Campistas buscam alternativas na crise
Matheus Berriel 30/01/2017 10:56 - Atualizado em 31/01/2017 15:50
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Criador de diversos bordões, José Abelardo Barbosa de Medeiros, o inesquecível “Chacrinha”, dizia que “na televisão, nada se cria, tudo se copia”. Ao longo do tempo, o célebre bordão inspirado na máxima de que “na natureza nada se perde, tudo se transforma”, do químico francês Antoine Lavoisier, foi comprovado também fora das telinhas. Em Campos, por exemplo, o soldador Jonatan da Silva Nascimento, de 36 anos, que está desempregado há seis meses, se inspirou em um vendedor de água vestido de garçom, que viu na TV, para não ficar sem dinheiro enquanto procura outro trabalho.
“Estava assistindo televisão e vi um cara vendendo água com roupa de garçom. Depois procurei na internet para ver mais e achei interessante. Como estou desempregado, percebi que seria uma boa ideia fazer como ele”, disse Jonatan, que também se vestiu de garçom e começou a vender água pelas ruas do Centro há duas semanas.
Casado e pai de três filhos, o campista pega no batente todos os dias por volta das 8h30. Até o final do expediente, que varia de acordo com a intensidade do sol, são vendidas cerca de 40 de garrafinhas de água. “É legal o contato com o público, o pessoal passa e acha interessante. Só que nem todo mundo compra. Não vendo tanto, mas está dando para eu ganhar um dinheiro”, contou.
Para Jonatan, o fato dele ter um personagem, no caso o garçom, acaba sendo o diferencial para levar vantagem em relação a outros vendedores. “A concorrência é grande, então temos que estar sempre diferenciando. No meu caso, a roupa de garçom está fazendo a diferença”, completou. Até agora, nenhum outro vendedor implicou com a criatividade de Jonatan. Muito menos os clientes, que amenizam o calor com a água geladinha e ainda se divertem tirando fotos do “garçom de rua”.
Locutor migrou do rádio para as lojas
Um conhecido provérbio popular diz que “a necessidade faz o sapo pular”. Foi o que aconteceu com Ruberlan Santos, de 37 anos, que atualmente trabalha como locutor nas portas de diversas lojas, divulgando os produtos. Sua relação com a locução começou há mais de 15 anos, em uma rádio comunitária. Foi surpreendido pelo fechamento da emissora, então foi para uma empresa, também como locutor. Nesta, acabou sendo demitido. Foi então que decidiu mudar o estilo de trabalho.
“Quando fui mandado embora, recebi convites para trabalhar. Como eu já conhecia uma galera que trabalha na rua, decidir vir também. É uma maneira de ganhar o nosso pão de cada dia”, disse o locutor, que atualmente está prestando serviços a uma loja de sapatos. “Quando fazemos a locução na loja, a diferença é muito grande, porque chama a clientela. Com a crise, o movimento fica enfraquecido. Então, a locução faz a diferença”, enfatizou.
No contato diário com os clientes das lojas, é natural que haja simpatizantes, mas também pessoas nem tão simpáticas assim. O jeito é levar no bom humor e ter educação. “Nós costumamos brincar com as pessoas. Já trabalhei em uma rede aonde uma mulher chegou reclamando que estava com dor de cabeça, para eu parar de falar. Educadamente, respondi que ela devia procurar outro lugar, porque eu não podia parar de falar; é o meu emprego”, completou.
Apesar de gostar do que faz, Ruberlan não esconde o desejo de retornar ao rádio. Porém, se a oportunidade não surgir, outras alternativas sempre serão consideradas. O mais importante é garantir a comida na mesa da família, que conta com a esposa e um filho. “Se eu tivesse oportunidade, voltaria para uma emissora. Já trabalhei no rádio, aprendi a gostar. Queria voltar, sim. Amo o que faço, amo a locução. Mas, também procuro coisas melhores, digamos assim”, finalizou.
Jovem vende suco com o pai na BR 101
Em alguns casos, os empregos alternativos viram fixos e acabam passando para outras gerações. Eberton Marques Vieira, de 19 anos, vende suco, água de coco e água mineral no trânsito, na BR-101, na altura do parque Leopoldina. Começou ajudando o pai, com 13 anos, e até hoje continua no local. É só o sinal fechar que ele atravessa a pista correndo, com várias garrafinhas. A felicidade é grande quando volta com as mãos vazias e o dinheiro no bolso.
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– Às vezes o movimento é bom, às vezes cai. Ultimamente, tem sido até bom, por causa de calor. Estamos vendendo muito suco e água. Quando o trânsito está grande, muita gente compra. Não vou mentir e falar que vendemos uma quantidade exagerada, mas saem de 50 a 100 garrafinhas por dia – conta Eberton, que também é conhecido como “Tinho do Passinho”, devido a alguns passos de dança que faz, arrancando risadas dos amigos.
A vida de Eberton é como a de muitos jovens brasileiros. Na escola, ficou apenas até a sexta série do Ensino Fundamental. Chegou a trabalhar como garçom, mas não ficou por muito tempo. Foi se encontrar mesmo ao lado do pai, onde gosta de passar o dia.“Quando me perguntam se tenho um sonho, falo que quero ficar aqui. É tranquilo, trabalho com meu pai, com pessoas que gostam de mim. Não tenho porque querer sair”, diz. É assim, na simplicidade e na descontração, que o ainda garoto Eberton vai entrando na fase adulta. “Não que a vida esteja assim tão boa, mas um sorriso ajuda a melhorar...”.

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