Suzy Monteiro e Dora Paula Paes
21/02/2017 08:55 - Atualizado em 06/03/2017 11:54
Há quase três décadas, Anthony William Matheus de Oliveira construiu sua carreira política no que sabia fazer de melhor: falar. Por meio das rádios, comandava programas que, com o decorrer dos anos, passaram a ser instrumentos de ataque a adversários e âncora nos momentos mais conturbados de seu grupo político. Proibido pela Justiça de estar em Campos sem autorização, nessa segunda-feira (20) se viu obrigado a comparecer à audiência de instrução e julgamento em que é réu em uma das ações penais do caso Chequinho. O show do Garotinho foi montado no Fórum de Campos com louvores, ataques à imprensa e claque — bem menor do que quando tinha “caneta na mão”, como comentavam entre eles. O show tem nova data marcada: 3 de abril, para quando foi remarcado o julgamento.
Desde que a audiência foi marcada e ficou definido que o ex-secretário municipal de Governo deveria estar presente foram muitas as tentativas da defesa para evitá-la, mas obteve respostas negativas até no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). De acordo com decisão do juiz, Garotinho era obrigado a comparecer “sob pena de desobediência a uma das medidas cautelares que lhe foram imputadas, com o retorno do decreto prisional”.
Sem alternativa, ele chegou como réu ao Fórum de sua cidade natal e berço político. Acompanhado pela esposa, a ex-prefeita Rosinha, e de quatro de seus filhos, Garotinho foi recebido por militantes e ex-secretários municipais da gestão Rosinha, que foram prestar solidariedade.
Subiu ao segundo andar, onde funciona a Vara de Família e onde aconteceria a audiência. A pedido da defesa, ficou em outra sala aguardando a imprensa fotografar a sala de audiência e só depois de os jornalistas saírem, ele entrou, comendo biscoitos. Lá, ficou frente a frente com o juiz Ralph Manhães e com promotores de Justiça, entre eles, Leandro Manhães.
A claque do lado de fora foi dispensada para o almoço, com a orientação de retornar depois. A ex-prefeita também se ausentou. Antes, porém, houve louvores e orações na entrada do Fórum.
Dentro da sala de audiência, o trabalho dos advogados era dividido entre tentar argumentar com o juiz Ralph Manhães de que precisavam de mais tempo para apresentação da defesa prévia e conter Garotinho, que, a todo instante, interrompia e queria manifestar-se.
Chegou a falar com o juiz que tinha uma impressão totalmente diferente dele. Citando a Constituição de 1988, também fez um requerimento pessoal para que pudesse voltar a manifestar-se na imprensa sobre o caso Chequinho. “Sou ex-governador, prefeito duas vezes, deputado, secretário de Estado quatro vezes”. Foi negado.
Por várias vezes contestou sua própria defesa e ainda pediu para vir a Campos visitar a mãe, dona Samira. “Ela morou 11 anos comigo. Agora está naquela fase de perguntar: ‘Cadê o Bolinha?’”. Os promotores não se opuseram e o juiz liberou para que ele visitasse a mãe. Nessa segunda-feira. Para vir a Campos por qualquer outro motivo, somente com autorização judicial.
Os advogados de Garotinho afirmaram que não tiveram acesso a todas as peças do processo. Ralph Manhães acatou o pedido para apresentação da defesa prévia e fixou o prazo de 6 de março para isso. Caso não apresente, já foi nomeado como advogado dativo Amir Moussalem, que terá 48 horas a partir do dia 6 para apresentação. Até o próximo dia 23, os advogados poderão fazer cópia de mídias, que não conseguiram anteriormente por estarem criptografadas.
Os advogados também pediram o retorno do sigilo das gravações, o que o juiz concordou, ressaltando que, como já foram divulgadas, não via muito sentido.
A ex-prefeita voltou e, após alguns momentos, conseguiu entrar na sala, onde, a todo instante, beijava o marido. Ao saírem, ao som de “Noites traiçoeiras”, foram novamente saudados pela claque.
Antes de Garotinho, chegaram ao Fórum as testemunhas, que ficaram em sala separada. Uma delas, radialista, era escoltada por quatro policiais federais. As testemunhas, porém, só serão ouvidas a partir da próxima audiência.
Condenados e claque prestam solidariedade
Um grupo de simpatizantes da família Garotinho — ex-secretários de Rosinha e ex-vereadores como o fiel escudeiro do casal na Câmara Municipal de Campos, o ex-vereador Edson Batista — por volta das 12h dessa segunda-feira já ocupava a frente do Fórum Maria Tereza Gusmão para receber Garotinho.
A ex-prefeita Rosinha, no primeiro momento, não pode acompanhar o marido na audiência. Ela desceu as escadarias da casa de Leis, ao som da música “Faça um milagre em mim”. Do lado de fora, o grupo se uniu em um abraço coletivo em um ato de louvor, chamando a atenção de quem chegava ao Fórum para um dia normal de audiência.
O grupo de apoio repetiu o show solidário a Garotinho também na saída, ao coro “sou Garotinho com muito amor” e grito hostil à equipe da Inter TV Planície e de “fora rede Globo”.
O caso Chequinho tem desdobramentos na área eleitoral e criminal. Na esfera eleitoral, 11 vereadores eleitos foram condenados. Destes, apenas Vinícius Madureira (PRP) compareceu ao julgamento. Nessa segunda-feira, porém, vários dos condenados estiveram na frente do Fórum.
Um deles foi Thiago Virgílio (PTC), reeleito, mas não diplomado por já responder, na ocasião, a ação penal sobre Chequinho. Virgílio foi julgado em 21 de novembro. Ele não compareceu, sendo representado por seus advogados.
Quem também foi vista no Fórum foi a radialista e vereadora eleita, também não diplomada, Linda Mara Silva (PTC). Ela foi julgada em 18 de novembro e, a exemplo dos demais, não compareceu. Tanto Virgílio quanto Linda Mara chegaram a ser presos pela Polícia Federal no ano passado.
Audiência do caso Chequinho
Audiência do caso Chequinho
Audiência do caso Chequinho
Audiência do caso Chequinho
Audiência do caso Chequinho
Audiência do caso Chequinho
Audiência do caso Chequinho
Audiência do caso Chequinho
Audiência do caso Chequinho
Audiência do caso Chequinho
Audiência do caso Chequinho
Advogado afirma que não há provas contra
O advogado Fernando Fernandes, que representa o ex-governador Anthony Garotinho, divulgou nota, manifestando que a audiência agendada para essa segunda-feira foi desnecessária, pois não poderia ocorrer sem a defesa preliminar, conforme o TRE já havia orientado para o juiz. “A audiência foi útil somente para se constatar o que já havíamos apontado. Garotinho somente será escutado como último ato do processo”, concluiu.
Antes disso, ao deixar o Fórum, Fernando Fernandes afirmou que não existe nenhuma prova contra Garotinho ou qualquer outro envolvido no caso Chequinho. “A defesa preliminar já tem 380 folhas. Vamos apresentar, alegando uma série de cerceamento da defesa. Não foi apresentada antes porque nós não tivemos acesso a uma série de elementos, como computadores. Foi verificado que CDs que foram disponibilizados não abriam, não podiam ser copiados”, garantiu o criminalista, acrescentando que Garotinho “é o único brasileiro impedido de se manifestar sobre o processo a que responde”.
Ainda de acordo com o advogado Fernando Fernandes, com a apresentação da defesa, o juiz poderá decidir se irá ouvir as testemunhas. Segundo informações, eram 32 a serem ouvidas. As testemunhas de defesa ainda serão intimadas.
A audiência dessa segunda-feira foi acompanhada pelo presidente da OAB-Campos, Humberto Nobre, que atuou como observador. Semana passada, o juiz Ralph Manhães havia encaminhado ofício à OAB solicitando um advogado dativo, para o caso de a defesa de Garotinho não comparecer, o que não ocorreu.