Edgar Vianna de Andrade - Um diretor minimalista
*Edgar Vianna de Andrade - Atualizado em 14/08/2024 10:09
Robert Bresson nasceu em Bromont-Lamothe, em 1901, e morreu em Paris, em 1999. Até aí, nada demais. Todos nascem e morrem. Ele foi longevo, algo não muito comum no século XX. Poucos outros tiveram uma vida longa, como ele. Bresson foi diretor de cinema. Nada de novo também, pois muitas pessoas foram e são diretores. O número só aumenta no nosso mundo virtual.

O diferencial é que Robert Bresson foi um grande diretor. Sua filmografia se limita a 14 filmes. Ele começou sua carreira em 1934, com o média metragem “Os negócios públicos” (“Les affaires publiques”) e a concluiu em 1983, com “L’argent”. Contava, então, com 82 anos. Ele estudou artes plásticas e filosofia, mas se interessou por cinema, começando sua carreira como roteirista. Durante a Segunda Guerra mundial, Bresson foi prisioneiro num campo de concentração nazista. Essa experiência marcou sua carreira de cineasta. Sua postura ascética e seu interesse por literatura marcaram sua obra. Entendendo o cinema como um movimento interior, ele não tinha a preocupação de se comunicar com o público. Daí sua obra intimista elogiada pela crítica e desprezada pelas pessoas acostumadas a filmes populares. Ele não queria ser incomunicável, mas apenas expressar suas concepções existenciais e estéticas.

Bresson tinha uma forte marca do catolicismo, mas seu ascetismo levou a crítica a chamá-lo de jansenista, postura católica do século XVII e XVIII, na França, que se aproximava do calvinismo em sua atitude moral. No cinema, Bresson traduz essa postura no minimalismo. Não se trata de um gênero ou de uma escola, como um crítico de cinema já propôs, mas de uma forma de conceber a obra. Bresson trabalhava com atores e atrizes não profissionais. Seus roteiros e fotografia são enxutos. Os filmes são curtos, com cortes e montagem incisivos, fixando-se no essencial, segundo sua concepção. A fotografia é seca. Ele se expressa de forma magnífica no preto-e-branco.

Em 1945, Bresson se afirmou como cineasta importante ao lançar “As damas do bois de Bologne”, com roteiro de Jean Cocteau. O filme se baseia em “Jacques, o fatalista”, de Denis Diderot, e foi elogiado por François Truffaut. Mas ainda não estamos diante do enxuto cinema de Bresson. Seu minimalismo aparecerá em “Diário de um padre” (1951), “um condenado à morte escapou” (1956), “Batedor de carteiras” (“Pickpockt”- 1959) e “O processo de Joana D’Arc” (1962), em que ele mostra, em 60 minutos, a paixão da santa francesa a partir do processo de sua condenação.

De todos, eu seleciono “Batedor de carteiras”, filme curto em que toda sua técnica de filmar está presente. Ele exigia que atores não profissionais repetissem as cenas à exaustão para alcançar o resultado esperado. Alguns de seus filmes foram incluídos em listas dos melhores do mundo. Embora não integrando o movimento “Nouvelle vague”, Truffaut e Godard o consideravam uma espécie de pioneiro no novo cinema francês. Eu não hesitaria em incluí-lo nesse movimento de renovação, recomendando “Pickpockt” como exemplo de sua técnica primorosa.

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