Dora Paula Paes
17/03/2017 20:58 - Atualizado em 20/03/2017 23:20
Os bons ventos da recuperação econômica ainda não varreram a planície goitacá. Essa é a contestação dos dois principais sindicatos de trabalhadores de Campos: comércio e construção civil. Em relação ao mesmo período do ano passado, a situação hoje é melhor com base em números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho. Para os dois maiores empregadores, no entanto, a linha negativa continua, se manteve em fevereiro e pode até piorar em março.
Com base nos dados do Caged, o economista Ranulfo Vidigal, diz que o saldo de emprego formal ainda permaneceu negativo em fevereiro. Em Campos, o saldo líquido foi negativo de 165 vagas puxados pela construção civil e pelo maior empregador individual da cidade — o comércio. “No primeiro bimestre, a capital do açúcar e do petróleo, já acumula pouco mais de 500 vagas perdidas”, aponta Vidigal.
No caso do maior empregador do município de Campos, o presidente do sindicato dos comerciários, Ronaldo Nascimento, diz que o número de rescisões está preocupando. “Foram 343 em janeiro, 368 em fevereiro e até o dia 16 de março registramos outras 284 rescisões de trabalhadores com mais de um ano de carteira. Por esses números já prevejo um 2017 pior do que 2016 para o setor do comércio. O patronal tem alegado queda de movimento, o que bate com os últimos números do IBGE, que mostraram queda no consumo de 6,2%”, disse ele.
Na construção civil a situação não é diferente. O quadro pintado pelo presidente do sindicato José Eulálio também não é nada bonito. Segundo Eulálio, em reunião com o sindicato patronal na semana passada, foi passado que não existe sinal de recuperação da construção civil com abertura de novos canteiros de obra por agora. “O sindicato patronal da construção civil informou que não existe previsão de novas obras. Eles estão apenas empenhados no que já haviam iniciado”, ressaltou, explicando que somente em fevereiro 600 demissões foram homologadas no sindicato.
Iniciativa pública travada — Inicialmente, os três pilares do setor público que poderiam injetar recursos e promover a contração de mão de obra em Campos estão combalidos. Não existe nenhuma obra prevista por parte do governo federal. A única obra do governo do Estado, a ponte que liga São Francisco de Itabapoana a São João da Barra, está parada. O município de Campos, por sua vez, restringiu as obras nesse início de governo. A atual administração pegou o município com um volume de dívidas de R$ 2,4 bilhões e vários credores, inclusive, do setor da construção civil, que estão descapitalizados.
Superintendente diz que tem muito a fazer
O superintendente de Trabalho e Renda, Gustavo Matheus, há pouco mais de dois meses no cargo, por outro lado, ao analisar os números do Caged atuais com os do ano passado, explica: “Em 2016, o percentual de desligamentos, segundo o Caged, foi de 62,97%, contra 37,03% de admissões. Se no bimestre de 2017 perdemos cerca de 500 vagas, como afirma o economista (Ranulfo Vidigal), no mesmo período do ano passado, ainda com a antiga gestão, o número foi de 2.024 vagas perdidas. O percentual desse ano, segundo o Caged, foi de 53,84% de desligamentos, contra 46,16% de admissões, ou seja, conseguimos em dois meses aumentar em quase 10% o percentual de admissões totais no município”.
Gustavo ressalta, ainda, que muito precisa ser feito e que as estratégias estão sendo montadas.
— Não estamos comemorando, nem celebrando nada, pelo contrário, entendemos que é preciso fazer muito mais, e, para isso, temos traçado estratégias para fecharmos o ano com um saldo positivo. Mas não é uma tarefa fácil reconstruir em dois meses mais de duas décadas de descaso e péssimas políticas públicas. E vale ressaltar que, hoje, no Espaço da oportunidade temos mais de 100 vagas disponíveis para o comércio varejista.