder significa ser governado por alguém que deve ser eliminado e não vencido.
Questionar as verdades eleitorais, e das preferências populares, não começou com Bolsonaro. Aécio Neves, candidato do PSDB derrotado em 2014, pediu recontagem dos votos e duvidou do resultado. E pediu uma auditoria apenas “para encher o saco” (aqui) — palavras dele obtidas através de uma gravação telefônica interceptada.
O próprio PSDB passou a duvidar de suas verdades — e de sua identidade. Um partido tipicamente social-democrata, com as mesmas bases da social-democracia americana e europeia dos anos 1990, que passou a compreender que governos precisam ser fiscalmente responsáveis, principalmente depois do colapso soviético, e tem em seu cerne a defesa da democracia, aceitou o ato de Aécio em 2014 e o bolso-doria (aqui) de 2018.
É preciso perceber que para o eleitor fanatizado a verdade pouco importa. Seja ele de direita ou de esquerda. As estratégias eleitorais precisam levar isso em consideração, e a sociedade investir em educação libertadora. De verdade.
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Edmundo Siqueira
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