Dora Paula Paes
11/03/2017 15:59 - Atualizado em 17/03/2017 20:10
No início dessa semana o blogueiro da Folha 1 Saulo Pessanha informou que uma igreja evangélica, na avenida 28 de Março, fechou. Segundo ele, efeito cascata da crise. Como templos não pagam impostos, não tem folha de pagamento, deixa a entender que a situação é mesmo gravíssima. Mas, na ponta do lápis, o setor comercial, em Campos, é o que mais está sentindo. As vendas tiveram uma queda superior a 50% desde o início da crise, em 2015. Segundo números da secretaria municipal de Fazenda, 649 estabelecimentos encerraram as atividades em 2016 e outros 97 nos primeiros dois meses de 2017. A secretaria não especifica que tipo de empresa (lojas, indústrias, restaurantes, consultórios ou escritórios) está encerrando as atividades, mas o presidente da Associação Comercial e Industrial de Campos (Acic), José Luiz Lobo Escocard, diz que o comércio tem sido o mais afetado, principalmente o da área do centro da cidade. Sem fôlego financeiro, em uma recessão de mais de dois anos, muitos sucumbem.
Em contrapartida, os números da secretaria de Fazenda apontam que em 2016 também teve gente apostando em negócios, com a abertura de 3.422 estabelecimentos, e nos primeiros dois meses deste ano, outros 438. “Nós da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) temos certeza de que o número de lojas fechando é maior do que abrindo. Podem estar sendo abertos em volume maior escritórios, consultórios, mas casa de comércio não”, destaca o gerente executivo da CDL, Nilton Miranda.
Com grande repercussão, o blog Ponto de Vista, de Christiano Abreu Barbosa, também informou o fechamento de mais uma loja tradicional no centro da cidade, o Varejão das Fábricas da praça do Santíssimo Salvador. Muitos também lamentaram pela tradicional barbearia Rex, na rua 21 de abril, que fechou as portas depois de 80 anos de funcionamento no local. Mas, segundo um funcionário, o estabelecimento não sucumbiu à crise, apenas mudou de endereço.
— A CDL não tem um levantamento de quantos estabelecimentos comerciais estão fechando as portas. Sabemos que a situação financeira do país, do estado e do município não é boa. Já são mais de dois anos de recessão e sem perspectiva de melhora. É preciso fôlego financeiro para continuar trabalhando e é nesse momento que muitos sucumbem. Não tem uma reunião da CDL em que o assunto não seja abordado — destaca Miranda.
Rafael na CDL e Acic cria universidade
Nesta segunda-feira (13), o prefeito de Campos, Rafael Diniz, participará de uma reunião na CDL, e os assuntos crise e portas fechadas também deverão entrar na pauta. O presidente da entidade, Joilson Barcelos, já avisou que quer saber do prefeito a real situação do município e que, no encontro, não irá faltar sugestões e críticas também.
No caso específico do panorama negativo no setor comercial, o presidente da Acic se mostra muito preocupado. Segundo ele, a Junta Comercial informou que em 2016 foram encerrados 430 CNPJs. “Não significa que sejam todos de lojas, mas é um número grande”, diz José Luiz Lobo Escocard.
Escocard também revelou que durante uma caminhada, onde passou pelas ruas do Ouvidor, 13 de Maio, Nilo Peçanha e Beira-Valão, até próximo à Prefeitura, contou 63 lojas fechadas, dia desses. E ele aponta fatores que contribuem, junto com a crise, para o declínio. “Os comerciantes tradicionais não prepararam seus filhos para o comércio, tem a competitividade com shoppings e as franquias. Muitos têm o recurso para abrir, mas falta capital para manter”, diz ele.
Preocupada e na tentativa de ajudar, a Acic, junto com o Sebrae, segundo Escocard, estarão abrindo a Universidade do Comércio, para capacitação de empresários e comerciários.