Edgar Vianna de Andrade - O pior cineasta do mundo
*Edgar Vianna de Andrade - Atualizado em 23/10/2024 07:30
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À procura de cineastas que criaram linguagem estética própria, assisti a vários filmes de Tim Burton. Entre eles, “Ed Wood”, de 1994, estrelado por Johnny Depp, seu ator predileto. De fato, Ed Wood dirigiu filmes péssimos, mas conheço coisas piores. “A geladeira diabólica” (1992), “O horror vem do espaço” (1958), “O ataque das sanguessugas gigantes” (1959), “As felinas da Lua” (1953) e o insuperável “Manos: as mãos do destino” (1966). O apreciador de filme B ou de “trash” está desafiado a assistir a esses filmes, que vi em 2020, por ocasião da reclusão provocada pela pandemia causada pela Covid-19.

De todos os filmes dirigidos por Ed Wood, considero “Glen ou Glenda” (EUA, 1953) uma produção muito corajosa para a época. Tendo Bela Lugosi, seu artista predileto, como uma espécie de comandante dos destinos humanos, Wood mostra o seu próprio drama. Embora fosse heterossexual, ele gostava de se vestir de mulher. Daniel Davis faz o seu papel e Dolores Fuller o de sua mulher, ela que foi a primeira esposa do cineasta. O filme promove uma discussão sobre as diferenças entre travesti, homossexual e hermafrodita. Seu caráter didático compromete a narrativa fílmica, quase beirando o documentário. Gêneros que não o masculino e o feminino eram, na época, considerados crime ou pecado, como se tratasse de uma perversão praticada por escolha pessoal.

“A face do crime” (EUA, 1954) conta novamente com Dolores Fuller e marca a estreia de Steve Reeves, mostrando o físico que o celebraria depois no papel de Hércules e de outros heróis musculosos. Lugosi não está presente neste. O roteiro gira em torno de ladrões assassinos e de cirurgias plásticas feitas de improviso na casa do paciente, contando apenas com um médico e uma enfermeira.

Em “A noive do mostro” (EUA, 1955), Lugosi retorna como cientista maluco. Na verdade, a noiva seria do átomo não se sabe como. Dolores Fuller mais uma vez comparece. Tor Johnson é o mostro. Um fiel servidor de Lugosi, o cientista maluco e ambicioso que mora num casarão abandonado no campo. O cartaz do filme é típico da época: um homem com fisionomia de louco carregando nos braços uma mocinha desmaiada, vestida com uma combinação sensual que realça os seios.

O mais conhecido e cultuado filme de Wood é “Plano 9 do espaço sideral” (EUA, 1959), que ele considerava a sua obra prima e o seu “Cidadão Kane”. De todos, é o mais desastrado, mas também o mais cultuado. Lugosi morreu no início das filmagens e será substituído por um ator que precisa esconder o rosto com um pano estendido no braço. Os discos voadores sobre Hollywood são manejados como marionetes e oscilam pra cima e pra baixo. Seus tripulantes têm o poder de ressuscitar mortos recentes. O substituto de Lugosi é um deles, assim como Vampira e Tor Johnson. A cabine de um avião é improvisada, parecendo um banheiro. Os diálogos são artificiais. O roteiro não fecha. Não se sabe o que os ETs desejam. Parece que apenas o reconhecimento de que existem pelos terráqueos. Não se sabe também exatamente como são derrotados.

No entanto, o filme se tornou um clássico na categoria B, ou seja, de baixo orçamento.

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