Incentivo à preservação do Mosteiro de São Bento em Campos
Matheus Berriel 21/10/2023 08:09 - Atualizado em 21/10/2023 08:10
Edvar Júnior entre Dom Inácio e Dom João Crisóstomo
Edvar Júnior entre Dom Inácio e Dom João Crisóstomo / Foto: Genilson Pessanha
Membro de uma família de Cazumbá e outras localidades na Baixada Campista, o arquiteto Edvar de Freitas Chagas Júnior encontrou no Mosteiro de São Bento, em Mussurepe, uma oportunidade para manter viva a sua relação com aquela região. Todos os convidados para a celebração pelo seu aniversário de 57 anos, neste sábado (21), receberam como sugestão de presente a doação de alguma quantia para ajudar a financiar intervenções na estrutura do prédio, construído no século XVII.
Fundado por Frei Bernardo de Montserrat e fechado para restauração em 2017, o Mosteiro de São Bento reabriu as portas em dezembro do ano passado. O marco dessa reabertura foi a chegada de uma nova comunidade monástica, oriunda do Mosteiro Nossa Senhora da Ternura, da cidade de Formosa, em Goiás. Foi justamente esse um dos movimentos que atraíram a aproximação de Edvar Júnior com o prédio.
— A comunidade monástica do mosteiro me abraçou e me tornou quase um beneditino. Não chego a essa qualificação, mas realmente me senti abraçado. Inclusive, descobri que a minha avó materna está sepultada no cemitério daqui, toda a origem da minha família é da Baixada. Então, esse histórico falou mais forte — explica Edvar, atual presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Campos.
Símbolo histórico da presença dos monges beneditinos na região, a partir de 1648, o Mosteiro de São Bento é tombado pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Campos (Coppam) há 11 anos. Em 2021, recebeu também o tombamento do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac).
— O tombamento pelo Inepac legitimou ainda mais a importância do patrimônio histórico; serviu para informar a população de como o prédio é valioso e precisa ser preservado — pontua a historiadora Graziela Escocard, coordenadora do Museu Histórico de Campos.
Possuindo uma estrutura imponente, com estilo eclético, o prédio consolidou-se como marco da arquitetura colonial religiosa e um símbolo de resistência. É o que destaca a também historiadora Rafaela Machado, diretora do Arquivo Público Municipal Waldir Pinto de Carvalho:
— Carregando as marcas do tempo, o Mosteiro de São Bento representa a materialidade do processo colonizatório empreendido pelas ordens religiosas através da Baixada Campista. Conhecer o mosteiro é conhecer a nossa história e a história dos elementos que formam a identidade do ser campista.
Outra integrante da equipe do Arquivo Público, a historiadora Larissa Manhães reforça o sentido de pertencimento presente no prédio. “Trata-se de uma das construções mais antigas e marcantes da formação histórica do que hoje chamamos de Campos dos Goytacazes. Os beneditinos chegaram à região ainda no século XVII, a partir do recebimento da escritura de composição passada em favor da ordem beneditina, dos jesuítas e dos sete capitães. Por isso, contribuir para a preservação do mosteiro e para a divulgação da sua história é contribuir para a preservação da própria história da cidade de Campos, em especial da nossa importante Baixada Campista”, enfatiza.
De fato, os beneditinos tiveram relevante atuação na formação da sociedade campista. Afinal, assumiram protagonismo na criação e na consolidação do povoamento, servindo o Mosteiro de São Bento, sede da ordem, como base para a integridade religiosa e econômica da popular “Baixada da Égua”.
— Além da sua importância arquitetônica, o Mosteiro de São Bento é também patrimônio cultural imaterial, pois personifica a fé e tradição do povo campista — reforça o pesquisador Genilson Paes Soares, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Campos.
— A presença dos beneditinos em terras goitacá indica a prosperidade econômica que estava por vir. A ordem se baseia no preceito de “orar e trabalhar”. Aqui na Baixada Campista, receberam parte das terras onde logo cresceu a cidade, o que gerou uma contenda de longos anos. Certo é que cultivaram as terras recebidas, arrendaram parte delas a outros, construíram igrejas, capelas e o mosteiro, ponto turístico obrigatório, ao menos para aqueles do turismo religioso — complementa a historiadora Sylvia Paes.
Em janeiro, o potencial turístico da Baixada Fluminense foi valorizado com o lançamento do Caminho da Fé, em parceria da CDL com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Estado do Rio de Janeiro (Sebrae-RJ), a Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) e a Diocese de Campos. Voltado a divulgar os pontos turísticos da região com expressão religiosa, o projeto teve resultado quase imediato. Em julho, mais de mil pessoas participaram da primeira edição do Pedal São Bento, criado com o intuito de que surja uma tradição similar à da Caminhada de Santo Amaro. No mesmo mês, o Caminho da Fé foi reconhecido como novo roteiro de turismo do Rio de Janeiro.
— A inclusão do notável Mosteiro de São Bento no Caminho da Fé foi um passo significativo em direção a compartilhá-lo com um público mais amplo. Ele não apenas atrai aqueles que buscam respostas espirituais, mas também cativa entusiastas da história e da arquitetura, bem como todos aqueles que desejam imergir na rica cultura local — pontua o gerente regional do Sebrae-RJ, Guilherme Reche.
A iniciativa foi muito elogiada por pessoas ligadas à preservação do patrimônio histórico e cultural campista, como o jornalista Edmundo Siqueira. “O Mosteiro de São Bento é mantido pelos monges beneditinos, e os tombamentos municipal e estadual protegem aquele patrimônio, mas é preciso criar esse pertencimento para toda a cidade”, comenta Edmundo.
Vinculada ao Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, a unidade de Mussurepe atualmente tem como prior Dom Inácio Maria Veiga. É ele quem encabeça o projeto de constante manutenção e reforma do prédio, cuja parte interna ainda apresenta problemas estruturais.
— Toda obra em um prédio histórico requer muito cuidado, sobretudo para cumprir o que exigem os órgãos de preservação. O prédio é tombado. Então, entrando em contato com esses órgãos e buscando parcerias, a gente tem apresentado os problemas e, junto com eles, buscado soluções, especialmente na parte financeira, do que fazer em relação a projetos. Estamos buscando a iniciativa privada também — relata Dom Inácio, que tem como braço direito Dom João Crisóstomo Maria, celeiro e assessor de Comunicação.
Nos últimos meses, com recursos próprios do mosteiro e apoio de fiéis, foi reconstituída a parede de um galpão do prédio, onde no passado funcionou um cinema. Toda a originalidade foi mantida. Também foram feitos retoques em alguns banheiros. A partir da captação de recursos e da aprovação de novas intervenções, futuramente, outras paredes poderão ser restauradas. Há ainda quatro sinos precisando de reparos, com o custo do serviço avaliado em R$ 25 mil.
— Estamos buscando a iniciativa privada. Além disso, como o prédio pertence ao Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, temos apresentado a eles as propostas em busca de soluções. Desde que chegamos aqui, viemos fazendo um apanhado de todas as situações, para colocar as partes em conversação e buscar soluções — finaliza o prior. De acordo com Dom Inácio, cumpre papel primordial nesse sentido o envolvimento dos moradores da Baixada, algo que tem crescido nos últimos meses.
Tendo em seu acervo vasto material de arte sacra, o Mosteiro de São Bento fica aberto a visitações de segunda-feira a sábado, das 9h às 11h e das 15h30 às 18h. O público que busca o prédio para realizar orações pode fazê-las todos os dias, das 4h às 20h. Já as missas acontecem de segunda a sábado, às 6h30, além dos domingos, às 11h30, quando tradicionalmente é maior o número de fiéis.
Paredes internas do prédio precisam de restauração
Paredes internas do prédio precisam de restauração / Foto: Genilson Pessanha
Paredes internas do prédio precisam de restauração
Paredes internas do prédio precisam de restauração / Foto: Genilson Pessanha

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