Guilherme Belido
19/03/2017 01:29 - Atualizado em 20/03/2017 23:30
Assunto mais facilmente assimilado quando dividido em duas ou três matérias, costuma, via de regra, se perder aos olhos do leitor quando escrito com intervalo superior a um dia. Na comparação, é como acompanhar uma novela que ao invés de ir ao ar todos os dias, apresenta um capítulo por semana. Ou seja: não há memória que aguente!
O tema ora tratado é, de certa forma, um desdobramento do texto de domingo passado – O estrago dos ladrões – e aborda o ano de 2017 como maduro para que a Lava Jato passe definitivamente o Brasil a limpo.
Se o desfecho das investigações é de interesse do País, tanto mais do Rio de Janeiro, unidade federativa diretamente afetada pela corrupção e particularmente pelo Petrolão, sendo o Rio – ressalve-se – sede da Petrobras.
Isso sem falar que Sérgio Cabral Filho, apontado pelo Ministério Público Federal como chefe da organização criminosa que saqueou os cofres públicos do estado, espécie de ladrão dos ladrões – réu em seis processos da Lava Jato e acusado por mais de 300 crimes –, governou do Rio por quase oito anos.
Destaque da proximidade
Passa quase despercebido que muito do que acontece no Rio reflete em Campos, bem como a circunstância amplamente favorável – quase um privilégio em se tratando de um País continental – de estarmos a 270 quilômetros da cidade mais importante do Brasil, centro político, cultural e turístico, ex-sede da República e considerada mundo afora como cartão postal do gigante sul americano. (*Ressalve-se, a distância relativamente razoável nos é providencial e vantajosa, sem a qual estaríamos na condição de periferia do ‘Grande Rio’ e arcando com os danos peculiares).
De mais a mais, se São Paulo tem o protagonismo econômico, o Rio é a nossa Nova York, nossa Paris e nossa Londres, mesmo não sendo capital – como NY não é dos EUA. Portanto, a proximidade com a cidade maravilhosa é sobremaneira interessante em diferentes aspectos. Em contrapartida, se o Rio vai bem... tanto melhor; se mal... tanto pior.
A nível de estado, significativa fatia de nossa gente trabalha nos órgãos públicos da Educação, da Saúde, da Segurança e de outros setores do executivo fluminense. Logo, se o Estado do Rio tem seus cofres saqueados, as contas desajustadas e atrasa salários, boa parte dos campistas é igualmente afetada.
Ligação estreita – Registre-se, ainda, o expressivo quantitativo dos que têm residência, filhos estudando, negócios e até trabalham no Rio – dividindo a semana entre lá e cá. Para muitos é a 2ª casa, onde se contempla as belas praias, a rica gastronomia, a cultura singular, a inconfundível vida noturna e tantas outras atrações.
À guisa de paralelo, quem mora em São Luís (Maranhão), está a 3 mil quilômetros do Rio – 3 dias de estrada para os que se dispõem a viajar 15/16 horas a cada 24. Para Manaus são 4 mil e 300 km e para Boa Vista passa dos 5 mil. É só fazer as contas: o voo direto Rio-São Luís, sem contar o tempo de aeroporto, é de 3 horas e meia. Mais que Campos-Rio de carro. De avião, cerca de 50 minutos.
Um privilégio que nem sempre nos damos conta: poder sair da planície goitacá num finalzinho da tarde, de carro, e tranquilamente jantar numa das cidades mais importantes e disputadas do mundo.
De olho na Lava Jato
Por todo esse conjunto de fatores (e muitos outros aqui não mencionados), Campos tem singular interesse que as investigações da Lava Jato caminhem para o desfecho, revelem quem é quem nos esquemas fraudulentos do estado e expulsem os infratores do seu cenário político-empresarial.
O Rio de Janeiro forte, saneado e livre dos criminosos do colarinho branco é um alento para os 92 municípios e notadamente para Campos, cuja tradição política e importância econômica explicam a destacada posição a que faz jus.